Quatro em cada dez mães apresentam transtornos psicológicos. Sobrecarga e estigmas de gênero dificultam tratamento
Até o próximo dia 28 de maio, a mostra fotográfica “Caixa de Memórias: O mundo pelo olhar da mãe” está aberta para visitação no Londrina Norte Shopping. O acervo é da fotografa Melina Caldani e traz registros autorais realizados nos últimos 11 anos.
As imagens apresentam um “olhar intimista de uma mãe sobre o cotidiano dos próprios filhos. A exposição tem 19 fotos, selecionadas de acervo pessoal de milhares, além de um álbum com mais 23 fotos, disponíveis para o público manusear e conhecer, que narram a primeira década da família da fotógrafa”, conta a produtora de conteúdo, Marjorie Ostrowski.
Além da mostra, no dia 24 de maio, às 19h30, Melina oferta uma oficina de fotografia empregando apenas o celular. A ideia é ensinar mães e demais interessados em utilizar o aparelho para captar memórias do dia a dia.
“A exposição tem o propósito de aproximar o público do tema maternidade. Muitas cenas do dia a dia do lar ficam restritas ao testemunho da mãe. Dessa forma, tanto a mostra quanto a oficina dão oportunidade para que esse universo tão privado seja visto e, assim, possa ser recebido com mais naturalidade pelas pessoas em geral”, ressalta.
Londrina adere campanha nacional
A atividade integra a campanha “Maio Furta-Cor”. Criada em 2020, a iniciativa busca sensibilizar e conscientizar a população para a causa da saúde mental materna. Atualmente, o grupo é composto por aproximadamente 300 mulheres pertencentes a diferentes regiões do Brasil (saiba mais aqui). O movimento está presente em outros 12 países. Em território nacional, cerca de 50 leis voltadas a temática já foram aprovadas, sendo três de âmbito estadual no Paraná, Sergipe e Distrito Federal.
Em Londrina, o Maio Furta-Cor foi instituído por meio da Lei nº 13.464, que aponta que o mês de maio deve ser dedicado às ações de conscientização, incentivo ao cuidado e promoção da saúde mental materna. A lei, de autoria das vereadoras Flávia Cabral, Lenir de Assis e Daniele Ziober, foi sancionada pelo prefeito Marcelo Belinati em janeiro deste ano.
Segundo Ostrowski, o núcleo Londrina da Campanha Maio Furta-Cor é composto por mulheres, em sua maioria mães, voluntárias, que de alguma forma foram atravessadas pela questão em sua vida pessoal e profissional. “Nossos trabalhos são para ofertar diversas ações durante todo o mês de maio, no sentido de problematizar as questões da maternidade, acolher mulheres mães em suas singularidades e trazer para a sociedade informações buscando sensibilizar as pessoas e o poder público sobre a relevância do tema”, explica.
Ainda, de acordo com a integrante, as atividades do grupo não ficam restritas a apenas o mês de maio, tradicionalmente, conhecido pelo Dia das Mães. “Embora nossas ações se concentrem no mês de maio, nosso trabalho não se encerra neste mês, porque buscamos apoiadores e parceiros, apresentamos e difundimos o assunto durante diversos meses do ano”, pontua.
Saúde mental materna ainda é tabu
De acordo com as integrantes do grupo em Londrina, a importância do debate é que quanto mais a saúde mental materna é discutida de forma aberta e sem preconceitos, mais mulheres poderão ser acolhidas e cuidadas. “Hoje, sabemos que quatro em cada dez mulheres apresentarão alguma forma de sofrimento psíquico, seja depressão, ansiedade, burnout ou outros adoecimentos. Acreditamos que quanto mais pessoas souberem disso, mais olharemos para as mulheres no sentido de prevenir e tratar o agravamento”, observa Ostrowski.
Caldani evidencia que a negligência à saúde mental materna é alimentada por estereótipos de gênero que consideram que a maternidade como destino biológico da mulher. “A gestação, parto, pós-parto, criação dos filhos estão em um contexto sociocultural que espera que a mãe manifeste alegria, amor, realização pessoal, atributos muito conectados ao que se espera da maternidade e na prática não é assim. O amor materno é construído, não é imediato, ele envolve toda a mudança física, hormonal, psíquica que a mulher vai passar”, alerta.
Quem cuida de quem cuida?
Ostrowski também salienta a importância de desnaturalizar estigmas acerca da maternidade, desromantizando a ideia de que o cuidado seja apenas tarefa das mães, promovendo distribuição mais igualitária nas tarefas. “Hoje, ainda somos permeados, no Dia das Mães, por exemplo, da imagem da mãe “guerreira” cujo amor supera tudo. Não queremos ser guerreiras, não queremos ser soterradas por uma demanda excessiva que nos sobrecarrega. Queremos ser cuidadas muitas vezes, esse olhar precisa existir para nós mães”, destaca.
“Promover a saúde mental materna por meio de ações de conscientização como palestras, rodas, marchas e até mesmo atividades artísticas, estimulando as pessoas a pensarem sobre o tema, a enxergarem uma mãe que está passando por sofrimento mental e a ajudar a buscar apoio especializado””Promover a saúde mental materna por meio de ações de conscientização como palestras, rodas, marchas e até mesmo atividades artísticas, estimulando as pessoas a pensarem sobre o tema, a enxergarem uma mãe que está passando por sofrimento mental e a ajudar a buscar apoio especializado”, finaliza Caldani.
Todas as atividades são gratuitas. Acompanhe a programa completa no seguinte documento.
Franciele Rodrigues
Jornalista e cientista social. Atualmente, é doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Estadual de Londrina (UEL). Tem desenvolvido pesquisas sobre gênero, religião e pensamento decolonial. É uma das criadoras do "O que elas pensam?", um podcast sobre política na perspectiva de mulheres.