Estudo identifica também que ganho médio do trabalhador brasileiro está estagnado há 10 anos
Edição mais recente da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), divulgada na última terça-feira (28) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), traz dados alarmantes sobre a realidade do trabalhador brasileiro. O rendimento médio da população economicamente ativa caiu 1% nos últimos dois anos e a informalidade bateu novo recorde.
Em 2021, os trabalhadores receberam, em média, R$ 2.743 por mês. Já em 2022, o ganho foi de R$ 2.715 mensais. O valor representa R$ 28 a menos no bolso da população. Outra evidência importante trazida pelo estudo é que a remuneração mensal cresceu apenas 1,3% na última década. Isto quer dizer que, o salário médio recebido pela classe trabalhadora está estagnado desde 2012 no país.
Número de desempregados recua, mas sem carteira assinada
Ainda, de acordo com o levantamento, o Brasil encerrou 2022 com taxa média de desocupação atingindo 9,3% da população, o que equivale a aproximadamente 10 milhões de pessoas sem ocupação. No último trimestre do ano, a taxa chegou a 7,9%. O contingente é o menor observado desde 2015.
A maior absorção de mão de obra foi puxada pelo comércio, com destaque para o setor de recuperação de veículos de veículos automotores e motocicletas, que acumulou ganho de 9,4%, empregando mais 1,6 milhão de pessoas. A atividade que engloba “outros serviços” foi a com maior percentual de aumento da população ocupada, 17,8%, atingindo 5,2 milhões de trabalhadores.
A segunda maior alta foi no segmento de alojamento e alimentação, que cresceu 15,8% e viu a quantidade de pessoas ocupadas atingir 5,4 milhões. Somente o setor de agricultura, pecuária, produção florestal, pesca e aquicultura teve queda percentual da população ocupada (-1,6%). A estimativa é que 8,7 milhões de trabalhadores estavam ativos no setor em 2022.
Porém, embora mais trabalhadores estejam inseridos no mercado, as contratações estão mais precarizadas. A média anual de empregados sem carteira assinada aumentou de 2021 para 2022. A informalidade saltou 14,9%, passando de 11,2 milhões para 12,9 milhões de pessoas desprotegidas no país. O registro é o maior número já observado nos últimos 10 anos.
Já a parcela de trabalhadores com carteira assinada cresceu 9,2%, chegando a 35,9 milhões. O número médio de trabalhadores por conta própria também subiu 2,6%, representando 25,5 milhões. Observa-se, portanto, que as admissões sem acesso a direitos resguardados pela legislação trabalhista como férias, 13º salário, descanso remunerado aumentaram mais de 5% em comparação às com regime de trabalho reguladas pela CLT (Consolidação das Leis do Trabalho).
“Nos últimos dois anos, é possível visualizar um crescimento tanto do emprego com carteira quanto do emprego sem carteira. Porém, é nítido que o ritmo de crescimento é maior entre os sem carteira assinada”, ressalta Adriana Beringuy, coordenadora de Trabalho e Rendimento do IBGE.
Franciele Rodrigues
Jornalista e cientista social. Atualmente, é doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Estadual de Londrina (UEL). Tem desenvolvido pesquisas sobre gênero, religião e pensamento decolonial. É uma das criadoras do "O que elas pensam?", um podcast sobre política na perspectiva de mulheres.