Mobilização denuncia execuções e cobra uso obrigatório de câmeras corporais pela Polícia Militar
Nesta sexta-feira, 21 de março, Dia Internacional pela Eliminação da Discriminação Racial, diversos países organizam atos com o intuito de denunciar as múltiplas desigualdades que atingem a população negra em todo o mundo.
No Brasil, uma das principais opressões alardeadas é a violência policial. Dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública demonstram que negros e negras têm quatro vezes mais probabilidade de serem mortos pela polícia do que brancos. Em 2023, quase 90% das vítimas decorrentes de intervenções policiais no país eram negras.
Somando à luta, Londrina sedia o ato “Queremos nossos jovens vivos” a partir das 18h, em frente ao Cine Teatro Ouro Verde, no Calçadão de Londrina. A mobilização é organizada pelo Centro de Direitos Humanos de Londrina, Coletivo Ciranda da Paz e os grupos que reúnem familiares de vítimas da letalidade policial na cidade, Justiça por Almas – Mães de Luto em Luta e Sem Justiça sem Paz.
“A finalidade do ato é somar todas as forças do país para chamar atenção dos nossos governantes e de toda a população, para verem que a violência de Estado que acontece aqui em Londrina, no Paraná, não é só daqui, é mesma de São Paulo, do Rio de Janeiro, da Bahia, do Rio Grande do Sul. Acontece em territórios diferentes, mas a história se repete e continua a mesma: pessoas pretas e pobres, em específico, nossos jovens, e não podemos permitir que continue assim”, diz o movimento Sem Justiça sem Paz ao Portal Verdade.
O coletivo explica que a escolha da data não é ocasional já que busca evidenciar as interseções entre o racismo e a violência cometida pelas forças de segurança pública.
“Os dados nos garante que não é só coincidência, não é à toa que a cada 23 minutos morre uma pessoa negra, não é à toa que as pessoas presas, em sua maioria, são pessoas negras, não é a toa que o nível da baixa escolaridade e evasão escolar são de pessoas negras”, assinalam.
De 2019 até o fim do ano passado, as ações das forças de segurança do Paraná deixaram 2.371 mortos, segundo levantamento divulgado pelo Ministério Público do Paraná. Apenas em 2024, foram registrados 413 assassinatos. A conta inclui ações da Polícia Militar, Polícia Civil e das Guardas Municipais, mas a maioria envolve a Polícia Militar (97%).

Estado omisso e reprodutor de violências
O grupo também aponta a omissão do estado na proposição de políticas públicas que garantam a inclusão e equidade, inclusive, na formação dos agentes.
“Tudo isso acontece porque esse mal está enraizado na história e formação do nosso país que não pensa política pública para todas e todos de forma plural e não assegura uma educação pública e inclusiva, e continuam usando corpos pretos para treinamento ostensivo da polícia militar, no processo de formação dos seus agentes ensinam a diferença de uma abordagem para com uma pessoa branca e uma pessoa negra. A diferença de como chegar nos bairros nobres e nas favelas”, advertem.
“Não pensam em políticas públicas que diminuam a superlotação nas cadeias ou formas de reverter isso. A violência do Estado, de forma geral, está atrelada ao racismo porque ele é estrutural e é isso que nos ensinam”, complementam.
Nesta quarta-feira (19), o Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania anunciou que está criando uma rede nacional para oferecer cursos sobre direitos humanos voltados às forças de segurança, agentes públicos e sociedade civil.
A iniciativa tem o nome de “Tecer Direitos” e prevê conteúdos em modalidades presencial, híbrida e a distância, com expectativa de lançamento até julho deste ano. Uma das prioridades do projeto é a capacitação de policiais.
“Sociedade precisa acordar”
Ainda, de acordo com o grupo, é finalidade da manifestação conseguir maior apoio da população no combate à violência policial. O coletivo também critica o sensacionalismo de meios de comunicação hegemônicos que frequentemente reproduzem estigmas.
“Somos estudantes, trabalhadores e trabalhadoras, filhos e filhas, mães e pais, tios, sobrinhos, primos e primas, temos uma vida ‘normal’ como qualquer outra pessoa, mas o luto e a violência do Estado nos atravessou de tal forma, que é o que nos impulsiona pra ir para as rua, é nossa força e sede de justiça, por que as pessoas que morreram eram pessoas como nós e devem ser tratadas como tal, não como marginais, animais ou coisa assim como a mídia policialesca as tratam”, observam.
Uma das reivindicações é pela incorporação de câmeras corporais nas fardas e viaturas da Polícia Militar em todo o Paraná (acompanhe abaixo-assinado aqui).
Em abril de 2024, o Paraná começou um teste operacional com 300 câmeras corporais, distribuídas entre os efetivos de oito cidades, incluindo Londrina. A quantidade representa somente 1,27% de todo efetivo, composto por cerca de 23 mil policiais militares.
Bratac pede socorro e justiça
O ato também acontece no momento em que moradores da Favela da Bratac, na zona oeste de Londrina, têm denunciado diversas ameaças e violações.
No último dia 15 de fevereiro, Kelvin dos Santos e Wender da Costa, de 16 e 20 anos, respectivamente, foram executados durante uma intervenção da Polícia Militar na comunidade. Desde então, familiares dos jovens, com apoio de movimentos sociais e populares, têm organizado protestos para expor a violência e clamar por justiça.
No entanto, os manifestantes têm relatado intimidações durante e após os atos. Nesta terça-feira (18), a mãe, o irmão e uma amiga de Wender chegaram a ser detidos após questionarem novas agressões (veja aqui).
“Infelizmente, a situação enfrentada hoje pela Bratac é a de sempre e tem se tornado cada vez pior por parte do estado que se omite. Mas também por parte da população londrinense, que tem se unido cada vez mais como tem acontecido na Bratac, felizmente a comunidade é unida, as mães não estão sozinhas e toda revolta é justa e legítima, seus filhos não voltarão mais e o que nos resta é continuar lutando por justiça”, reforça.