Dados da Pnad Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) desenvolvida pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), divulgados no último sábado (8), demonstram que trabalhadores com menor renda, menos escolarizados e mais jovens foram os que mais deixaram o mercado de trabalho desde o início da pandemia do novo coronavírus.
A menor taxa de participação significa redução no número de trabalhadores desempenhando alguma função ou buscando uma vaga.
Na comparação entre o quarto trimestre de 2019 e os primeiros três meses deste ano, a queda na participação de trabalhadores oriundos de domicílios com renda per capita de até R$ 325 foi de 5,37 pontos percentuais. Já entre lares com rendimentos mais altos (entre R$ 3.901 a R$ 6.500), o ingresso no mercado de trabalho aumentou 1 ponto percentual.
Considerando os níveis de formação, a presença de trabalhadores com ensino fundamental incompleto diminuiu 3,02 pontos percentuais enquanto entre os que concluíram a etapa, mas não terminaram o ensino médio, a retração foi de 5,63 pontos percentuais.
No mesmo período, as perdas foram de 1,74 ponto percentual a 1,5 ponto para os trabalhadores que tinham de 30 a 39 anos e de 14 a 17 anos, respectivamente.
A economista Juliana Martins pontua que a evasão de trabalhadores com menor grau de instrução e ocupando funções mais precarizadas não significa melhorias nas condições ofertadas para a mão de obra ativa no país. A profissional destaca que muitos destes trabalhadores irão migrar para o mercado informal a fim de garantir a subsistência.
“Notamos que sem encontrar um posto regular, com carteira de trabalho assinada e, consequentemente, sem acesso a direitos previstos pela CLT [Consolidação de Leis Trabalhistas], as pessoas tendem a exercer atividades ainda mais precarizadas, sem nenhuma proteção social, com salários mais baixos. Muitos passar a trabalhar de maneira autônoma, por conta própria, mas longe de qualquer autonomia que possa parecer, na verdade, para a maioria é difícil fechar as contas e, além disso, não há qualquer resguardo”, explica.
Último levantamento disponibilizado pelo IBGE, indica que a taxa de desocupação, isto é, porcentagem de mão de obra economicamente ativa que está desempregada, atingiu 8,9 milhões pessoas em maio, representando 8,3% da população.
O valor representa um pequeno recuo em relação a fevereiro, quando 8,6% dos trabalhadores brasileiros estavam sem emprego. Já o contingente de pessoas ocupadas ficou estável face ao trimestre anterior, totalizando 98,4 milhões.
Franciele Rodrigues
Jornalista e cientista social. Atualmente, é doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Estadual de Londrina (UEL). Tem desenvolvido pesquisas sobre gênero, religião e pensamento decolonial. É uma das criadoras do "O que elas pensam?", um podcast sobre política na perspectiva de mulheres.