Pesquisa com a primeira geração de estudantes que cursaram o “Novo Ensino Médio” revela que a maioria desaprova o novo currículo
Um estudo inédito com a primeira geração que cursou o Novo Ensino Médio (NEM) confirma o fracasso do modelo e revela que 9 em cada 10 desses(as) estudantes desaprovam as mudanças impostas durante o governo Temer. O trabalho científico, conduzido por professores(as) e pesquisadores(as) de universidades públicas, contrasta com pesquisas de opinião patrocinadas por grupos empresariais interessados na manutenção da reforma curricular.
“Conhecer as percepções e a avaliação de estudantes da primeira geração que concluiu o NEM em 2023, nos permitiu uma compreensão mais apurada sobre o quanto esses estudantes foram prejudicados em suas aprendizagens e formação. É triste e preocupante ouvir a maioria dizer que o ensino médio não lhe proporcionou conhecimentos científicos fundamentais à vida, à continuidade dos estudos e ao ingresso no mundo do trabalho”, diz a coordenadora da pesquisa, Márcia Jacomini.
O estudo constatou que 87,2% das menções espontâneas ao NEM foram negativas. Para 92,7% dos(as) respondentes, o ensino médio no novo currículo deveria ser cancelado. Em nota técnica divulgada pelos(as) pesquisadores(as), a avaliação é de que, as melhorias prometidas não foram entregues e que os(as) sujeitos que, de fato, vivenciaram as consequências das mudanças foram prejudicados e clamam pela revogação da reforma.
Os itinerários formativos, uma das principais novidades introduzidas pelo NEM, é um exemplo disso. Seis em cada dez estudantes (64,5%) responderam que não cursaram os itinerários escolhidos e oito em cada dez (81,5%) manifestaram insatisfação com os componentes curriculares. Para os(as) pesquisadores(as), isso explica a percepção pessimista desses estudantes diante do Enem. A maioria (85%) afirma que não se sente preparada para o exame ou para outros vestibulares.
“Não se trata mais de medir uma opinião genérica da população, mas de conhecer a experiência concreta dos alunos com o currículo do NEM. Infelizmente, esta experiência tem sido muito negativa, indicando que no chão da escola as promessas do NEM não são cumpridas. Estamos produzindo uma geração de jovens desalentados. A reforma do Ensino Médio precisa ser revista com urgência”, pontua uma das autoras do estudo, Ana Paula Corti.
Além de não cursar os itinerários que escolheram, os(as) estudantes reclamaram da redução das disciplinas básicas. Para 79,3% dos(as) entrevistados(as) essa mudança vai ter impacto negativo em suas vidas. Os resultados da nova pesquisa também confirmam que a ampliação da carga horária não foi concretizada, pois as aulas da expansão não são frequentadas por 61,8% dos(as) estudantes.
Pesquisa inédita
O estudo Primeira geração de concluintes avalia o “Novo Ensino Médio” é resultado de um trabalho científico de professores(as) e pesquisadores(as) da Rede Escola Pública e Universidade (REPU) e do Grupo Escola Pública e Democracia (Gepud), realizado com estudantes do 3º ano de seis escolas públicas da Região Metropolitana de São Paulo.
Foram aplicados questionários a estudantes do 3º ano de seis escolas públicas da Região Metropolitana de São Paulo, sendo obtido um total de 696 respostas. A coleta de dados ocorreu entre 23 de outubro e 4 de novembro de 2023. A investigação buscou compreender a percepção dos(as) estudantes sobre os itinerários formativos, a expansão de carga horária e outros aspectos da reforma.
Fonte: APP Sindicato