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Programa Londrina Recicla precisa de investimento público e não de terceirização

Na condição de membro representante da Universidade Estadual de Londrina no Conselho Municipal do Meio Ambiente – CONSEMMA, fui convidado, junto com outros membros, pelo Ministério Público, para fazer algumas visitas às cooperativas de trabalhadores ligadas ao “Programa Londrina Recicla” CMTU/Prefeitura de Londrina. Essas cooperativas têm o árduo trabalho de coletar os resíduos recicláveis, fazer sua triagem, separando-os, para dar-lhes o destino final, evitando assim que poluam a natureza.

A visita foi muito interessante, mas também trouxe uma certa sensação de que nem tudo anda bem no “Programa Londrina Recicla”. Antes de tudo, é preciso salientar que a reciclagem não é apenas a separação entre material orgânico e resíduos recicláveis que fazemos em casa, que envolve nossa conscientização em fazer a separação de forma correta. É importante saber que há outras fases: depois da coleta do material e sua triagem nas cooperativas de recicladores, vem a venda dele para as indústrias que vão reaproveitá-lo, o seu destino final, que é o que dá sustentação econômica para essas cooperativas. Alguns problemas nos chamaram a atenção:

  1. Há ainda uma quantidade de resíduos orgânicos que são descartados com o lixo reciclado. Imaginem descobrir que existem fraldas geriátricas usadas junto ao material reciclado? Uma questão que envolve um reforço à conscientização dos cidadãos londrinenses!
  2.  Existem materiais ditos recicláveis que não tem valor algum no mercado, como recipientes de plásticos coloridos, embalagens plásticas como pacotes de achocolatados, bolachas, “Cheetos”, macarrão, muito utilizadas pela indústria, só que, como não há interesse nesse material, ele acaba ficando estocado nas cooperativas e, depois de um tempo, acaba também se tornando rejeito e indo para os aterros. É necessária uma campanha que esclareça para o cidadão consumidor, que pensa que essas embalagens serão recicladas, mas acabam não sendo! Já, o isopor é reciclado! Mas é necessário lavá-lo, no caso das marmitas, antes de colocá-las para a reciclagem, o que, também, muitas vezes não acontece. 
  3. Muitos materiais sofrem oscilações de preço, exemplo: o kg do papelão, que chegou a um real em 2022, agora está valendo 0,20 centavos, o que afeta a reciclagem de tal produto.
  4. As associações de recicladores alegam que o contrato com a CMTU está defasado em 66%, desde 2017. As condições de trabalho são visivelmente precárias.

A CMTU tentou terceirizar o serviço de coleta seletiva no município, mas o edital de licitação foi suspenso pela justiça. A licitação previa um repasse de até 6,5 milhões de reais por ano para a empresa vencedora. As cooperativas contestaram, pois ficariam apenas com a separação e a venda, e questionaram o que fariam com a infraestrutura de coleta que já possuíam. Elas defendem que este investimento deve ser direcionado para as atuais cooperativas, que vivenciam vários problemas. Não há informações de quanto a empresa vencedora pagaria para as cooperativas. Neste caso, temos garantia que haverá a separação como deve ser feita? Ou corremos o risco de tudo virar o “não reciclável” e acabar nos aterros!

O Ministério Público acerta ao chamar para essa discussão. Londrina não pode correr o risco de perder o que já conseguiu conquistar com a Coleta Seletiva. É importante que possamos valorizar a ação das cooperativas e dar as condições necessárias para que o serviço continue sendo feito. Por trás de apenas separar os resíduos em nossas residências, existe um universo de problemas que pode afetar a reciclagem na cidade de Londrina. É necessário um maior investimento público nas cooperativas já existentes, que fazem um trabalho muito importante para o município, além de gerar renda para uma população carente. Não podemos retroceder! Corremos o risco de pagar caro por isso! Nós e a natureza.

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Fábio da Cunha
Professor Dr. Fábio César Alves da Cunha é geógrafo e docente associado do Departamento de Geografia da Universidade Estadual de Londrina UEL. Possui mestrado em Planejamento Ambiental (UNESP), Doutorado em Desenvolvimento Regional (UNESP) e Pós-Doutorado em Metropolização pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Trabalha com geografia urbana e regional, planejamento urbano e ambiental, geopolítica e metropolização.
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Professor Dr. Fábio César Alves da Cunha é geógrafo e docente associado do Departamento de Geografia da Universidade Estadual de Londrina UEL. Possui mestrado em Planejamento Ambiental (UNESP), Doutorado em Desenvolvimento Regional (UNESP) e Pós-Doutorado em Metropolização pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Trabalha com geografia urbana e regional, planejamento urbano e ambiental, geopolítica e metropolização.

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