O mundo, neste século, nunca esteve tão ameaçado por um conflito mundial como agora. A Rússia está destruindo e ocupando o leste da Ucrânia. A Ucrânia, por sua vez, vem atingindo com armamentos do ocidente várias refinarias no território russo. Uma guerra que poderia ter sido evitada!
Os EUA apostam num conflito Taiwan e China como forma de diminuir uma hegemonia chinesa que se aproxima.
O ocidente, que proibia suas armas de atingir o território russo no início da guerra, agora permite o seu uso e diz que essa é uma ação legítima. O presidente da França, Emmanuel Macron, ameaçou levar tropas francesas para lutar com os Ucranianos. Para alguns especialistas, muitos já estão lá, inclusive, morrendo também.
Putin apresenta uma proposta de paz para acabar com a guerra, exigindo que Ucrânia não entre na OTAN, que as regiões ocupadas passem a pertencer à Rússia e que a Crimeia seja reconhecida como território russo, além do fim das sanções. Tal proposta é rechaçada pelo Ocidente e pela Ucrânia. Como resposta, Putin, cada vez mais ameaçado pelas armas ocidentais que chegarão em breve à Ucrânia, fecha acordos militares com a Coréia do Norte, segundo os quais mísseis de longo alcance poderão ser lhes fornecidos por este país, uma ameaça clara à frota e às bases militares dos EUA no Oceano Pacífico.
Estamos muito próximos de um conflito que pode escalar em questão de dias para um conflito nuclear. A Rússia já realiza exercícios com seu arsenal militar nuclear. O secretário-geral da OTAN Jens Stoltenberg pede que os armamentos nucleares da Europa fiquem em prontidão. A ficção virou realidade, estamos muito próximos de um Armagedom.
Mas é preciso rever alguns acontecimentos que a mídia corporativa ocidental insiste em esconder e mostrar que Putin tentou pelo menos seis vezes propor tratados de segurança para a Europa e evitar esse conflito, todos negados ou ignorados pelos conservadores neoliberais do EUA que, desde o fim da URSS, querem dividir o território russo para poderem se apropriar de suas riquezas a preço de banana, como fazem com grande parte do resto do mundo.
Em 2000, Putin falou diretamente com Bill Clinton, então presidente dos EUA, em encontro realizado no próprio Kremlin, em Moscou, da possiblidade de a Rússia entrar na OTAN. Clinton respondeu que era interessante, porém, na mesma noite, em novo encontro, respondeu que havia conversado com sua equipe e que não seria possível a entrada da Rússia na OTAN.
Em 2008, Dmitry Medvedev, então presidente da Rússia, propôs um tratado de segurança europeia pedindo o fim do unilateralismo da Otan; tal tratado foi negado.
Em 2014, os EUA financiaram um golpe militar na Ucrânia, que se iniciou com os protestos do chamado “Maidan”, depuseram o então presidente Viktor Yanukovych, eleito democraticamente e que mantinha boas relações com a Rússia. A Rússia não hesitou e anexou a Criméia, região que facilita o acesso ao Mar Negro. A região do Donbass, no leste da Ucrânia, se opôs ao golpe e assim iniciou- se uma guerra interna contra essa região de língua russa, na qual, de 2014 a 2021, estima-se mais de 14.000 mortos.
No decorrer de 2014, após o golpe, Putin apelou mais uma vez para uma paz negociada, o chamado Minsk 2, que foi abandonado pelos neoliberais dos EUA ao longo da década.
No final de 2021, Putin apesentou uma proposta de tratado entre os EUA e a Federação Russa sobre garantias de segurança. O ponto mais crucial desse tratado era o fim das tentativas dos EUA de expandir a OTAN para a Ucrânia. Tal proposta também foi rechaçada. A guerra da Ucrânia se iniciou em 24 de fevereiro de 2022, menos de três meses depois.
Em março daquele mesmo ano, Rússia e Ucrânia quase fecharam um acordo de paz mediado pela Turquia, mas, no final daquele mesmo mês, a Ucrânia abandonou o acordo mediante pressão do ocidente neoliberal, representado naquele momento por Boris Johnson, primeiro ministro do Reino Unido na época. De lá pra cá estima-se que a Ucrânia tenha perdido mais de 600 mil soldados, parte significativa do país está em ruínas e é hoje o terceiro maior devedor do Fundo Monetário Internacional – FMI.
