Em 2022, entre negros com 15 anos ou mais de idade, 7,4% eram analfabetos, mais que o dobro da taxa encontrada entre brancos (3,4%)
Segundo dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) na última quarta-feira (7), o número de pessoas que não sabem ler e escrever acima dos 15 anos diminuiu de 6,1% em 2019 para 5,6% em 2022. A diferença entre os índices representa uma redução de pouco mais de 490 mil analfabetos no país.
Ainda, de acordo com a pesquisa, os mais atingidos pela falta de acesso à escolarização no país são negros, idosos e moradores da região Nordeste. No ano passado, negros com 15 anos ou mais que não sabiam ler e escrever atingiram 7,4% da população. A taxa é mais do que o dobro da registrada entre brancos com a mesma idade: 3,4%. No grupo etário de 60 anos ou mais, a taxa de analfabetismo entre brancos alcançou 9,3%, enquanto entre negros chegou a 23,3%.
A região Nordeste tem o índice mais alto de analfabetismo: 11,7%. A porcentagem é quatro vezes maior que a identificada no Sudeste: 2,9%. No grupo dos idosos a diferença é ainda maior: 32,5% para o Nordeste e 8,8% para o Sudeste.
“O analfabetismo segue em trajetória de queda, mas mantém uma característica estrutural: quanto mais velho o grupo populacional, maior a proporção de analfabetos. Isso indica que as gerações mais novas estão tendo maior acesso à educação e sendo alfabetizadas ainda crianças, enquanto permanece um contingente de analfabetos, formado principalmente, por pessoas idosas que não acessaram à alfabetização na infância e juventude e permanecem analfabetas na vida adulta”, observa a coordenadora Pesquisas por Amostra de Domicílios do IBGE, Adriana Beringuy.
Jovens abandonam escola para trabalhar
Também segundo a investigação, 52 milhões de jovens com 14 a 29 anos do país, 18,3% não completaram o ensino médio seja por abandono antes da conclusão ou por não terem realizado matrícula na última etapa da educação básica. Conforme informado pelo Portal Verdade, em 2022, apenas seis em cada dez jovens negros concluíram o ensino médio (saiba mais).
A principal razão para desistência apontada pelos estudantes foi a necessidade de trabalhar (40,2%). Em seguida está o desinteresse nos estudos, com 26,9%. Para as mulheres, o motivo mais frequente também foi a necessidade de trabalhar (24,0%), seguido de gravidez (22,4%) e não ter interesse em estudar (21,5%). Além disso, parte significativa delas indicaram realizar afazeres domésticos ou cuidar de pessoas como a causa para de terem abandonado ou nunca frequentado escola (10,3%) enquanto para homens esse percentual foi inexpressivo (0,6%).
A antropóloga Rosane da Costa aponta que as desigualdades de gênero afetam a trajetória de meninas e mulheres na educação desde a infância. “Desde pequenas, as meninas são ensinadas a serem principais responsáveis pelos afazeres domésticos e cuidado com irmãos mais novos, pais. Na vida adulta, a lógica machista persiste em relação a casamento e filhos. As duplas, triplas jornadas dificultam que elas avancem na escolarização. É preciso conscientizar que esta visão está assentada em uma cultura patriarcal que deixa às mulheres a função do trabalho que, embora invisível é fundamental para a reprodução da sociedade”, analisa.
Franciele Rodrigues
Jornalista e cientista social. Atualmente, é doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Estadual de Londrina (UEL). Tem desenvolvido pesquisas sobre gênero, religião e pensamento decolonial. É uma das criadoras do "O que elas pensam?", um podcast sobre política na perspectiva de mulheres.