Negros são maioria no grupo que fatura menos. Já brancos predominam entre os apresentam maiores rendimentos
Em 5 de outubro é comemorado o Dia do Empreendedor. Face à data, o Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas) divulgou pesquisa que permite traçar o perfil dos donos de negócio no Brasil.
São considerados microempreendedores aqueles que tem empresa com faturamento anual de até R$ 360 mil ou emprega até nove pessoas no comércio e serviços ou 19 pessoas no setor industrial. Já São pequenos empreendedores são aqueles que tem negócio com faturamento anual de até R$ 4,8 milhões por ano ou que empregam de 10 a 49 pessoas no comércio e serviços ou de 20 a 99 pessoas na indústria.
De acordo com o levantamento, atualmente, o país conta com 29,2 milhões de empreendedores. A maior parte possui renda de até dois salários-mínimos. No total, são quase 20 milhões com este ganho (68%). Em segundo lugar, estão os que apresentam rendimentos de dois a cinco salários-mínimos (24%) e em terceiro, aqueles que recebem acima de cinco salários-mínimos (9%).
Entre os que recebem até dois salários-mínimos, a maioria é negra (59%). Conforme o lucro aumenta, a proporção de empreendedores negros diminui. Entre os que ganham a partir de cinco salários-mínimos, o contingente é de 25%.
O mesmo ocorre com a participação das mulheres. Na faixa de renda até dois salários-mínimos, elas representam 36%. Esse percentual cai para 28% nos empreendimentos com remuneração a partir de cinco salários. Outro dado relevante apontado pela investigação indica que a maioria dos microempresários não possuem funcionários (75%).
“Os empresários de pequenos negócios são um universo de formiguinhas que não cansam e movimentam bairros, comunidades, municípios, movem o país. São os imprescindíveis, que lutam o ano todo, lutam por uma vida. Fazem a economia girar”, diz Décio Lima, presidente do Sebrae.
Ainda, de acordo com o estudo, a qualificação também impacta no pagamento. Entre os que são remunerados com até dois salários-mínimos, 45% têm ensino fundamental completo. Já nas faixas de renda mais altas, a maioria cursou ensino superior (62%).
A economista Luciana de Oliveira Ribeiro evidencia que os dados não devem ser compreendidos de maneira isolada. “Sabemos que devido à desigualdade, os níveis de escolarização da população negra ainda são inferiores aos de brancos no Brasil de modo que a discriminação também se reproduz no mercado de trabalho. Notamos que seja trabalhando de maneira autônoma ou para terceiros, negras e negros ocupam postos de menor prestígio e consequentemente com menor remuneração”, indica.
No grupo que recebe até dois salários-mínimos, verifica-se forte concentração de pessoas em atividades consideradas mais simples, que exigem menor nível de especialização como comércio, construção e serviços diversos. Já na camada com cinco salários-mínimos ou mais, estão os profissionais com nível maior de escolaridade, a exemplo de advogados, contadores, arquitetos, engenheiros, consultores empresariais.
A região também reflete na remuneração. No Nordeste, majoritariamente, os empreendedores recebem até dois salários-mínimos (84%). O índice cai para um pouco mais da metade no Sul (57%).
Os pequenos negócios representam 95% das empresas brasileiras e 30% do PIB (Produto Interno Bruto). Os números se baseiam na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Franciele Rodrigues
Jornalista e cientista social. Atualmente, é doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Estadual de Londrina (UEL). Tem desenvolvido pesquisas sobre gênero, religião e pensamento decolonial. É uma das criadoras do "O que elas pensam?", um podcast sobre política na perspectiva de mulheres.