Atividade marca Dia Estadual de Combate ao Feminicídio. