Professora chegou a ser convocada para realização de exame admissional e entrega de documentos
Uma professora, que prefere não se identificar por receio de retaliações, denunciou ao Portal Verdade que, após participar de todo o processo seletivo e ser aprovada para lecionar em uma das escolas selecionadas para integrar o programa “Parceiro da Escola”, foi comunicada, que as aulas não estavam mais disponíveis.
A professora residente em Arapongas, município localizado a aproximadamente 40 KM de Londrina, pediu demissão do emprego anterior, na iniciativa privada, para assumir o cargo e agora está desempregada.
“Recentemente fiz todo o processo seletivo pela plataforma Gupy, a prova online, entrevista e aula-teste presenciais, passou uns dias recebi e-mails da plataforma solicitando minha documentação para contratação, pedi demissão do emprego que eu estava, pois recebi outro e-mail dizendo para já estar na escola na segunda-feira, dia 3 de fevereiro, para a formação pedagógica”, conta.
“Na segunda feira, fui para escola e simplesmente me disseram que não tinha aulas, que o professor concursado que ia sair de licença não saiu e pegou todas aulas, que foi um erro da plataforma ao me enviar a mensagem me convocando para formação pedagógica e a escola dependia da SEED [Secretaria Estadual de Educação] para liberar as aulas”, ela complementa.
A escola é administrada pela Tom Educação. Nas redes sociais, a empresa se autodenomia como “pioneira na gestão exclusiva de escolas públicas”. Em conjunto com o grupo Positivo e Rede Decisão, a iniciativa é responsável pela gestão de 31 escolas estaduais em todo o Paraná, incluindo, o Colégio Aníbal Khury Neto, em Curitiba.
Criado em 1984, o grupo se diz “em uma missão nobre de transformar o país por meio da educação, trazendo processos inovadores e uma cultura de ensino e aprendizagem sólida e definida”. A maioria das escolas geridas pela Tom Educação está localizada em bairros mais vulneráveis.
A marca foi uma das escolhidas para implementação do projeto-piloto do programa “Parceiro da Escola”, em 2022. Neste mesmo ano, o lucro do conglomerado chegou a R$ 100 milhões.
Ainda, a docente ressalta que uma empresa, em nome da Tom Educação, a procurou para agendar o exame admissional. Além do desalento por não saber como irá fechar as contas no fim do mês, ela pontua o desrespeito com a profissão, impactando a atratividade da carreira, que tem sido cada vez mais baixa entre as novas gerações.
“Fiquei totalmente perdida, pois estava tudo encaminhado, agora estou desempregada, com contas para pagar e fiquei na mão. Até quando nós professores vamos ser tão rejeitados pelas escolas? Como querem que os alunos façam graduação de licenciatura sendo que é péssimo o mercado de trabalho para professor?”, desabafa.
A reportagem solicitou mais informações sobre o caso à SEED e aguarda retorno.
Divulgação de vaga antes de consulta pública
Conforme informado pelo Portal Verdade, não é a primeira vez que a Tom Educação é alvo de queixas. Segundo relatos obtidos pela APP-Sindicato (Sindicato dos Professores e Funcionários de Escola do Paraná), a empresa estaria impulsionando anúncios nas redes sociais e fazendo contato por meio de ligações e mensagens para oferecer vagas para professores em escolas da rede estadual. A seleção seria para contratação de docentes em Londrina, Cambé, Andirá, Porecatu, Apucarana e Ibiporã.
As suspeitas são de antecipação indevida de decisões administrativas e fornecimento de informações privilegiadas, uma vez que os atos acontecem antes da homologação dos resultados finais da consulta pública sobre a adesão ou não ao “Parceiro da Escola” (relembre aqui).
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Franciele Rodrigues
Jornalista e cientista social. Atualmente, é doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Estadual de Londrina (UEL). Tem desenvolvido pesquisas sobre gênero, religião e pensamento decolonial. É uma das criadoras do "O que elas pensam?", um podcast sobre política na perspectiva de mulheres.