Exposição acontece desde 2016 e busca promover a inclusão ao mesmo em que instiga o combate ao preconceito
“Este projeto começou há muitos anos, quando minha filha era pequena. Eu fui com ela até o Shopping Catuaí e tinha uma exposição de Dias das Mães, eram painéis bem grandes, mãe e filho e não havia nenhuma criança atípica, só as ditas ‘normais’. E eu olhei para minha filha e fiquei pensando: Puxa vida porque não tem exposição só com crianças com Síndrome de Down? ”, questiona Rosângela Aparecida de Oliveira, mãe de Giovana Ariozo Alexandre, atualmente com 14 anos.
Rosângela, que é bancária e transformou o passatempo da fotografia em profissão, é idealizadora do projeto “Um novo olhar”. Através dele, desde 2017, é realizada uma mostra de fotos que traz crianças e adolescentes com Síndrome de Down. Ofertada, anualmente, em todo mês de março, a exposição está disposta no 1º piso do Shopping Aurora, zona sul de Londrina.
Neste ano, a mostra é composta por 18 fotos de crianças e adolescentes entre dois e 14 anos, e pode ser visitada até a próxima terça-feira, 21 de março. A data foi escolhida pois marca o Dia Internacional da Síndrome de Down. Estabelecida pelas Nações Unidas, em 2012, a ocasião faz referência à trissomia do 21º cromossomo que causa a Síndrome, e busca garantir oportunidades e direitos a este segmento.
“A exposição não é só para amigos, famílias que possuem crianças com Síndrome de Down. É para a sociedade em geral. [Queremos] a inclusão através da fotografia, para todas as pessoas verem que elas são tão lindas como todas as outras crianças”, ressalta.
Rosângela, que também é voluntária da APS Down Londrina, organização que reúne pais e amigos de pessoas com a Síndrome, indica que iniciou o projeto sem nenhuma ajuda de custo. Porém, desde a terceira edição, conta com a colaboração de outras mães. Hoje, são 16 apoiadoras, mas a iniciativa está aberta para receber mais beneficiários a fim de expandir a exposição que já ocupou outros espaços da cidade.
“Não parei, no primeiro e segundo ano eu banquei sozinha, depois eu pedi ajuda para outras mães. Patrocínio sempre tentei, mas nunca consegui, justamente para diminuir o valor para as mães. Recorro a um shopping, a outro. No [Shopping] Boulevard, fiquei por dois anos. Também coloquei em outros lugares como LabImagem, Câmara de Vereadores, Sindicato dos Professores. Cada ano que passa está tendo mais visibilidade”, aponta.
Luta contra capacitismo
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) estima que, existem pelo menos 300 mil pessoas com Síndrome de Down no país. Mas as barreiras para a inclusão ainda persistem. De acordo com Rosângela, não é apenas o ambiente escolar que precisa avançar na aplicabilidade das legislações que estabelecem o reconhecimento das diversidades, mas todos os segmentos e lugares.
“Os desafios são muitos, inclusive, agora com a exposição conversei com uma marca para fazer um desfile no dia 21 e a loja falou para mim que ‘não queria veicular o seu nome a crianças com problema’. Também escolas que convidam a se retirar, não são preparadas para receber embora devesse ser, de acordo com a lei”, adverte.
Uma das primeiras iniciativas realizadas pela nova gestão de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) foi a suspensão do Decreto 10.502, criado em 2020, responsável por segregar estudantes com deficiência dos espaços educacionais. Mais conhecido como “Lei da Exclusão”, o dispositivo estabelecia nova Política Nacional de Educação Especial. Com ela, crianças com quaisquer tipos de deficiência deveriam ir para escolas específicas, ameaçando os princípios da educação inclusiva e igualitária.
A justificativa para a proposição alegada pela gestão de Bolsonaro (PL) foi que pessoas com deficiência “não se beneficiariam” da educação regular. À época, especialistas chamaram atenção para o teor discriminatório e inconstitucional da legislação que fere preceitos da universalidade e inclusão no acesso à educação, garantidos pela Constituição Federal de 1988 e Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) de 1996. A crítica foi ratificada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) que considerou a nulidade da determinação.
Franciele Rodrigues
Jornalista e cientista social. Atualmente, é doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Estadual de Londrina (UEL). Tem desenvolvido pesquisas sobre gênero, religião e pensamento decolonial. É uma das criadoras do "O que elas pensam?", um podcast sobre política na perspectiva de mulheres.