Operação articulada entre indígenas e forças militares encontrou as crianças na sexta-feira (09)
No dia 1º de maio, um avião Cesna 206 com sete pessoas a bordo desapareceu na Colômbia, após informar que havia identificado uma aparente falha no motor. A aeronave viajava de Araracuara, cidade situada entre Caquetá e Amazonas, com destino a São José del Guaviare.
Doze dias depois, a aeronave foi encontrada em uma área rural do povoado de Palma Rosa, na cidade de Caquetá. Três pessoas foram encontradas mortas dentro do próprio avião. As outras quatro, todas crianças, permaneciam desaparecidas. Eram os irmãos Lesly Mukutuy , de 13 anos; Soleiny Mukutuy , 9; Tien Noriel Ronoque Mukutuy , 4 anos, e o bebê Cristin Neruman Ranoque, de um ano. A mãe delas, Magdalena Mucutuy Valencia, estava entre as vítimas fatais.
Ao longo dos últimos quarenta dias, a Colômbia e o mundo assistiram com muita expectativa os trabalhos da “Operação Esperança”, uma força-tarefa articulada por militares e indígenas para resgatar as crianças perdidas.
Pequenos indícios mantinham as esperanças de encontrar as crianças vivas: uma mamadeira deixada pelo caminho; uma maçã mordida; uma faixa de cabelo; e algumas fraldas descartadas. Para a equipe de buscas, eram sinais claros de que as crianças estavam vivas.
A angústia se encerrou na última sexta-feira (09), quando as quatro foram encontradas vivas e sem ferimentos graves, pelas forças militares da Colômbia. Elas estavam apenas com sinais de desidratação e picadas de inseto. O estado em que elas foram encontradas chamou a atenção. Como estas crianças, incluindo uma de apenas 1 ano de idade, conseguiram sobreviver sozinhas ao longo de quarenta dias perdidas na selva amazônica?
Conhecimento ancestral
A resposta está na cultura e no modo de vida delas. As quatro crianças pertencem a etnia indígena uitoto. Segundo depoimento de lideranças indígenas que ajudaram nas buscas, o conhecimento transmitido pela avó delas, Fátima, foi crucial para que elas conseguissem superar os perigos da floresta.
“Eles são criados pela avó, que é conhecedora da terra indígena de Araracuara. O conhecimento tradicional que lhes foi ensinado foi o que os fez sobreviver”, explicou João Moreno, liderança indígena, em entrevista ao portal Cambio.
“Aqui é uma selva virgem, cerrada, perigosa, é a mata brava, como a gente chama. Por isso, eles tiveram que recorrer aos saberes que aprenderam na comunidade, o saber ancestral, para sobreviver. Nunca duvidamos que eles conseguiriam se manter vivos por causa de seus conhecimentos”.
Os perigos enfrentados por elas foram diversos. Para Morena, a única explicação plausível para que elas tenham sobrevivido ilesas é que conseguiram colocar em prática tudo aquilo que aprenderam com a família.
“As curas que seus avós tradicionalmente sábios lhes ensinaram fizeram com que elas não sofressem perigos”.
A equipe de buscas contou com 100 integrantes das forças especiais colombianas e 70 indígenas. Essa aliança foi considerada crucial para o sucesso da operação, segundo membros do governo colombiano.
“Quando colocamos o conhecimento e as instituições para trabalhar persistentemente a serviço do povo, podemos resolver, salvar vidas e construir coletivamente a esperança”, escreveu Francia Márquez, vice-presidente da Colômbia.
O presidente Gustavo Petro também teve um entendimento parecido sobre o sucesso da operação e afirmou que a unidade implementada no resgate pode servir de inspiração para outros desafios enfrentados pelo país.
“O encontro dos saberes: indígenas e militares. O encontro de forças para um bem comum: a guarda indígena e as forças militares da Colômbia. Respeito pela selva. Aqui se mostra um caminho diferente para a Colômbia. Creio que este é o verdadeiro caminho da paz. Aqui está uma nova Colômbia”, comemorou, em postagem no Twitter.
Fonte: Brasil de Fato