A Secretaria Estadual de Educação (SEED) está considerando suspender a abertura de novas turmas de cursos técnicos na região de Londrina para o segundo semestre de 2024. Se confirmada, essa decisão afetará diretamente ao menos oito cursos em sete instituições de ensino técnico e profissionalizante nas cidades de Londrina, Ibiporã e Porecatu. Além disso, outros nove cursos estão sendo analisados pela SEED e podem não ser ofertados no próximo ano.
Em outubro do ano passado, a SEED divulgou uma nota afirmando que “o planejamento dos cursos para o ano de 2024 ainda se encontrava em fase de desenvolvimento e não foi finalizado”.
Na época, a Secretaria comunicou que a decisão de liberar novas turmas dependeria da demanda de estudantes interessados e que “cursos que não atingissem o número mínimo de trinta e cinco inscritos poderiam não ser autorizados”.
Seis meses após essa declaração, a análise permanece em aberto, deixando a comunidade escolar sem uma resposta definitiva. A possível suspensão dos cursos tem gerado grande preocupação entre alunos e educadores, que veem na educação técnica uma oportunidade para melhorar as condições de vida e trabalho.
A professora de sociologia, Vani do Espírito Santo, integrante da Secretaria de Formação e Cultura da APP-Sindicato Núcleo Londrina e docente em um dos colégios ameaçados, destaca a importância da formação técnica para jovens e adultos.
“O ensino técnico dá a possibilidade para não só filhos e filhas da classe trabalhadora, para a juventude, mas mesmo para a classe trabalhadora, de ter maiores possibilidades, de ter uma vida melhor”, diz.
Para ela, os cursos também são necessários no desenvolvimento regional e nacional, além de oferecerem maior inclusão social e oportunidades para aqueles que desejam retomar os estudos. “Quanto mais investimos em educação, melhor nossa sociedade se desenvolve. No caso da educação técnica, jovens que não conseguiram passar no vestibular, muitas vezes devido à exclusão inerente ao processo seletivo, encontram nos cursos técnicos uma chance de alcançar maior mobilidade social”, explica.
Em Londrina, as instituições afetadas incluem o Colégio Estadual Vicente Rijo (Técnico em Administração e em Recursos Humanos), o Colégio de Aplicação Professor José Aloísio Aragão (Enfermagem do Trabalho), o Instituto de Educação Estadual de Londrina (Técnico em Serviços Jurídicos), o Centro Estadual de Educação Profissional Professor Maria do Rosário Castaldi (Técnico em Administração) e o Colégio Estadual Polivalente (Técnico em Nutrição e Dietética). Em Ibiporã, o Colégio Estadual Olavo Bilac (Enfermagem) e, em Porecatu, o Colégio Estadual Ricardo Lunardelli (Técnico em Segurança do Trabalho) também podem ser afetados.
Alunos terão menos chances de profissionalização
Outra preocupação reside nos impactos de longo prazo na comunidade escolar. Educadores temem que o fechamento dos cursos possa resultar em uma redução nas oportunidades educacionais disponíveis para os estudantes. Isso poderia limitar suas perspectivas de carreira e prejudicar sua capacidade de competir no mercado de trabalho.
“Antes de você abrir um ensino técnico, você faz uma pesquisa na região, das necessidades da população. Nenhum curso é aberto, assim, porque alguém lá teve a ideia de abrir. Então, os cursos técnicos são uma necessidade, como eu já afirmei, para o desenvolvimento da região. E quando você fecha esses cursos técnicos, você está condenado para a região. Há um não desenvolvimento em todas as áreas, impossibilitando uma maior capacidade de mobilidade social para essa comunidade”, pontua Vani Espírito Santo.
Segundo a professora, a falta de investimentos e a tendência de tratar a educação como mercadoria afetam diretamente a classe trabalhadora, que não pode arcar com os custos de cursos técnicos privados.
“Eu trabalho no CEP Castaldi há 19 anos e, todo ano, temos que nos preocupar com isso. Já tem o corte de gastos na questão dos laboratórios, comprar alicate, comprar algumas coisas básicas para os cursos técnicos. O Estado não vem investindo. E agora cortando de vez”, observou.
“A nossa classe trabalhadora necessita desses cursos técnicos. A renda é para comprar arroz, feijão, pagar água, pagar luz, comprar remédio, pagar aluguel. Não dá para pagar mais um curso técnico”, finalizou a docente.
Matéria da estagiária Joyce Keli dos Santos sob supervisão.