Uma das estratégias do Neoliberalismo parasitário que tomou o mundo nas últimas quatro décadas é se apropriar, o quanto mais possível, das riquezas das nações, via aquilo que David Harvey chama de acumulação via espoliação, lembrando que espoliar significa roubar, tirar de outrem sem permissão, por violência ou fraude.
Os mecanismos mais utilizados pra isso são: dividas externas, dívidas públicas, processos de privatizações e, agora, mais recentemente, controle sobre os bancos centrais.
Com um discurso de que os bancos centrais do mundo todo devem ser autônomos para não ficarem à mercê das vontades políticas de futuros governantes, o capitalismo neoliberal parasitário conseguiu essa autonomia em várias partes do mundo. No Brasil, ela veio em plena crise sanitária, política e social com a Lei 179/2021, sancionada pelo governo anterior, mas poderia ter o número “171”, tamanho é o estelionato que isso causa ao país.
De janeiro de 2021 a agosto de 2022, nossa taxa de juros saltou de 2,75 % para 13,75, em decorrência de uma inflação que chegou, em meados de 2022, a mais de 10%, isso foi o suficiente para que o Banco central iniciasse o vertiginoso processo de elevação da taxa Selic, que é ditada pelo Banco Central, norteia os juros reais e os ganhos no mercado financeiro, constituindo-se hoje na maior taxa de juros do mundo para um país em desenvolvimento como o Brasil.
No segundo semestre de 2022, a inflação começou a arrefecer e entrou 2023 dando continuidade à queda. Os indicadores da inflação estão agora na casa dos 5%, o dólar, a menos de 5 reais, há significativa geração de empregos formais e transparência nas contas do governo, o que vem fazendo com que a economia alcance patamares satisfatórios e que a queda nas taxas de juros passa a ser necessária para a manutenção positiva desses indicadores. Todavia, a famigerada “Autonomia” do Banco Central se nega a baixar a taxa Selic. Quais seriam os motivos de tal atitude?
Já dissemos aqui que o capitalismo financeiro neoliberal é parasitário por natureza, e uma das formas de se reproduzir é o rentismo, alcançado por exorbitantes taxas de juros, que beneficiam, ainda mais, os já milionários investidores, que não têm qualquer compromisso com o desenvolvimento nacional. Só para termos uma ideia, para cada ponto da taxa Selic que é diminuído, no caso do Brasil, aproximadamente 80 bilhões de reais saem do sistema financeiro e ficam à disposição do governo, que pode utilizar esse recurso no desenvolvimento nacional.
Desta forma, é lógico que o capital financeiro, que comanda essas ações, quer que as taxas fiquem infinitamente nas alturas! Não importa se há condições de reverter o quadro, o importante é garantir as taxas de lucratividade de um capitalismo rentista que não produz, apenas se reproduz nesse processo parasitário que aumenta exponencialmente as desigualdades nacionais, gerando bilionários de um lado e miseráveis de outro.
Na última quarta-feira, o Banco Central do Brasil se reuniu novamente e decidiu manter a taxa de juros no mesmo exorbitante patamar. Como não há mais justificativas para isso, ele optou por usar guerra na Ucrânia como justificativa para essa manutenção, ainda mais porque o BIS, o Banco Central que comanda os bancos centrais do ocidente, vem utilizando esse argumento. Estamos assim à mercê de uma guerra que não sabemos quando vai acabar, mas que é utilizada para justificar as amarras de um banco central político que defende os interesses de uma elite rentista.
Se a autonomia do banco central tinha como objetivo impedir o controle dos governos sobre a instituição, o que vemos é que esta mesma autonomia está sendo utilizada politicamente para garantir os ganhos de um capitalismo parasitário que beneficia muito poucos. É preciso urgentemente resgatar o banco central dessa elite que espolia o país diariamente! É lógico que os tradicionais veículos de comunicação e seus “economistas” contratados pregam o contrário, afinal, esses veículos também já foram capturados pelo mesmo sistema financeiro parasitário.
Fábio da Cunha
Professor Dr. Fábio César Alves da Cunha é geógrafo e docente associado do Departamento de Geografia da Universidade Estadual de Londrina UEL. Possui mestrado em Planejamento Ambiental (UNESP), Doutorado em Desenvolvimento Regional (UNESP) e Pós-Doutorado em Metropolização pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Trabalha com geografia urbana e regional, planejamento urbano e ambiental, geopolítica e metropolização.