Mantendo a greve pelo menos até sexta, Sindicato pretende continuar promovendo atos de protestos durante o evento
Começou ontem, 6 de novembro, na UEL (Universidade Estadual de Londrina), o Paraná Faz Ciência, evento que visa a divulgação de pesquisas desenvolvidas em diferentes áreas do conhecimento no estado. Promovido pelo governo estadual, ele seguirá até sexta-feira (10) e acontece em meio a uma greve de docentes da UEL e da UEM (Universidade Estadual de Maringá) que reivindica reposição salarial e valorização das instituições de ensino. Os professores apontam inconsistência do governo Ratinho Jr. (PSD) ao organizar um evento de promoção da ciência e, ao mesmo tempo, dar andamento em um projeto de desmonte das universidades públicas do Paraná.
Está é a 3ª edição, primeira presencialmente, e reúne professores e alunos das sete instituições de ensino superior do estado que apresentarão trabalhos, resultados de pesquisas acadêmicas, palestras, seminários, além de promoverem visitas a diferentes localidades de Londrina para que a comunidade possa conhecer os espaços onde se faz a ciência. Em assembleia que deliberou pelo retorno da greve, realizada em 26 de setembro face a não apresentação da contraproposta do PCCS (Plano de Cargos, Carreira e Salários) após meses de tratativas, os docentes também acordaram uma agenda de mobilização durante a semana.
Em carta lida na escadaria do Cine Teatro Ouro Verde, onde aconteceu a abertura do Paraná Faz Ciência, já que a organização do evento não permitiu a leitura durante a celebração, reduzindo o alcance de público, o Sindiprol/Aduel enfatiza que ‘sem docência, não há ciência’. A carta, que será lida também em outros dias durante a semana, critica ainda a falta de investimentos em materiais e nas estruturas físicas das universidades, além de indicar a Lei Geral das Universidades, aprovada em 2021, como um agravante desse problema.
Esses pontos, de acordo com César Bessa, presidente do Sindiprol/Aduel, contradizem com o evento promovido na UEL, provocando uma desvalorização da própria ciência: “Se nós temos uma carreira que não representa um futuro digno para o pesquisador, com um bom salário, o bom pesquisador não vai seguir a carreira acadêmica ou ele vai para outra universidade. Então nós temos que preservar o local do docente, para servir como um convite para as novas gerações terem vontade de adentrarem a universidade como futuros cientistas. Quem faz ciência não é o Paraná, são os estudantes, são os professores”, afirma.
Segundo o Índice Científico Alper-Doger deste ano, as estaduais do Paraná aparecem entre as 200 melhores instituições de ensino superior do mundo, mostrando o potencial das universidades do estado: “90% das pesquisas do país, são feitas dentro das universidades públicas. A gente não está lutando por salário. Isso é a pauta principal, mas lutamos pela garantia da permanência das instituições de ensino superior”, pontua o professor Antônio Geraldo Magalhães Gomes Pires, do Centro de Educação Física e Esportes da UEL.
O professor também explicou o que, para ele, falta o governo fazer para valorizar a ciência de fato: “A primeira coisa é investir no corpo docente e investir no financiamento da universidade pública. 90% do corpo docente da UEL tem dedicação exclusiva com a pesquisa e é essa a maneira que temos para fazer boa pesquisa, bom ensino e boa extensão. É o que nos diferencia das universidades particulares. Isso não quer dizer que somos melhores ou piores que eles, mas essa é a nossa missão”, diz.
O professor Antônio denúncia também que não há vontade do governo estadual em investir seriamente na educação e na pesquisa: “Há um sucateamento hoje por falta de recursos. Não é que não haja dinheiro, o que não tem é vontade política de investimento na coisa pública, principalmente nas universidades. A nossa situação é muito crítica e só não é terminal porque tem o HU (Hospital Universitário de Londrina), senão já teríamos sido privatizados há muito tempo. A sociedade precisa entender que a UEL e as outras seis universidades estaduais são da sociedade”, ressalva.
Impacto da universidade pública
O presidente do Sindiprol/Aduel, César Bessa, ao falar sobre a importância do incentivo à ciência, lembrou do legado que a UEL deixou na saúde pública do país: “Passamos por um momento muito difícil. Foi uma pandemia no mundo inteiro e que aqui no Brasil, matou mais de 700 mil pessoas. Qual foi o órgão que mais salvou vidas aqui? Foi o SUS (Sistema Único de Saúde). O SUS era o projeto de pesquisa do professor Nelson Rodrigues, aqui da UEL. Veja: foi a ciência que gerou a construção do SUS, enquanto projeto de pesquisa científica”, observa.
