Evento é aberto ao público e busca discutir ações que combatam violências no ambiente escolar. Casos aumentaram nas últimas semanas em todo o país
Nesta terça-feira (11) a partir das 19h ocorre, na Câmara Municipal de Londrina (CML), reunião pública para debater a violência nas escolas. O evento, coordenado pelas Comissões de Seguridade Social, Educação, Cultura, Desporto, Paradesporto e Lazer, também poderá ser acompanhado pelos canais da CML no Facebook e Youtube.
Foram convidados para integrar a discussão, representantes das Secretarias Municipais de Educação e de Assistência Social, do Núcleo Regional de Ensino, Polícia Militar, Patrulha Escolar, Guarda Municipal, Conselho Regional de Psicologia, e sindicatos de professores.
Vereadora pelo Partido dos Trabalhadores (PT) e presidenta da Comissão de Seguridade Social, Lenir de Assis, explica que a finalidade do encontro é identificar “ações frente aos sucessivos ataques às escolas que têm tirado a tranquilidade de toda a sociedade, especialmente, daqueles que vivem no ambiente escolar”, pontua.
Para a parlamentar, a situação é complexa, porém é necessário buscar saídas como a identificação de fragilidades que possam tornar os ambientes escolares vulneráveis a ataques. Além disso, ela destaca a necessidade de as políticas educacionais considerarem as diversas realidades dos estudantes, docentes e demais profissionais que chegam aos colégios.
Assim, por ser espaço de encontro entre sujeitos com diferentes visões de mundo, classe social, pertencimento étnico-racial, identidade de gênero, orientação sexual, religião, entre outros marcadores sociais – experiência fundamental para a aprendizagem da vida em sociedade – as escolas também estão condicionadas a conflitos, tornando-se, portanto, urgente que os poderes públicos criem ações que qualifiquem trabalhadores da educação a lidar com as diversidades e estimule os estudantes a reconhece-las e respeitá-las.
“Penso que rever as estruturas físicas, com ambientes mais seguros, saídas de emergências, alarmes de segurança são importantes. No entanto, é fundamental que os profissionais da educação, os gestores e responsáveis pela política de educação revejam como a educação se prepara para acolher perfis tão variados de estudantes, que trazem consigo um histórico de vida que precisa ser identificado”, afirma.
Crescem atentados em todo país
A atividade surge após o aumento de ataques e ameaças ao ambiente escolar no país, vide os casos mais recente na Escola Estadual Thomazia Montoro, em São Paulo e na creche Cantinho Bom Pastor, em Blumenau. Na capital paulista, um estudante, de 13 anos, invadiu a escola, com uma faca causando a morte de uma professora e deixando mais cinco pessoas feridas. Já em Santa Catarina, um homem de 25 anos, pulou o muro da instituição com uma machadinha e tirou a vida de quatro crianças entre 5 e 7 anos. Outras cinco ficaram feridas. Menos de 10 dias separam os dois casos.
Na região, um adolescente de 16 anos foi apreendido após sacar um revolver e ameaçar um colega no Colégio Estadual Irondi Pugliesi, localizado em Arapongas, norte do Paraná. O episódio ocorreu no dia 29 de março, dois dias após o atentado em São Paulo (27 de março). Segundo informações da Secretaria Estadual de Educação (SEED), a situação ocorreu durante conversa na sala da coordenação pedagógica, após dois estudantes serem retirados de sala de aula devido uma discussão. As profissionais conseguiram acalmar o aluno que fugiu sem efetuar nenhum disparo.
Na última segunda-feira (3), Polícias Militar e Civil cumpriram de mandado de internação provisória de um adolescente que prometia provocar um atentado com arma branca em uma escola de Londrina. A apreensão do adolescente ocorreu após o acompanhamento de ameaças publicadas em redes sociais. De acordo com informações do Portal Bonde, na casa do jovem, foram apreendidos uma faca, luvas e uma máscara semelhante à utilizada em crimes dentro de escolas praticados nos Estados Unidos e em São Paulo.
Segundo levantamento realizado pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), no Brasil, o primeiro caso de ataque à escola causado por alunos ou egressos ocorreu em 2002. Desde então, já foram contabilizados 22 ocorrências, sendo que mais da metade (13 casos) aconteceram nos últimos dois anos. O mapeamento considera somente violências planejadas e, portanto, o número pode ser ainda maior.
Diversos estudiosos têm avaliado que o aumento dos atentados às escolas está relacionado à ascensão de discursos de ódio, propagados pela extrema-direita no país. A análise é compartilhada pela vereadora que relembra, por exemplo, o incentivo ao armamento da população defendido pelo ex-presidente da República, Jair Bolsonaro (PL).
“Importante recordar que nos últimos anos sofremos ataques variados: discursos racistas, homofóbicos, preconceituosos e até atos terroristas, como o de 8 de janeiro. Também tivemos uma sociedade que se armou. Tudo isso legitimado por um chefe de Estado. Não há dúvidas de que tudo isso influencia o comportamento das pessoas, principalmente das crianças que convivem nesses ambientes motivadores de conflitos. Não há como promover ambientes de paz se não criarmos outras narrativas diferentes dessas”, avalia Assis.
Programa Municipal de Saúde Mental
De acordo com a parlamentar, presidindo a Comissão de Seguridade Social, ela tem acompanhado o “drama” de centenas de pessoas que procuram diariamente acolhimento e tratamento na área de saúde mental na cidade. Ela salienta que, junto a Secretaria de Saúde, tem reivindicado a ampliação dos serviços como os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS).
Porém, observando a maior busca por profissionais da educação e estudantes, conta que protocolou projeto de lei que visa a criação do Programa Municipal de Saúde Mental nas Escolas de Londrina. Após a pandemia de Covid-19, os casos de agressão, desinteresse e aumento de transtornos mentais tem aumentado nos espaços escolares.
“Propomos uma articulação com as iniciativas já existentes nas escolas, reforçado com novos profissionais da Psicologia, incluindo campo de estágio, o que hoje não existe. Há no município serviços como justiça restaurativa, professoras mediadoras de conflito, rede de enfrentamento à violência contra criança e adolescentes. Estes fazem um trabalho merecedor de todo reconhecimento e têm um papel muito importante em casos de conflitos nos ambientes escolares, porém, é fundamental que tenhamos uma política de saúde mental nas escolas, como forma de prevenir várias situações, como os ataques recentes que nos abalaram muito. Estes ataques são situações extremas, mas há também aquelas cotidianas que comprometem a aprendizagem nesses espaços e que precisam da atuação de psicólogo”, assinala.
Na quarta-feira (5), o presidente Lula (PT), indicou a destinação de R$ 150 milhões para estados e municípios fortalecerem ações de segurança nas escolas como Patrulha Escolar. Em Londrina, o prefeito, Marcelo Belinati (PP), determinou que a Guarda Municipal de Londrina reforçasse a atuação em todas os Centros de Educação Infantil e escolas municipais da cidade. O mandatário também anunciou, por meio de suas redes sociais, que todas as escolas e creches municipais, estaduais e particulares da cidade irão contar com um botão do pânico.
Franciele Rodrigues
Jornalista e cientista social. Atualmente, é doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Estadual de Londrina (UEL). Tem desenvolvido pesquisas sobre gênero, religião e pensamento decolonial. É uma das criadoras do "O que elas pensam?", um podcast sobre política na perspectiva de mulheres.