Saúde é definida pela Organização Mundial de Saúde como o completo bem-estar físico, mental e social, não apenas a mera ausência de doença. Partindo dessa definição, quando se pensa neste tema é necessário avaliar não só o corpo do indivíduo, mas também como esse corpo está inserido na sociedade, quando pensamos especificamente em saúde da população negra é indispensável refletir sobre como ocorreu o processo de abolição e marginalização desta mesma população na construção da nossa sociedade. Além da marginalização houve a tentativa de embranquecimento da população através de políticas sociais, como a Lei de Imigração de 1945, por exemplo.
Tendo em vista esses conceitos, nota-se que vários agravos de saúde atingem a população negra desproporcionalmente, como a hipertensão arterial – sendo mais alta entre os homens e mais prevalente em negros, bem como responsável direta ou indiretamente por cerca de 14% dos óbitos no país. A diabetes melitus – atingindo as mulheres negras cerca de 50% a mais que as mulheres brancas, a mortalidade materna e algumas doenças infecciosas, como a tuberculose, por exemplo.
O racismo é muito mais amplo do que o conhecido racismo interpessoal, ele é um processo no qual sistemas, políticas, ações e atitudes criam oportunidades e desfechos desiguais para pessoas baseando-se em sua raça, ou seja, políticas ou condições sociais que criam desigualdades de oportunidade para uma determinada população são parte de um sistema racista, se essas mesmas desigualdades influenciam em piores indicadores de saúde para essa mesma população, é um dos desfechos desse mesmo sistema.
É importante, portanto, entender também o racismo institucional, que é definido como o fracasso coletivo de uma instituição em prover cuidados e/ou serviços para uma população baseado em sua cor/raça, então essa mesma população que tem seu processo de adoecimento determinado e marcado pelo racismo, ao procurar atendimentos em saúde se depara com obstáculos que a impedem de receber os cuidados necessários em saúde, impactando diretamente nos indicadores em saúde de população negra.
Haja em vista essas desigualdades foi criada em 2009 a Política Nacional de Saúde Integral da População Negra, que versa sobre as particularidades e necessidade de enfrentamento dos impactos do racismo na saúde. Mesmos com todos os indicadores e política de enfrentamento à essas disparidades, ainda estamos muito aquém no quesito de ações para combate efetivo desses desfechos, desse modo, é necessária uma conscientização ampla da sociedade e do poder público para que em breve, ser negro no Brasil não seja sinônimo de piores condições de vida, e consequentemente, de saúde.
Dra. Gabriela Caroline Liborio Domingos Stankovic
Médica Clínica Geral – Médica da Estratégica Saúde da Família
Black Divas
Fundado em 2003 em Londrina, o Coletivo Black Divas é formado exclusivamente por mulheres negras e tem entre suas finalidades combater o racismo, a violência contra a mulher e incentivar o empreendedorismo feminino.