A privatização da Copel é apontada como a principal causa das quedas de energia que têm afetado a produção industrial e agrícola no Paraná. Esta é a avaliação de parlamentares e representantes de entidades que participaram de uma reunião do Bloco da Agricultura Familiar, realizada na Assembleia Legislativa do Paraná (Alep).
Durante o encontro, produtores relataram prejuízos decorrentes das interrupções frequentes no fornecimento de eletricidade, incluindo a perda de toneladas de peixe, frango, suíno e leite. A Copel foi convidada, mas não enviou representantes. Desde a privatização, a empresa caiu três posições de distribuidoras de energia.
Parlamentares e entidades cobram soluções
A reunião contou com a participação de representantes de sindicatos, movimentos sociais e entidades do setor agrícola e industrial, além de vereadores de Francisco Beltrão, sudoeste do Paraná, e deputados estaduais. Entre os presentes, estavam integrantes do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), da Federação da Agricultura do Estado do Paraná (Faep), da Federação Nacional dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura Familiar do Brasil (Fetraf), da Federação dos Trabalhadores Rurais Agricultores Familiares do Estado do Paraná (Fetaep) e da Federação das Indústrias do Paraná (Fiep). O encontro foi proposto pela deputada estadual Luciana Rafagnin (PT).
A deputada destacou que as interrupções nas quedas de energia têm crescido desde 2023 e citou os mais de 28 mil pedidos de indenização feitos por agricultores apenas naquele ano. Desses, pouco mais de 7 mil foram atendidos pela Copel.
Rafagnin destacou que uma empresa que fatura tanto tem o dever de prestar serviço de qualidade. “Essa é a reclamação que temos recebido. A Copel não tem investido na manutenção, por isso as quedas continuam. Há casos em que a fiação tem mais de 40 anos e recebe pouca manutenção. Além disso, a demora para religar a energia é muito grande. Enquanto a Copel tem lucros bilionários, os agricultores acumulam prejuízos milionários”, criticou.
Impactos na produção agrícola
Jeffrey Albers, gerente técnico da Faep, destacou que os produtores são altamente dependentes de energia para suas atividades, especialmente na pecuária e na produção de tilápias. Segundo Albers, o estado tem se destacado na produção e as ausências de energia causaram mortalidade de animais, o que gerou prejuízos pro setor de modo geral.
“Recebemos demandas diárias do setor produtivo e temos um diálogo permanente com a Copel. Eles nos atendem na medida do possível, mas não é suficiente. Há necessidade de aumentar as equipes de atendimento para reduzir o tempo de resposta”, afirmou.
Quedas frequentes e prejuízos para a população
A piora nos serviços da Copel desde a privatização também foi percebida pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). No ano da venda, a empresa caiu três posições no ranking de qualidade do fornecimento de energia.
Na prática, quem sente os efeitos são os consumidores. É o que aponta o vereador Marcos Folador (PT), de Francisco Beltrão. Ele listou cinco problemas que a população levou aos parlamentares da região.
“Podemos sintetizar que o primeiro problema é a frequência das quedas de energia, o segundo são os danos causados aos eletrodomésticos, os prejuízos econômicos, a perda de alimentos, e a falta de água. Por fim, a falta de comunicação”, relata o vereador.
Efeitos da privatização
Para os deputados Professor Lemos (PT) e Arilson Chiorato (PT), a piora no serviço se deve à venda da Copel e à demissão de 1,2 mil funcionários via Programa de Demissão Voluntária (PDV).
“O Paraná não tem falta de energia. Produz e sobra, vendendo energia para outros estados. Como que a Copel deixa faltar energia para os paranaenses?”, quentiona Lemos. Ele afirmou que o problema não está na geração, mas na distribuição.
Lemos também destacou que a terceirização do atendimento não tem sido eficaz, pois a formação de eletricistas leva, no mínimo, seis meses. “A Copel terceirizou tudo e não tem mais mão de obra qualificada. Avisamos que a privatização prejudicaria a população. Agora, a empresa maximiza os lucros enquanto compromete o serviço”, criticou.
Chiorato reforçou que a privatização é o causador das quedas de energia. “A Copel perdeu qualidade, mão de obra, a necessidade de atender o povo paranaense. Após ser vendida, demitiu 1,2 mil funcionários, pessoas que entendiam de rede e sabiam identificar as alterações na tensão da rede. O resultado é a demora do atendimento”, afirmou.
Outro lado
Convidada para a reunião, a Copel não enviou representantes. No entanto, representantes da empresa receberam a deputada estadual Luciana Rafagnin na sede da companhia. As informações requeridas pela deputada foram apresentadas, assim como os investimentos recordes que a Copel está fazendo na área de distribuição de energia na região Sudoeste e em todo o Paraná, com foco na atenção prioritária ao cliente e nas melhorias em curso, como a revisão e manutenção de 150 quilômetros de redes no município de Francisco Beltrão, trabalho iniciado no começo do mês de março e que segue em andamento.
Fonte: Brasil de Fato