O professor Antônio Geraldo ressalta o efeito que uma universidade do porte da UEL, tem em Londrina e região: “Circula na UEL entre 20 a 23 mil pessoas, mais do que muitas das 399 cidades paranaenses. Além da pesquisa, as universidades também são geradoras de emprego e fazem circular dinheiro”.
De acordo com o relatório de 2021 “Impacto econômico da UEL na economia paranaense”, do economista Venâncio de Oliveira – encomendado pelo Sindprol/Aduel, a cada R$1 investido na UEL, resulta em R$ 2,13 em valor agregado na economia do estado.
Motivos e manutenção da greve
Ainda em maio deste ano, os professores entraram em greve após o governo, pelo sétimo ano consecutivo, não reajustar os salários dos professores universitários de acordo com a inflação. Segundo o Sindicato que representa a categoria, somaram-se 42% de defasagem salarial. A porcentagem referente a 2022 só chegou em agosto de 2023, como relatou César Bessa, presidente do Sindiprol/Aduel: “Os seis anos anteriores (antes de 2022) não vieram, não tivemos nenhuma recomposição salarial, que é prevista em lei. 5,79% (reajuste de agosto) significa um pífio diante dos 42% que precisa”, assinala.
Nesta segunda-feira (6), após o governo Ratinho Jr. anunciar uma contraproposta através da imprensa, mas que não foi apresentada oficialmente na Assembleia Legislativa do Paraná (ALEP), os professores deliberaram por manter a greve. Na próxima sexta-feira (10) ocorrerá uma nova assembleia para decidir os rumos do movimento grevista.
Paraná faz Ciência
O evento, começou em 2021, de modo online, seguindo esse formato até a edição seguinte, em 2022. Sendo realizado pela primeira vez presencialmente, a UEL espera receber cerca de 10 mil pessoas diariamente só nos três primeiros dias, quando acontecem as mostras interativas e visitas técnicas.
O coordenador geral do evento na UEL, professor Eduardo Araújo, explica como o Paraná Faz Ciência pretende fomentar o trabalho acadêmico: “O objetivo desse evento é divulgar ciência e tecnologia para todas as pessoas com diferentes níveis de formação. A população em geral será muito bem recebida por intermédio de duas atividades: Mostra interativa e visitas técnicas. Nesses dois eixos, todas as pessoas que moram em Londrina e região poderão visitar a universidade, conhecer os espaços onde acontecem as pesquisas, onde os pesquisadores atuam para produzir novos conhecimentos e novas tecnologias. As escolas do fundamental e médio também estão se organizando para trazer seus alunos nos espaços disponíveis”.
Além da mostra interativa e das visitas técnicas, há ainda mais 4 eixos durante a semana: ensino superior do futuro, oficinas, cultura e arte e eventos acadêmicos. A UEL foi escolhida como primeira sede do evento de maneira presencial, porém a intenção é que as demais universidades estaduais também sediem as próximas edições do evento. “Tanto a UEL como a UEM são as maiores instituições de ensino superior no Paraná, com maior número de pesquisa de mestrado e doutorado. No próximo ano, o Paraná faz Ciência será na UEM e depois seguirá as instituições”, conta o professor.
“Muito do que fazemos, é com muita persistência diante de muitas dificuldades. São muitos improvisos necessários que estabelecemos para que possamos fazer o que precisa ser feito com o rigor científico necessário. Por isso que a gente tem tido muito reconhecimento sobre o que produzimos de ciência e tecnologia. Abrir para que as pessoas verem nossos ambientes de pesquisa vão ajudá-las a perceber as condições de trabalho os pesquisadores da UEL tem vivido e, assim, formar suas próprias opiniões a respeito de condições de trabalho e tipos de resultados que temos mostrado e quem têm sido reconhecido dentro do país e do mundo”, finaliza o professor Eduardo Araújo.
