Levantamento da RPC considera emendas parlamentares individuais e de bancada ao estado e a municípios de janeiro do ano passado a maio de 2024
Nenhum deputado federal ou senador do Paraná enviou dinheiro ao estado ou municípios para prevenção a desastres naturais e enfrentamento de mudanças climáticas de janeiro de 2023 a maio deste ano.
É o que mostra levantamento feito pela RPC no Portal da Transparência do governo federal. A pesquisa analisou as emendas parlamentares individuais e de bancada destinadas pelos congressistas e não identificou nenhuma relaciona a essas duas áreas.
A bancada paranaense no Congresso Nacional tem 30 deputados e três senadores.
Há pelo menos dez dias o país acompanha os efeitos das enchentes históricas no Rio Grande do Sul. Nos últimos anos, o Paraná também registrou vários eventos climáticos extremos:
- 2020: crise hídrica impacta todo o estado. A falta de chuva deixou os reservatórios com níveis muito baixos. Em Curitiba e Região Metropolitana, o racionamento só terminou em janeiro de 2022.
- Outubro de 2021: o excesso de chuvas causou estragos em todo o estado. Os temporais deixaram mais de 500 mil imóveis sem luz. Foram registrados deslizamentos de pedras na serra do mar que causaram o bloqueio da BR-277.
- Novembro de 2022: mais chuvas. Duas pessoas morreram depois de um deslizamento na BR-376, em Guaratuba, no litoral. Por causa dos riscos de novos deslizamentos, outros trechos de rodovias foram bloqueados, prejudicando o acesso a várias cidades.
- 2023: mais desastres naturais. Em outubro, Cascavel, no oeste do estado, registrou um tornado, com ventos de até 250 km por hora. O excesso de chuvas causou alagamentos em União da Vitória, Rio Negro e São Mateus do Sul. Muita gente precisou sair de cada. Estradas também foram interditadas. Curitiba bateu recorde de temperatura. A capital que costuma ficar mais fresquinha quando começa a anoitecer, bateu os 35º às 20h no dia dois de dezembro.
Defesa Civil: número de ocorrências aumentando
O levantamento também analisou dados da Defesa Civil do Paraná de ocorrências relacionadas ao clima, como tempestades, enxurradas e secas. E o número de ocorrências vem crescendo ano a ano.
O número de ocorrências do tipo tem crescido de 2020 para cá. Quase dois milhões de pessoas sofreram algum tipo de impacto e 26 morreram no período por causa de eventos climáticos.
Cidades do Paraná receberam dinheiro do governo federal
No ano passado, o governo federal repassou o valor total de pouco mais de R$ 18,1 milhões a 25 municípios paranaenses para ações de gestão de risco de desastres e de proteção e defesa civil.
As cidades que mais receberam recursos foram:
- Alvorada do Sul: R$ 3.161.778,76.
- União da Vitória: R$ 2.991.027,25.
- Juranda: R$ 2.892.810,1.
A RPC procurou as três prefeituras para saber qual foi a destinação do dinheiro público.
A prefeitura de Alvorada do Sul disse que o dinheiro foi usado para recuperação da cidade depois que ela foi atingida por ventos de 150 km por hora, em 2021. O repasse, segundo o município, bancou a reconstrução de barracões, o fornecimento de telhas e de cestas básicas, por exemplo.
Em nota, a prefeitura de União da Vitória informou que a verba foi recebida após a enchente do Rio Iguaçu que atingiu a cidade no ano passado. O dinheiro, afirma, foi usado para compra de cestas básicas, kits de higiene pessoal e de limpeza, além de itens como colchões, cobertores e combustível.
O município informou ainda que, em conjunto com o governo do estado, está sendo feita a contratação de uma empresa para fazer estudos de intervenções no Rio Iguaçu que possam amenizar as enchentes na cidade.
A prefeitura de Juranda informou que o dinheiro está sendo usado para a reconstrução do ginásio de esportes da cidade, destruído por uma chuva de granizo em 2022. A previsão é que a obra fique pronta até o mês que vem.
E a prevenção?
Apenas duas cidades receberam ou vão receber dinheiro federal para projetos de prevenção de inundações, enxurradas e alagamentos entre 2023 e 2024:
- Curitiba: recebeu R$ 1,1 milhão;
- São José dos Pinhais: R$ 3,1 milhões.
Luciene Pimentel, especialista em gestão de risco de desastres e mudanças climáticas, explica que, em geral, os gastos com a prevenção são muito menores do que os com a recuperação das cidades.
“Nós precisamos fazer isso com antecedência. Precisa ter um planejamento, uma organização que permita isso. Agora, já não é mais uma coisa que está escrita em relatórios ou que alguém possa dizer que não acredita. São fatos e dados”, alerta.
Fonte: G1