Além das condições de trabalho, a categoria exige ações contra assédio moral e sexual. O tema ganhou visibilidade após denúncias envolvendo a direção da Caixa Econômica Federal
Nesta terça-feira (05), bancários ocuparam as ruas de todo país para lançar a Campanha Nacional 2022 da categoria, que tem como tema geral #BoraGanharEsseJogo. Em Londrina, o coletivo Vida Bancária, formado por representantes de Londrina, Apucarana, Arapoti e Cornélio Procópio, realizou panfletagem no calçadão, além de percorrer agências informando à população sobre as reinvindicações do segmento. Entre as principais pautas dos trabalhadores estão a garantia de direitos, novas contratações e reajuste salarial de 5%.
Segundo Felipe Pacheco, membro do Sindicato de Londrina e diretor da Federação dos Bancários do Paraná, as condições de trabalho dos bancários pioraram muito nos últimos anos. “A atividade econômica foi reduzida em razão da Covid-19, mas as metas e cobranças em nenhum momento foram reduzidas ou cessaram, então, isso causou um desgaste muito grande na categoria. A gente percebeu um aumento na quantidade de bancários utilizando medicação controlada para stress, ansiedade, [síndrome] de Burnout. Esse é um quadro generalizado que estamos buscando combater”, avalia.
Atendimento à população comprometido
De acordo com Pacheco, a precarização das condições de trabalho não afeta somente os funcionários do setor, mas toda população que encontra mais dificuldades para garantir o atendimento e realizar serviços. “Antes, agências que contavam com 15, 20 trabalhadores, hoje tem cinco, seis. Muitos desses clientes, o banco encaminha para realizar pagamentos, serviços em canais digitais, mas isso desrespeita o Código do Consumidor que estabelece que o público tem o direito de escolher onde quer ser atendido. A gente vê alguns bancos retirando os caixas que fazem atendimento à população e obrigando a procurar outros meios, apesar do lucro astronômico que os bancos têm”, ele pontua.
Segundo informações disponibilizadas pela Central Única dos Trabalhadores (CUT), no período de 2013 a 2021, 77 mil postos de trabalho foram fechados no setor bancário, o que corresponde a redução de 15%. Além disso, mais de 5 mil agências físicas encerraram o atendimento no país. Ao mesmo tempo, o número de estabelecimentos que prestam serviço de correspondente bancário saltou 42% entre 2016 e 2022. Na última década, o lucro dos bancos cresceu 15% acima da inflação. Em, 2021, os cinco maiores bancos do país (Caixa Econômica Federal, Banco do Brasil, Itaú, Bradesco e Santander) lucraram R$ 107,7 bilhões, índice 34,1% maior do que obtido no ano anterior.
Assédio
Outra pauta levantada pelo setor é a construção de ações que combatam crimes de assédio. A discussão ganhou visibilidade recentemente após denúncias envolvendo Pedro Guimarães, ex-presidente da Caixa Econômica Federal. Várias funcionárias, segundo reportagem do Metrópoles, foram ao Ministério Público Federal denunciar abusos sexuais e morais. “Ele se utilizava do cargo, inclusive de promoções, para viajar, chamar funcionárias da Caixa para fazer sauna e trocar favores sexuais por ascensão na carreira. Tivemos funcionárias da Caixa que até pediram demissão do cargo para se afastar dele”, comenta Pacheco.
Ele conta que esta situação tem mobilizado ações diversas, inclusive, nesta quarta-feira (06) estão ocorrendo mesas de negociação cujo assunto é o combate aos crimes de assédio. Além destas articulações, nas redes sociais a hashtag #BastaDeAssedio também tem sido disseminada.
Com a repercussão, Guimarães pediu demissão um dia após as queixas surgirem, deixando o comando da estatal, em 29 de junho. Em seu lugar, assumiu Daniella Marques, auxiliar de Paulo Guedes, ministro da Economia. Durante solenidade de posse, Marques declarou que: “a Caixa vai ser a mãe da causa das mulheres”. Especialistas têm avaliado a fala da nova liderança como uma tentativa de aceno ao eleitorado feminino, segmento no qual o índice de rejeição do atual chefe Executivo nacional é alto, chegando a 61%, de acordo com pesquisa do PoderData.
Frente a isso, a categoria tem exigido que vítimas sejam acolhidas, investigações avancem de maneira bipartite (banco e sindicatos), programas de formação sobre desigualdades e violências de gênero sejam ofertados aos trabalhadores. Solicita também que haja igualdade salarial entre homens e mulheres e, ainda, que elas tenham mais oportunidades para ocupar cargos de liderança, hoje preenchidos majoritariamente pelo gênero masculino.
Franciele Rodrigues
Jornalista e cientista social. Atualmente, é doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Estadual de Londrina (UEL). Tem desenvolvido pesquisas sobre gênero, religião e pensamento decolonial. É uma das criadoras do "O que elas pensam?", um podcast sobre política na perspectiva de mulheres.