Taxa de homicídios entre a população vem caindo, mas ação da PM, da Polícia Civil e das Guardas Municipais tem sido cada vez mais letal
O governo do Paraná divulgou na quarta-feira (19) que o estado teve a menor taxa de homicídios da história em 2024: foram 1.663 casos entre janeiro e dezembro do ano passado, uma taxa de 14,06 homicídios por 100 mil habitantes, a menor desde o início da série histórica, iniciada em 2007.
Verificada desde 2012, a tendência de queda no número de mortes entre a população civil expõe outra face da segurança pública no estado: a cada ano aumenta a participação das forças de segurança (Polícia Militar, Polícia Civil e Guardas Municipais) nas ocorrências que resultam em morte.
No ano passado, segundo levantamento do Ministério Público do Paraná (MP-PR), 413 pessoas morreram em ações das forças de segurança, a maioria delas classificadas como situações de confronto. Somando-se o total de mortes violentas no estado registrado em 2024, 20% ocorreram em ações da Polícia Militar, da Polícia Civil ou das Guardas Municipais. A maioria tem ligação com a PM, como indicam os dados do MP-PR: dos 433 confrontos de 2024, 424 (98%) envolveram a corporação.
Em 2023, as forças de segurança estiveram presentes em 15,7% das mortes violentas registradas no Paraná, levando-se em conta os dados da Secretaria de Estado da Segurança Pública (Sesp) e do MP-PR; em 2022, o índice foi de 23,8%; em 2021, de 17,8%; em 2020, de 16,8%; e em 2019, de 14,7%.
Os dados da Sesp mostram que houve uma queda de 14,9% no número total de homicídios desde 2018. Quando comparado a 2023, o ano de 2024 teve uma queda de 9,5%. Em relação a 2010, a taxa caiu pela metade (foi de 30,4 mortes por 100 mil habitantes naquele ano).
2019
Homicídios dolosos – 1.780
Mortes em ações das polícias e da GM – 307
2020
Homicídios dolosos – 2.008
Mortes em ações das polícias e da GM – 408
2021
Homicídios dolosos – 1.913
Mortes em ações das polícias e da GM – 417
2022
Homicídios dolosos – 2.025
Mortes em ações das polícias e da GM – 483
2023
Homicídios dolosos – 1.837
Mortes em ações das polícias e da GM – 343
2024
Homicídios dolosos – 1.663
Mortes em ações das polícias e da GM – 413
Protestos em Londrina
A mortes dos jovens Kelvin dos Santos, de 16 anos, e Wender da Costa, de 20, durante uma abordagem da Polícia Militar no sábado (15), em Londrina, gerou protestos na cidade. Durante três dias, a cidade do Norte do estado teve avenidas bloqueadas e ônibus incendiados. Na terça-feira, a Sesp anunciou uma operação integrada na cidade, com efetivos da Rone e do Choque que foram deslocados de outras cidades.
O caso ocorreu por volta das 22h30 de sábado, no Jardim Nossa Senhora da Paz. Os jovens estavam em um carro e tinha ido até uma distribuidora de bebidas. Segundo a PM, o veículo era parecido com um carro envolvido em furtos a residências. “Na tentativa de abordagem houve reação por parte dos suspeitos, o que culminou em confronto armado. Sendo de pronto acionado socorro médico”, afirmou a PM. De acordo com a nota da corporação, houve troca de tiros e o carro ocupado pelos jovens acabou batendo em outro veículo.
Inconformados, familiares dos jovens fizeram um protesto nesta quarta-feira na frente da Rede Massa em Londrina (emissora que pertence ao pai do governador Ratinho Júnior). Os familiares acusavam o apresentador conhecido como Macedão de repetir a versão da PM sem dar voz aos parentes das vítimas. Macedão classificou as manifestações como “atos de terrorismo”.
“Meu filho não vai voltar. Queremos que o coronel e a perícia falem conosco. a perícia tem que ser feita por outra pessoa. Tem que fazer perícia no carro. Precisamos de uma pericia que ajude a provar a inocência dos meninos, que não estavam com nada”, disse a mãe de Kelvin. “Se estavam roubando, que provem pra gente. Eu entrei no IML, foram disparados 15 tiros de fuzil. Por que esses meninos mereciam 15 tiros de fuzil? Ninguém merece isso”. Ela disse ainda que foi agredida pela PM durante o protesto realizado no domingo. “Foi uma execução, não foi um confronto. Estão dizendo que nossos filhos eram do crime organizado. Nós não somos crime organizado”.
Fonte: Jornal Plural