As dificuldades para quem precisa de atendimento na saúde pública no Paraná são muitas. O morador de Curitiba Ivan Pinheiro necessitava de uma cirurgia no crânio, e relatou à reportagem do Brasil de Fato Paraná que chegou a ficar três dias numa cadeira de rodas esperando atendimento.
“Tive que fazer uma revisão de uma cranioplastia por um aneurisma. Depois de uma primeira consulta, fui encaminhado para um neurocirurgião. Esperei das 16h até 23h. Fui internado em uma enfermaria, mas fiquei numa cadeira por três dias porque não tinha maca. No quarto, mais uma semana esperando vaga no centro cirúrgico”, contou.
Após esse período, Ivan teve de enfrentar uma nova espera. “Tirei os pontos, solicitaram que eu fizesse uma tomografia. Fui no dia 12 de agosto, mas o exame é só daqui um mês”, disse.
Falta gente e equipamento
Mais pessoas têm problemas com exames e outros procedimentos. Juçara, na terça feira (23), veio de Guarapuava, cidade do interior a mais de 250 quilômetros de Curitiba, para o Hospital do Trabalhador, na capital, fazer exame na filha que tem cardiopatia. Rotina por que passou, pelo menos, três vezes no primeiro semestre deste ano.
“Ela tem 4 anos e eu trago para fazer tratamento aqui em Curitiba por não ter hospital para esse problema específico na minha região. Ela é cardiopata. Venho a cada seis meses, só que a cada consulta tem pedidos de vários exames. Demora pra conseguir uma data, fica mais espaçado, o outro exame a gente só consegue em outro mês”, relatou. “O exame de hoje foi marcado para às 10h, mas a gente chegou às 6h da manhã porque viemos de ônibus. Podia ser tudo na mesma semana, mas falta gente e equipamento, eles dizem. É sofrido pra gente e custa caro”, afirma.
Gestão preocupada em reduzir custos
Segundo o Sindicato dos Servidores da Saúde do Paraná (SindSaúde), o governo Ratinho Junior (PSD) destinou quase 50% do orçamento da saúde para empresas terceirizadas, com a promessa de melhorias no setor. A gestão desses recursos vem sendo feita pela Fundação Estatal de Atenção em Saúde no Paraná (Funeas).
Porém, tanto para usuários quanto para servidores, há pioras. A falta de servidores públicos, a terceirização e o pouco investimento no setor por parte do governo estadual são algumas das causas apontadas.
Uma servidora (que não quis ser identificada), que trabalha há 32 anos no Hospital Regional do Litoral, em Paranaguá, diz que a terceirização trouxe inúmeras adversidades.
“Os trabalhadores de uma mesma função têm direitos, deveres e remuneração diferentes. Isso gera um ambiente de trabalho precário. A terceirização também provoca uma alta rotatividade de profissionais, a experiência adquirida num serviço acaba sendo utilizada em outro. A gestão, de forma geral, está preocupada em reduzir custos, número de trabalhadores, racionando o uso de medicamentos e insumos”, relatou.
Falta de investimento
Para a Coordenadora Geral do SindSaúde, Olga Estefânia, falta investimento de Ratinho Jr. na área da saúde. “Faltam servidores públicos, insumos nos hospitais e o que ocorre são contratos com empresas terceirizadas em lugar de investir na valorização dos profissionais e nas próprias estruturas de saúde do Paraná, o que leva ao sofrimento da população”, analisou.
Em audiência na Assembleia Legislativa do Paraná (Alep), o sindicato apresentou números que, segundo a entidade, comprovam a destinação da maior parte do orçamento para a iniciativa privada. Cerca de 46% dos investimentos feitos pelo governo na saúde são destinados a empresas terceirizadas.
“Atualmente, a Funeas administra 14 unidades, com denúncias de deficiência no suprimento de insumos nas unidades hospitalares, na manutenção de equipamentos e falhas na gestão de pessoas, criando impasses com os profissionais concursados”, afirmou Olga.
Outra denúncia feita pelo sindicato é a extinção de cargos feita pelo governo Ratinho Jr. Atualmente há 6.651 servidores concursados, quando seriam necessários, segundo o sindicato, no mínimo, 11 mil para prestar um serviço de qualidade à população.
Estado não se pronunciou
A Secretaria de Saúde do Paraná foi procurada pela reportagem para esclarecer as denúncias apontadas. Até a publicação desta matéria, não houve resposta. O espaço continua aberto para manifestação da pasta.
Fonte: Brasil de Fato