Eixos do Paraná Faz Ciência
Eixo 1: Ensino Superior do Futuro
Discute o futuro do ensino superior, compreendendo o papel das novas tecnologias no cenário educacional de pós-pandemia
Eixo 2: Mostra Interativa de Ciência, Tecnologia e Inovação
Este segmento é subdividido em Mostra Interativa de Projetos; Exposição de Startups; e Mostra dos Novos Arranjos de Pesquisa e Inovação (Napis)
Eixo 3: Visitas Técnicas
Os visitantes participarão de jornadas imersivas em espaços fundamentais para a produção científica, como os laboratórios de pesquisa
Eixo 4: Oficinas
Voltadas a atender à comunidade leiga, além de estudantes e professores da Educação Básica e do Ensino Superior, as oficinas desenvolvem práticas relacionadas à temática do Paraná Faz Ciência 2023
Eixo 5: Cultura e Arte
Visa à divulgação de ações culturais e artísticas, promovendo o encontro de grupos, projetos, coletivos e iniciativas diversas da área
Eixo 6: Eventos acadêmicos
Esta seção contempla o XXXII Encontro Anual de Iniciação Científica (EAIC 2023), VI Encontro Anual de Extensão Universitária e XII Seminário de Extensão (Por Extenso 2023); V Mostra Anual de Atividades de Ensino da UEL (Pró-Ensino 2023), bem como o Encontro Paranaense de Comitês de Suporte à Pesquisa Científica e Tecnológica e Encontro Paranaense de Editores e Jornalistas Científicos.
Acompanhe na íntegra da carta do Sindiprol/Aduel lida na abertura do Paraná Faz Ciência
NOTA DO COMANDO DE GREVE DA UEL SEM DOCÊNCIA NÃO HÁ CIÊNCIA!
Desde maio deste ano, os docentes de todas as universidades estaduais paranaenses estão mobilizados na luta pela reposição de suas perdas salariais. Neste momento, os docentes da Universidade Estadual de Londrina e da Universidade Estadual de Maringá estão em greve. Com defasagem salarial de 42% acumulada ao longo de sete anos, e o anúncio de uma reposição linear de apenas 5,79%, a situação se tornou insustentável.
Por isso, em razão da intransigência do governo em negociar com os sindicatos a reposição das perdas, os docentes das universidades entraram em greve em maio/junho. Somente após muita pressão e um novo processo de mobilização e greve, o governo se comprometeu a apresentar uma proposta de alteração do plano de carreira dos docentes com efeitos salariais. Na proposta anunciada pela imprensa na semana passada, consta aumento dos percentuais do Adicional de Titulação (AT) de especialistas, mestres e doutores. Porém, sem alterar o vencimento básico, os vencimentos totais terão percentuais distintos conforme a titulação do docente, penalizando os docentes com menor titulação e, por conseguinte, menores salários, especialmente aqueles com contrato de trabalho temporário.
De qualquer modo, importa frisar que ainda não recebemos uma proposta oficial e, por diversos motivos, consideramos que a proposta anunciada está aquém de nossas demandas e direitos. Ao mesmo tempo, temos visto as universidades terem o seu patrimônio material ser arruinado por orçamentos escassos e investimentos insuficientes. Longe de resolver, a Lei Geral das Universidades – LGU acentua esses problemas. Isso precisa ser mudado urgentemente, sob pena de termos décadas de empenho financeiro e de esforço pessoal direto ou indireto de milhões de paranaenses serem arruinados pela política de desresponsabilização do estado com o seu sistema de ensino superior.
Não há ciência sem docência! Não há universidade pública sem investimento! Portanto, iniciando com a aprovação da proposta de alteração dos Adicionais de Titulação, precisamos de urgente valorização da carreira docente, principalmente por meio da elevação substancial do piso salarial – que, atualmente, é menor do que o piso nacional do magistério da educação básica – e amplo concurso público para a ocupação das vagas em aberto.
Também precisamos de orçamentos e investimentos para manutenção e ampliação da infraestrutura predial, laboratorial, transporte e insumos que permita o pleno e profícuo desenvolvimento de nossas atividades de ensino, pesquisa e extensão. A defesa da universidade pública é uma obrigação de todo docente, mas também dos agentes universitários, dos estudantes e de toda a população paranaense.
Contamos com você nessa luta que é de todos aqueles comprometidos com a educação pública e gratuita.
SEM DOCÊNCIA NÃO HÁ CIÊNCIA!
PELA VALORIZAÇÃO DO TRABALHO DOCENTE!
EM DEFESA DA UNIVERSIDADE PÚBLICA E GRATUITA!
*Matéria do estagiário Lucas Worobel sob supervisão.