Eventualmente pode até ser normal e às vezes necessário. Mas, não é o usual e nem sempre o recomendado, principalmente, tratando-se de paciente idoso. Aliás (e infelizmente) é muito comum vermos pessoas idosas tomando diariamente dezenas de medicamentos diferentes ao mesmo tempo, como tratamento de uso contínuo.
Isso chama-se polifarmácia e é um dos mais comuns e complexos problemas para a saúde do idoso, nos dia de hoje. A polifarmácia ocorre sempre que uma pessoa toma de forma contínua, ou seja, em prescrição fixa de tomada todos os dias, mais do que 5 remédios diferentes.
O idoso está mais sob risco de polifarmácia por conta da maior vulnerabilidade à ocorrência de várias doenças crônicas na medida em que envelhece, o que o leva a procurar o atendimento médico em várias especialidades, gerando várias e diferentes receitas prescritas, geralmente cada uma voltada aos problemas de cada especialidade, que resultam em polifarmácia…
A polifarmácia é particularmente complexa no idoso, pois o envelhecimento está associado a diversas alterações estruturais na células, órgãos e tecidos de nosso corpo, que, por sua vez, estão intimamente relacionados ao equilíbrio do funcionamento de nosso organismo (equilíbrio homeostático).
Tais alterações interferem e/ou modificam diferentes processos de funcionamento orgânico, dentre os quais a forma como os remédios são absorvidos, distribuídos e ativados no corpo da pessoa (exemplos: os rins demoram mais para filtrar, o fígado não tem o mesmo metabolismo, a gente tende a acumular mais gordura em certas regiões do corpo, tem menos água no corpo, entre outras mudanças que estão ligadas à ação dos medicamentos).
Isto em medicina se chama de Farmacocinética (o que o nosso corpo faz com o remédio) e Farmacodinâmica (o que o remédio faz em nosso corpo), dois processos que mudam muito com o envelhecimento e mudam bastante a forma de ação dos medicamentos. Certos remédios que no jovem não tinham ou quase não tinham efeitos colaterais importantes, terão tais efeitos colaterais bem fortes no idoso, por exemplo. Aquela dose de medicamento que era necessária e boa para fazer efeito no jovem, poderá ser excessiva e prejudicial no idoso… e por aí vai.
Daí a necessidade de as pessoas idosas se relacionarem com muito critério com o uso de medicamentos. Aquilo que era bom antes, pode não ser mais agora e aquilo que era suficiente antes, pode ser excessivo agora. Aquilo que foi muito bom para minha comadre, pode ser terrivelmente prejudicial para mim. No idoso, a regra em relação a remédios deve ser sempre: menos é mais.
Aliás, a autoprescrição ou a prescrição (receita) sugerida pelo amigo, compadre, vizinho, rádio, televisão ou balconista de farmácia (ofício muito importante, mas bem diferente do ofício do farmacêutico e do médico), é um dos grandes agravantes da polifarmácia. Devemos sempre evitar a automedicação. O ideal é tomarmos remédios receitados por médicos (que são os únicos profissionais que podem prescrever) ou, na dúvida, procurarmos na farmácia o farmacêutico (profissional formado em Farmácia em universidade), para não corrermos risco de prejudicar nossa saúde, principalmente no idoso.
Lembre-se sempre: para a pessoa idosa, quanto menos remédio for necessário, melhor será para sua saúde.
Saúde e paz pra você!
Dr. Gilberto Martin
Médico Sanitarista