Informações do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), divulgados nesta quarta-feira (29) pelo Ministério do Trabalho, demonstram que Brasil abriu 241.785 vagas formais em fevereiro. O indicador considera o balanço entre contratações e desligamentos. No último mês, o país registrou 1,9 milhão admissões e 1,7 milhão demissões. Em comparação a janeiro, os recrutamentos de fevereiro foram 2,7% maiores e as dispensas recuaram 5,8%. Porém, ante a fevereiro de 2022, o número indica desaceleração econômica, visto que no mesmo período do ano passado foram abertos 328.507 postos de trabalho com carteira assinada, ou seja, retratação de 32% em um ano.
Entre as 241,8 mil vagas, 77,3 mil são de trabalhadores aprendizes, intermitentes, temporários com carga de até 30 horas semanais. A área de serviços liderou a criação de empregos no período, com a oferta de 164.200 postos de trabalho, seguidos pela indústria, com 40.380 vagas. O segmento da construção aparece em terceiro lugar, com 22.246 vagas criadas, e o de agropecuária em quarto, com 16.284. Apenas o setor de comércio registrou saldo negativo, com perda de 1.325 postos.
As cinco regiões do país registraram aumento na geração de empregos com carteira assinada. Porém, o salário médio das contratações de fevereiro foi de R$ 1.978,12. O valor é 2,47% inferior ao identificado no mês anterior, representando R$ 54,14 a menos no bolso dos trabalhadores. O maior número de vagas (152,2 mil) foi para empregos com faixa de remuneração de 1 a 1,5 salário-mínimo. Os estados que mais inseriram trabalhadores no mercado de trabalho no período foram: São Paulo (65,4 mil); Minas Gerais (26,9 mil) e Paraná (24,1 mil). Já os menores saldos foram observados no Amapá (139); Alagoas (160) e Roraima (220).
Desemprego recua, mas puxado por informalidade
Embora mais trabalhadores estejam inseridos no mercado, as contratações estão mais precarizadas. A média anual de empregados sem carteira assinada aumentou de 2021 para 2022. A informalidade saltou 14,9%, passando de 11,2 milhões para 12,9 milhões de pessoas desprotegidas no país. O registro é o maior número já observado nos últimos 10 anos.
Já a parcela de trabalhadores com carteira assinada cresceu 9,2%, chegando a 35,9 milhões no final de 2022. O número médio de trabalhadores por conta própria também subiu 2,6%, representando 25,5 milhões. Observa-se, portanto, que as admissões sem acesso a direitos resguardados pela legislação trabalhista como férias, 13º salário, descanso remunerado aumentaram mais de 5% em comparação às com regime de trabalho reguladas pela CLT (Consolidação das Leis do Trabalho).
A economista Andrea Bezerra salienta que, embora os índices de desocupação estejam diminuindo, o que tem sido observado é que a inserção no mercado de trabalho está sendo alavancada, sobretudo, por contratos sem vínculo reconhecido. Além disso, mesmo entre as vagas celetistas, também é possível notar retrocessos advindos de mudanças na legislação trabalhista efetuadas nos últimos cinco anos. Para ela, tais modificações integram uma “agenda contrária aos interesses da classe trabalhadora”.
“O último levantamento do Caged ratifica resultados de outras pesquisas. Igualmente, eles indicam aumento da informalidade, contratações com salários mais baixos. Há interferência da baixa expectativa de crescimento econômico que o país tem atravessado, mas não é só isso. Precisamos lembrar da reforma trabalhista, aprovada por Temer, da “carteira verde e amarela” de Bolsonaro, medidas que precarizaram ainda mais a vida dos trabalhadores no país. Foram períodos marcados pelo aumento da exploração, carestia, desmonte de políticas públicas e estado de bem estar social”, avalia.
Londrina
Na cidade, o saldo também foi positivo: 1.721 vagas foram criadas em fevereiro, considerando 8.982 admissões frente a 7.261 desligamentos. Assim como no cenário nacional, os novos postos surgiram, predominantemente, no setor de serviços: 1.538 recrutamentos. Londrina teve o segundo melhor desempenho do estado para o período, ficando atrás apenas de Curitiba.
Franciele Rodrigues
Jornalista e cientista social. Atualmente, é doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Estadual de Londrina (UEL). Tem desenvolvido pesquisas sobre gênero, religião e pensamento decolonial. É uma das criadoras do "O que elas pensam?", um podcast sobre política na perspectiva de mulheres.