Além das consequências para o desenvolvimento econômico nacional, trabalhadores do setor sofrem com aumento do desemprego
Segundo relatório divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta quinta-feira (5), em novembro de 2022, a produção industrial nacional variou -0,1% frente a outubro. No ano de 2022, o setor acumula redução de 0,6% e, em 12 meses, queda de 1,0%. Entre as atividades, as influências negativas mais importantes vieram de indústrias extrativas (-1,5%) e equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (-6,5%). Vale destacar também os recuos registrados pelos ramos de produtos têxteis (-5,4%), de confecção de artigos do vestuário e acessórios (-3,8%), de produtos de metal (-1,5%) e de produtos de minerais não metálicos (-1,2%).
Por outro lado, entre as quinze atividades em crescimento, produtos alimentícios (3,2%), veículos automotores, reboques e carrocerias (4,4%), bebidas (10,3%) e coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (2,8%) exerceram os principais impactos. Outras contribuições relevantes sobre o total da indústria vieram de metalurgia (3,1%), de produtos de madeira (7,4%), de produtos diversos (6,5%) e de perfumaria, sabões, produtos de limpeza e de higiene pessoal (3,5%).
Na comparação com novembro de 2021, o setor industrial avançou 0,9% no mesmo período deste ano. Altair Garcia, técnico do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (DIEESE), chama atenção para a realidade da indústria nacional que vem perdendo espaço desde a década de 1980, ao passo que o país tem exportado, principalmente, matérias primas.
De acordo com ele, nos últimos seis anos, em todo território nacional, em média, 17 indústrias encerraram as atividades diariamente. Os reflexos, destaca Garcia, são sentidos não apenas no crescimento econômico do país, mas também pelos trabalhadores que ficam sem renda e com dificuldades de serem reinseridos no mercado que enfrenta retração e, portanto, tem desacelerado o número de contratações ao mesmo tempo que aumenta o volume de demissões. Apenas em novembro de 2022, o setor perdeu 25.207 vagas, conforme dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged). Saiba mais aqui.
“O estado da indústria de transformação é grave no Brasil. Nós perdemos 17 indústrias por dia nos últimos seis anos. Considerando de 2015 para 2020, totaliza mais de 36 mil fábricas fechadas no Brasil. Isso afeta não apenas o desenvolvimento nacional e inovação, mas também a geração de emprego”, explica.
O vice-presidente, Geraldo Alckmin (PSB) durante posse como ministro Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, também falou sobre a necessidade da reindustrialização, com ênfase no desenvolvimento sustentável, e aliada à reforma tributária e justiça social. “O fortalecimento da indústria passa, invariavelmente, pela redução do custo Brasil e pela melhoria do ambiente de negócios no país. Reforma tributária nesse contexto é fundamental”, disse.
Garcia avaliou o discurso de Alckmin de maneira positiva, sobretudo, ao resgatar o papel do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para o financiamento da indústria brasileira. “O ministro colocou os desafios como a diminuição da taxa de juros, recuperação das micro e pequenas empresas, o reposicionamento da indústria brasileira a partir de outros eixos alinhados ao século 21 como desenvolvimento ecológico sustentável, manufatura avançada, coordenação do estado, criando diálogo com outros ministérios como Ciência e Tecnologia”, analisa.
Franciele Rodrigues
Jornalista e cientista social. Atualmente, é doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Estadual de Londrina (UEL). Tem desenvolvido pesquisas sobre gênero, religião e pensamento decolonial. É uma das criadoras do "O que elas pensam?", um podcast sobre política na perspectiva de mulheres.