Hoje (14) ocorre a primeira edição da “Quarta Cannábica”. O evento é promovido pelo projeto de extensão Práxis Itinerante, vinculado a Universidade Estadual de Londrina (UEL) e Associação Cura em Flor de Apoio à Cannabis Medicinal. Mapeamento realizado em 2020, pelo Observatório do Uso de Medicamentos e Outras Drogas, da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) identificou 40 associações canábicas formalizadas no Brasil.
A Cura em Flor é uma delas, criada em Apucarana, no norte do Paraná, há dois anos. Atualmente, está sediada em Londrina e reúne participantes de toda a região. O coletivo é formado por uma equipe multiprofissional que contempla desde a área da Saúde como médicos, enfermeiros, farmacêuticos a outras qualificações como professores e advogados.
Além disso, pacientes e familiares integram a Associação, que compõe o movimento de nível nacional, conhecido como “associativismo canábico”. Este busca garantir o acesso à cannabis e seus componentes de maneira autônoma e economicamente viável. É o que nos conta Fábio Lanza, docente do departamento de Ciências Sociais da UEL e membro da comissão organizadora. Segundo ele, a Quarta Cannábica é voltada para disseminação do conhecimento científico acerca do uso da cannabis com finalidade terapêutica.
“O projeto Práxis Itinerante, vinculado a Pró-Reitora de Extensão [PROEX/UEL], está em processo de consolidação da parceria com a Associação Cura em Flor de Apoio à Cannabis Medicinal. Então, nós das equipes do Práxis e da Cura em Flor já estamos trabalhando para disseminação dos conhecimentos sobre o uso da cannabis ou da maconha medicinal e acreditamos que o público interessado são todas aquelas pessoas que possuem familiares ou que são pacientes ou ainda que possui interesses diversos acerca do uso medicinal desta planta que é secular e que já produziu muitos benefícios a humanidade”.
Lanza pontua que há diversas experiências bem-sucedidas a partir do uso da cannabis medicinal desde 2016 no país e salienta que a discussão deve compor a agenda da saúde pública, rompendo, assim, com visões estigmatizadas assentadas pela política proibicionista, responsável por dificultar o acesso da população ao tratamento. Estudos científicos já demonstraram que a cannabis e seus compostos colaboram para amenizar sintomas de enfermidades diversas como ansiedade, epilepsia, dores crônicas e esclerose múltipla. Hoje, a comercialização da planta é ilegal no país.
“Infelizmente, o estado brasileiro não avança no sentido da democratização da cannabis enquanto fonte medicinal e nem enquanto estratégia de redução de danos ou de descriminalização e legalização do uso adulto. Outros países da América do Norte e da América Latina já fizeram isso, mas nós estamos na lanterna desse processo. O nosso processo histórico criminalizou e discrimina as pessoas que são beneficiárias da planta cannabis ou da maconha. Não é uma mudança simples que está em pauta, mas estes inúmeros agentes sociais vinculados ao associativismo canábico tem dado exemplos de boas práticas com apoio de liminares, habeas-corpus que possibilitam algum acesso às famílias”.
Levantamento da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) publicizado na última sexta-feira (9) indicou que, atualmente, mais de 67 mil pessoas possuem autorização para importar medicamentos à base de cannabis no Brasil. A prática é autorizada desde 2015, resguardada prescrição médica. Apenas nos últimos dois anos, houve um salto de 134% no número de produtos vindo do exterior: de 50.703 em 2020 para 118.738 em 2021.
A atividade é gratuita e aberta ao público. Os interessados poderão acompanhar a transmissão através do canal Práxis Itinerante no YouTube a partir das 20h (link disponível abaixo). O encontro contará com a participação dos convidados: Márcio Rodrigues Alves, médico de família e comunidade, pós-graduado em cannabis medicinal e pesquisador em Psicoterapia Assistida por psicodélicos, também da farmacêutica, Gabriela Benjoino e do advogado, Murilo Nicolau, ambos com experiência no tema.