O Setor Bancário eliminou postos de trabalho pelo sexto mês consecutivo. Apenas no mês de março de 2023 foram extintas 1.474 vagas – o maior número desde novembro de 2020, quando mais de 2 mil vagas foram fechadas em consequência da pandemia de Covid-19. Os dados são de levantamento do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), com base no Novo Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados). No primeiro trimestre de 2023, os bancos eliminaram 2.662 vagas na categoria. No mesmo período do ano passado, ocorreu a abertura de 3.160 vagas.
Em sentido contrário, o ramo financeiro, excluindo a categoria bancária, apresentou saldo positivo em março, com abertura de 925 postos de trabalho – número 68,5% inferior ao registrado no mesmo mês do ano anterior. Nos últimos 12 meses, foram criados 28,5 mil postos de trabalho, uma média de criação de 2,3 mil postos por mês. As atividades financeiras que mais criaram postos em março foram: crédito cooperativo (831 vagas); holdings de instituições não-financeiras (351); e outras sociedades de participação, exceto holdings (92).
Movimentação por áreas
Para melhor compreensão da movimentação de emprego por áreas, a partir da CBO (Classificação Brasileira de Ocupações), o Dieese separou a categoria pelas seguintes áreas específicas: administração e afins, atendimento ao público, tecnologia da informação; e bancária/financeira. Em todas, observou-se saldo negativo para o mês de março e para o primeiro trimestre de 2023.
O setor que mais eliminou vagas foi área bancária/financeira, com variação negativa de 2.092 postos de trabalho nos primeiros três meses do ano, e 1.165 em março. O agrupamento área administrativa e afins eliminou no trimestre 478 vagas. O setor de tecnologia da informação, também apresentou queda das contratações, com saldo negativo de 94 vagas, o que, segundo o Dieese, “sugere o esgotamento das contratações ou mesmo o agravamento das terceirizações”. O único saldo positivo foi no agrupamento foi o classificado como “demais”, com 147 novos postos de trabalho.
Considerado o período de 12 meses, o saldo negativo de empregos no setor bancário foi de 3.166 vagas. Em todas as atividades bancárias ocorreu saldo negativo no primeiro trimestre de 2023 e no mês de março. No documento, o Dieese ressalta que, no resultado de março para o setor bancário, ocorreu elevado número de demissões, “39,5% superior à média de desligamentos do ano de 2022, e baixo número de contratações, 16,5% inferior à média de admissões do ano de 2022”.
Nos estados
Apenas quatro estados das 27 unidades da Federação apresentaram saldo positivo: Goiás (18 postos), Rondônia (7), Acre (4) e Sergipe (3). Já entre os 23 estados que apresentaram fechamento de vagas, os destaques são para São Paulo (745 postos), Rio de Janeiro (246), Minas Gerais (141) e Paraná (76).
Faixa etária, sexo e remuneração média
No recorte de gênero, o saldo foi negativo tanto entre homens quanto entre mulheres. No entanto, o número de admissões entre os homens foi 11,7% superior em relação ao de mulheres. Enquanto os desligamentos foi 6,1% superior entre os homens em relação às mulheres.
Em relação à faixa etária, foi observado saldo positivo apenas nas faixas até 24 anos, com ampliação de 269 vagas. Para as demais faixas, a partir de 25 anos, o fechamento foi de 1.743 vagas.
A remuneração média também sofreu movimentação para baixo. O salário médio do bancário admitido em março foi de R$ 6.728,48, enquanto o valor médio do grupo de desligados foi de R$ 8.063,40. Logo, o salário médio do admitido correspondeu a 83,44% do desligado.
Falta responsabilidade do setor
“Os bancos continuam eliminando postos um momento em que, apesar de leve melhora no mercado de trabalho, o país continua com altos índices de desemprego. Temos que lembrar que o sistema financeiro continua obtendo altos lucros no país. E aqui entra também a nossa crítica ao Banco Central com manutenção da Selic em 13,75% – a mais alta do mundo, uma vez que também influencia na cobrança dos juros das operações de crédito dos bancos no Brasil”, observa o secretário de Assuntos Socioeconômicos da Contraf-CUT (Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro), Walcir Previtale. Ele lembra que só o Bradesco cortou mais de 2 mil empregos no primeiro trimestre de 2023. “Mesmo na alta lucratividade, cada vez mais o sistema financeiro vai diminuindo o número de empregados”, completou.
De acordo com a Anefac (Pesquisa de Juros da Associação Nacional de Executivos), em janeiro, pessoas físicas pagavam em média no Brasil juros de 124% ao ano em operações de crédito. Já as pessoas jurídicas, 61% ao ano.
“Os números do Caged, que apontam para uma mudança estrutural no mercado de trabalho bancário, com o fechamento de postos de trabalho, de agências, mudança do perfil salarial para baixo e menos mulheres no setor bancário, apenas confirmam que o sistema financeiro não está cumprindo a sua obrigação com o país, conforme o artigo 192 da Constituição, que prevê a responsabilidade desse setor na promoção do desenvolvimento equilibrado do Brasil e em servir aos interesses da coletividade”, destacou ainda Walcir. “Historicamente, o movimento sindical sempre ressaltou essa responsabilidade do setor financeiro, e continuaremos lutando contra o fechamento de agências e pela abertura de unidades em muitos lugares onde, sabemos, não há nenhum tipo de atendimento bancário à população”, completou. “Na propaganda, os bancos colocam números maravilhosos, mas na prática a gente assiste uma alteração no perfil do mercado de trabalho que compromete o futuro do país”, arrematou o secretário.
Os dados completos estão na Pesquisa do Emprego Bancário – Número 22 – Maio/2023, elaborada pelo Dieese.
Fonte: Contraf-CUT