Ricardo Barros (PP) e Fernando Francischini, dois políticos que nos últimos quatro anos ganharam projeção como aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), estão agora abrigados no governo do Paraná, onde Ratinho Junior (PSD) inicia seu segundo mandato.
Ricardo Barros foi líder do governo Bolsonaro na Câmara e, embora tenha sido reeleito para o sétimo mandato na Casa nas eleições de 2022, acabou optando por não voltar a Brasília. No início deste mês, assumiu o comando da Secretaria de Estado da Indústria, Comércio e Serviços na gestão Ratinho Junior.
Sua esposa, a ex-deputada federal Cida Borghetti (PP), também saiu do radar de Brasília. Logo após a posse do presidente Lula, ela pediu exoneração da cadeira de conselheira da Itaipu. O mandato na hidrelétrica terminaria apenas em maio de 2024, mas ela antecipou a saída argumentando que sua indicação estava vinculada à gestão Bolsonaro.
Já o ex-deputado federal Fernando Francischini, que no final de 2021 se tornou o primeiro parlamentar cassado pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral) por espalhar fake news, ganhou um cargo comissionado na Secretaria de Estado da Justiça e Cidadania.
Em 2018, no dia da eleição, Francischini fez uma live dizendo que duas urnas estavam fraudadas e aparentemente não aceitavam votos no então candidato Bolsonaro, o que não era verdadeiro.
Francischini ocupava o cargo de deputado federal em 2018 e concorreu a um assento na Assembleia Legislativa do Paraná. Terminou como candidato mais votado na disputa em seu estado, com mais de 400 mil votos. Barros e Francischini não retornaram aos pedidos de entrevista.
Os bolsonaristas Barros e Francishini integram a ampla aliança que deu respaldo à reeleição de Ratinho Junior.
O governador foi um dos principais aliados de Bolsonaro e tem dito que permanece na oposição ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), mesmo filiado ao PSD, sigla contemplada na Esplanada dos Ministérios do petista.
Ratinho Junior vem repetindo, contudo, que irá manter uma boa relação institucional com o presidente e marcou presença na reunião convocada pelo chefe do Planalto com os governadores logo após os atos golpistas de 8 de janeiro.
Na prática, Ratinho Junior já deu sinais de que pretende trabalhar afinado com o governo federal.
Logo após a vitória de Lula nas urnas, ele resolveu ampliar o número de secretarias, fazendo uma espécie de espelho com os futuros ministérios que o petista já desenhava. A ideia, explicou o governo estadual na época, era facilitar a captação de recursos de Brasília, na relação fundo a fundo.
O bolsonarista e ex-deputado federal Paulo Martins (PL), que perdeu a disputa pela cadeira do Paraná no Senado para o ex-juiz Sergio Moro (União Brasil), também disse ter sido convidado para integrar a gestão Ratinho Junior, mas recusou.
Atuando no setor privado, ele disse à Folha de São Paulo que fará oposição ao PT e vai ajudar a organizar o PL. Ratinho Junior e o ex-presidente Bolsonaro se engajaram na campanha de Paulo Martins, que recebeu 29,12% dos votos, contra 33,50% de Sergio Moro.
Nomeação polêmica
Na gestão Ratinho Junior, Francischini primeiro ganhou em janeiro um cargo comissionado de chefe de coordenação na estrutura da recém-criada Secretaria de Estado da Mulher e Igualdade Racial.
Dias depois, com a repercussão negativa da nomeação para a pasta, o governo estadual transferiu o mesmo cargo comissionado para a estrutura da Secretaria da Justiça.
Procurado pela reportagem, o governo estadual não quis comentar o episódio. A deputada federal Leandre Dal Ponte (PSD) foi nomeada na última segunda-feira (13) para comandar a Secretaria da Mulher.
No decreto que trazia a nomeação de Francischini, outras quatro pessoas também eram confirmadas para postos de chefia na mesma pasta – 3 homens e apenas 1 mulher.
Nos últimos quatro anos, a gestão Ratinho Junior recebeu críticas pela pouca presença de mulheres no primeiro escalão —apenas uma, na maior parte do mandato. Na atual gestão, das 24 secretarias, apenas 3 são comandadas por mulheres.
Já Ricardo Barros agora vai para uma secretaria que já ocupou no passado. Ele esteve à frente da pasta da Indústria durante a gestão do tucano Beto Richa no governo do Paraná.
Na Câmara Federal, Barros ficou conhecido pelo pragmatismo típico do centrão. Antes de se tornar um nome afinado com o bolsonarismo, ele já tinha sido líder de FHC, integrou a base aliada das primeiras gestões petistas e também foi ministro de Michel Temer.
No Paraná, a família Barros mantém base eleitoral na cidade de Maringá e longa trajetória na política e no comando do PP –a atual presidente da legenda no estado é a deputada estadual Maria Victoria, filha do casal Ricardo Barros e Cida Borghetti e no exercício do terceiro mandato na Assembleia Legislativa.
A família Francischini também está na política. O deputado federal Felipe Francischini (União Brasil) está no segundo mandato na Câmara Federal.
Além disso, inelegível por conta da decisão do TSE, Fernando Francischini fez campanha no ano passado para a esposa, a então vereadora de Curitiba Flávia Francischini (União Brasil), que saiu vitoriosa nas urnas e hoje ocupa uma cadeira na Assembleia Legislativa.
Fonte: Folha de São Paulo