No mês de junho agora, Putin propôs mais uma vez um acordo de paz, que passa pela neutralidade da Ucrânia em relação a OTAN, que esse país permaneça livre de armas nucleares, que seja desnazificado (já que, em grande parte, neonazistas tomaram conta do governo e das forças armadas ucranianas), que seja relativamente desmilitarizado, que as regiões ocupadas pela Rússia sejam reconhecidas como território russo e que caiam as sanções econômicas impostas à Rússia.
EUA, OTAN e Ucrânia rejeitaram tal proposta mais uma vez. Se a paz se torna cada vez mais algo mais distante e impossível, tal condição não pode ser imputada ao líder russo que, como vemos, vem a longo tempo tentando um acordo de paz e segurança para a Rússia e Europa.
O Ocidente insiste que é possível vencer a Rússia, e liberaram o uso de suas armas em solo russo, acirrando ainda mais a escalada da guerra. No último fim de semana, um míssil de fragmentação de fabricação estadunidense atingiu uma praia com civis na Criméia, matou quatro e feriu mais de 140 civis. A Rússia comunicou que os EUA serão retalhados pelo fornecimento e pela operacionalização desse armamento, que é proibido pelas convenções de guerra devido ao estrago que provocam em campos de batalha, imaginem contra civis!
A promessa que a OTAN não se expandiria na Europa após a queda da ex-União Soviética não foi cumprida. Todas as propostas da Rússia de um possível tratado que garantisse a segurança para Europa também foram descartadas pelo governo estadunidense, que, desde 2008, com a guerra da Geórgia, visa desestabilizar a Rússia.
Zbigniew Brzezinski, influente geopolítico dos EUA, já apontava, no fim do século XX, que a Rússia teria que ser dividida pelo menos em três países para que o capitalismo pudesse ter acesso a seus mercados, suas armas e seus recursos naturais, como o gás, o petróleo e demais minérios. Tudo caminhava bem até que Putin assumiu o poder em 1999 e, diante de um intenso empobrecimento e de uma significativa desestruturação da nação russa, causados pelas políticas neoliberais dos anos 1990, resolveu virar o jogo. Passou a investir no desenvolvimento industrial russo, na recuperação das forças armadas e em uma política de desenvolvimento nacional, livres das garras do sistema financeiro ocidental.
O fim do dólar como moeda do mundo é apenas uma faceta da decadência do Ocidente, que não quer admitir que Rússia e China se coloquem como os grandes protagonistas do fim da hegemonia de um capitalismo financeiro ocidental.
Vladimir Zelensky, o humorista marionete do império, deve ser preso logo que a guerra terminar por destruir seu país e mandar milhares de jovens para uma guerra que poderia ter sido evitada. Mais de 600 mil ucranianos foram mortos desde 2022. É o sistema financeiro que manda agora na Ucrânia. A população ucraniana não tem mais condições de opinar sobre seu destino. A oposição da Ucrânia ou está presa ou fora do país.
A única salvação de Zelensky e do império em decadência é escalar a guerra. De preferência levando toda a Europa e talvez o mundo para o conflito, uma última tentativa de se buscar a salvação impossível. Já que começou a perder no jogo, a melhor saída é colocar fogo no tabuleiro!
Os vassalos líderes europeus, excelentes funcionários do sistema financeiro mundial, não se importam nem um pouco com os perigos de uma guerra que escala, inclusive na esfera nuclear, na qual os principais alvos serão, mais uma vez, as principais cidades europeias. Essas, com a velocidade dos misseis hipersônicos, estão tão seguras quanto baratas num galinheiro abarrotado de animais famintos.
A cada dia, o risco aumenta, ainda mais com novos ataques no território russo atingindo populações civis. É esperado, nesse verão no hemisfério norte, um ataque de bandeira falsa, para justificar o aumento da escalada da guerra. Os arsenais nucleares estão em prontidão nos dois lados e, em poucos dias, o mundo poderá estar envolto em uma guerra de dimensões inimagináveis.
O sistema financeiro internacional faz “roleta russa” com o mundo para tentar acabar com os russos mas são as nossas cabeças que estão na linha de tiro dessa ação irresponsável.
Fábio da Cunha
Professor Dr. Fábio César Alves da Cunha é geógrafo e docente associado do Departamento de Geografia da Universidade Estadual de Londrina UEL. Possui mestrado em Planejamento Ambiental (UNESP), Doutorado em Desenvolvimento Regional (UNESP) e Pós-Doutorado em Metropolização pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Trabalha com geografia urbana e regional, planejamento urbano e ambiental, geopolítica e metropolização.