A negociação do acordo coletivo entre a Copel e os sindicatos que representam os trabalhadores da empresa entrou em uma nova fase. Em reuniões realizadas nos dias 15 e 16 de outubro, a agora privatizada Companhia de Energia do Paraná, sinalizou que pretende limitar o reajuste salarial ao índice inflacionário, sem repassar o aumento de receitas aos trabalhadores. Apenas no primeiro semestre de 2024, a Copel registrou um lucro de R$ 1 bilhão.
Além disso, a empresa indicou cortes significativos em benefícios anteriormente garantidos, como o abono salarial, o adiantamento do 13º e o pagamento de horas extras.
Segundo Leandro José Grassmann, presidente do Sindicato dos Engenheiros no Estado do Paraná (Senge-PR), a proposta da empresa reforça uma lógica neoliberal onde “não se pode onerar a folha de forma permanente”.
O sindicalista observa que, enquanto os executivos têm acesso a bônus que podem multiplicar em até sete vezes o salário, os trabalhadores enfrentam dificuldades para manter direitos básicos.
“Desde 2019, a empresa vem apresentando bons resultados, mas os empregados não sentem isso no bolso. A valorização fica limitada ao bônus anual, distribuído conforme os lucros do ano anterior. Enquanto os executivos podem receber até seis vezes o valor do salário em bônus, para os demais empregados, esse valor não passa de um salário-base, talvez 1,2 vezes o salário,” explica Grassmann.
Entre os pontos de maior descontentamento está a proposta de um abono salarial de R$ 1 mil, que só seria pago aos empregados com salários inferiores a R$ 6 mil. A empresa também propôs reajustar alguns benefícios pelo INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor), mas excluiu itens como auxílio-educação e abono de férias.
Além disso, a Copel planeja tornar o banco de horas obrigatório a partir de janeiro de 2025, removendo a possibilidade de escolha dos empregados entre banco de horas ou pagamento de horas extras – uma mudança que afeta diretamente a flexibilidade dos trabalhadores, especialmente, aqueles que preferem receber por horas trabalhadas.
“Hoje de manhã [13 de novembro] eles mudaram algumas coisas, como o abono, mas só para quem ganha até R$ 6 mil. Acima disso, não ganha absolutamente nada. É como se quisessem criar uma hierarquia, dividindo a categoria”, afirmou a liderança.
A empresa também propôs modificar o pagamento do 13º salário, sugerindo que a primeira parcela seja paga em novembro, em vez de janeiro, como ocorre atualmente. E, mesmo após distribuir R$ 632 milhões aos acionistas no primeiro semestre deste ano, a companhia não planeja reajustar o vale-alimentação, apesar do aumento significativo do custo de vida desde o último ajuste.
“Direito adquirido e negociado não se discute. Alterar essa data é um retrocesso, pois interfere na organização financeira dos empregados. E eles querem começar a mudança com a desculpa de alinhamento com o mercado. Estamos falando de uma empresa com um crescimento sólido e uma lucratividade altíssima, onde está sendo direcionado quase que exclusivamente aos acionistas, e o trabalhador fica de fora” ressalta Grassmann.
Para o presidente do Senge-PR, essa prática se assemelha à Eletrobras e outras empresas do setor elétrico: garantir a manutenção do acordo anterior apenas até o fim do mês, aumentando a pressão sobre sindicatos e empregados. Caso a negociação se estenda, a Copel pode optar por não garantir mais o acordo coletivo vigente, levando a questão para a justiça.
Grassmann adianta que a proposta será levada à assembleia, com a expectativa de rejeição. O Sindicato não descarta a possibilidade de mobilizações e greve.
“A Copel tenta vencer pelo cansaço. Nossa expectativa é que a proposta seja recusada novamente, mas estamos preparados para continuar a negociação”, conclui o sindicalista.
Matéria da estagiária Joyce Keli sob supervisão.