Em ato realizado em São Paulo, nesta quarta, trabalhadores se fantasiaram com máscaras da morte e de frango, para denunciar a líder mundial de processamento de proteína animal e pedir valorização e segurança
Os trabalhadores e trabalhadoras da JBS organizados por sindicatos do Paraná, Mato Grosso do Sul e de Santa Catarina, realizaram um ato nesta quarta-feira (13), em frente à Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), para denunciar as más condições de saúde e segurança e pedir desvalorização nas unidades da empresa, que é atualmente líder mundial de processamento de proteína animal.
Durante o ato, os sindicalistas entregaram para as pessoas que passavam no local um panfleto com denúncias sobre as condições de trabalho dos funcionários da JBS com imagens de trabalhadores machucados, como a de uma funcionária que cortou a testa com uma faca, foi atendida no local, onde fizeram pontos muito grandes e teve que continuar trabalhando, mesmo em choque e machucada.
Para chamar atenção da sociedade para a gravidade dos problemas que vivem no local de trabalho, os manifestantes se fantasiaram com máscaras da morte e roupas iguais as utilizadas nos frigoríficos, cobertas com um sangue artificial, para lembrar dos trabalhadores que se machucam e perdem até mesmo os movimentos de alguns membros em acidentes enquanto exercem o seu trabalho. Confira:
Um dos grandes problemas que a categoria enfrenta é a subnotificação dos acidentes, que devem ser registrados pelos médicos da empresa, afirmou o presidente do Sindicato da Alimentação de Arapongas, Rolândia e Região (STIAAR), Anderson Zanelato.
“O médico do trabalho contratado pela empresa, muitas vezes pega casos graves de LER, DORT ou até feridas e não atestam os funcionários devidamente, não afastam os trabalhadores feridos e deixam que continuem trabalhando mesmo em situação precária”, explicou o dirigente.
Isso acontece no frigorífico que vem batendo recordes de lucratividade, mesmo durante a pandemia do novo coronavírus, às custas de muito sofrimento humano, denunciaram os sindicalistas do Sindicato de Trabalhadores da Alimentação de Carambeí (SINTAC) e do Sindicato dos Trabalhadores na Indústrias da Alimentação de Criciúma e Região (SINTIACR), que publicou em sua página uma série de vídeos sobre acidentes e doenças do trabalho nas industrias do setor.
As denúncias situações de risco contra os trabalhadores na JBS não são poucas. Em novembro de 2020, por exemplo, foi registrado um vazamento de amônia em um frigorífico da empresa em Passos (MG). Desde 2014, pelo menos dez casos semelhantes já ocorrem na empresa, com 316 trabalhadores atingidos, e a companhia se mostra incapaz de prevenir novos incidentes, como denunciou o Brasil de Fato.
Ritmo exaustivo de produção, assédio moral e subnotificação de acidentes de trabalho e doenças são comuns na JBS, além dos baixos salários nos frigoríficos, segundo dirigentes do SINTAC.
Para a JBS, dizem eles, o que realmente importa é o lucro acima de tudo, mesmo que para isso seja necessário triturar vidas humanas durante esse processo.
“A JBS é escravagista e está esmagando os seus integrados e trabalhadores”, disse o presidente do Sintiacr, Célio Elias, que denunciou ainda os empréstimos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), a esses grupos econômicos sem se preocupar em impor contrapartidas sociais aos trabalhadores.
O ato também defendeu a manutenção da Norma Regulamentadora (NR) nº 36, que tem o objetivo de garantir a segurança e a saúde dos trabalhadores e trabalhadoras, bem como a proteção do meio ambiente.
Isso porque, em plena pandemia, entre dezembro de 2020 e fevereiro de 2021, empresários do setor de abate e processamento de carnes e derivados sugeriram ao governo Bolsonaro, uma série de mudanças na NR 36, colocando em risco a prevenção de acidentes e adoecimentos no setor.
A NR 36 é tão essencial e importante para a vida e a saúde dos trabalhadores, que a Confederação Brasileira Democrática dos Trabalhadores nas Indústrias da Alimentação (Contac/CUT) lançou a “Cartilha NR 36 – Saúde e Segurança no Trabalho ao seu Alcance”.
Entre outras coisas, a cartilha alerta o trabalhador e a trabalhadora que a NR 36 estipula pausas e altera os locais de trabalho dos frigoríficos com o objetivo de reduzir os acidentes e as doenças profissionais no setor, um dos que mais lesiona e mutila na indústria brasileira, principal exportadora de carnes de frango do mundo. Um milhão de trabalhadores serão beneficiados.
Entre as principais exigências contidas nos 16 itens e 217 subitens da NR está a concessão de pausas aos trabalhadores, distribuídas ao longo da jornada diária. O tempo total varia de acordo com o expediente, mas cada pausa deve ter entre 10 e 20 minutos a cada 50 minutos trabalhados.
“Recebemos muitas reclamações de trabalhadores indicando que a JBS não tem respeitado as pausas exigidas pela norma. Ou seja, trabalham exaustivamente, com movimentos repetitivos e com pausas insuficientes para a atividade que realizam”, afirmou Zanelato.
Com apoio de Hortênsia Franco, do STIAAR.
Fonte: Redação CUT