Décadas atrás, o médico brasileiro e pioneiro no transplante de coração, Euripedes de Jesus Zerbini, definiu com estas sabias palavras o que realmente leva à breca a saúde humana: o estresse ou, em suas palavras, a raiva.
O medo das consequências horripilantes, e cada vez mais certas, das mudanças climáticas; de ataques terroristas ou de um acidente enquanto se vai de casa ao trabalho não é novo para a humanidade.
Esta mesma humanidade conviveu bem intimamente com o pavor das noites escuras, ouvindo encolhida de dentro das cavernas, os urros ameaçadores das feras que vinham devorá-la; intimamente e com o coração saltando do peito, grupos hostis que, a qualquer momento com suas lanças e tacapes poriam abaixo a segurança de sua aldeia; com os canhões e bombas das guerras fratricidas que lançavam ao ar pernas e troncos de soldados despedaçados…
Sempre houve e haverá motivos mais que suficientes para nos sentirmos estressados. Mas, a origem de nosso estresse maior, não é externa. Ela é interna.
O estresse é a excitação do corpo e da mente diante de um desafio. Seja ele negativo ou positivo: uma promoção profissional, um prêmio, casar, a volta de um cheque sem fundos ou mesmo tirar férias. A pressão sobe, os batimentos cardíacos aceleram-se, o fígado, demais órgãos digestivos e a pele ficam privados de sangue, o colesterol aumenta…
O tipo de estresse que parece fazer mal à saúde é a ativação excessiva de nossa antiga reação de lutar ou fugir, o que gera angústia. Este mecanismo foi feito para ser rápido como um raio. Porém, se sua ativação se torna persistente, este mesmo bom mecanismo que nos permite sobreviver às situações inesperadas, fazendo com que o corpo permaneça em constante estado de emergência e tornando crônicos os efeitos temporários, poderá nos matar. A persistência de uma condição estressante é que desenvolve o diabetes tipo 2, artrite reumatoide, câncer, derrames, depressão e aceleração do envelhecimento.
Miroslaw, 27 anos, tinha um comportamento irritadiço, um pouco cínico, mas extremamente motivado, excessivamente ambicioso, impaciente, competitivo, agressivo em fechar suas metas de trabalho. Morreu de doença coronariana.
Não foi o trabalho quem tirou a vida do jovem Miroslaw.
O médico Zerbini sabia bem mais do que trocar corações…
Texto: Luiz Eduardo Cheida – Gastroenterologista e Hepatologista em Londrina