Segundo reportagem da Agência Pública, o iFood teria contratado empresas de publicidade no intuito de dissipar as narrativas dos manifestantes que aderiram ao Breque dos Apps, em Junho de 2020. A principal reivindicação do breque era o aumento do salário dos entregadores. Uma das estratégias utilizadas foi a criação de perfis fakes e fanpages no Facebook, trabalhando memes, publicações e até mesmo a recriação do dialeto dos motoqueiros.
Tais publicações utilizavam estratégias similares às disseminadas pelo Gabinete do Ódio, criando cortinas de fumaça e desviando o foco das principais reivindicações. Foi assim que a pauta da vacinação dos entregadores ganhou força, sendo repercutida, inclusive, por veículos da grande mídia.
A empresa Benjamin Comunicação e a agência Social Qi (SQi), serviram ao iFood estratégias que envolviam a análise de assuntos tratados em grupos de WhatsApp, principais reivindicações dos motoristas, a labuta diária e outros, para alinhar os conteúdos das páginas falsas aos interesses dos entregadores de aplicativo, ganhando assim a sua confiança. Paulo Galo, líder antifascista, fora consultado por colegas, tendo muitos dos companheiros sido levados a pensar que a iniciativa da criação de páginas para a mobilização da categoria partira dele, o que não aconteceu.
A Agência Pública procurou tais empresas, oferecendo direito de resposta, ao qual foram emitidas notas. Apesar de O Globo ter feito um movimento de descaracterizar a relevância da investigação, atribuindo ao escândalo um “dano médio de imagem”, a atenção do Conar, o Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária, foi captada e tais ações devem ser investigadas pela entidade, visto que tais atitudes configuram crimes.
Dados da CUT informam que mais de 270 mil brasileiros trabalham como entregadores de aplicativos, número que cresceu mais de 1000% nos últimos cinco anos. Na realidade do iFood, alguns destes motoristas, inclusive, sem relação direta com a empresa, respondem a organizações intermediárias, conhecidas como OLs, as quais, em muitos casos, suspendem os motoristas sem a menor explicação.
Além da reivindicação principal, de aumento do salário, para a qual os aplicativos fazem vista grossa, temos os fatores: preço do combustível, trânsito caótico, jornada extensa e desregulada de trabalho. E a desmobilização da causa sendo orquestrada há dois anos via publicidade.
Fonte: Leiliani Peschiera, com informações da Agência Pública e Brasil de Fato.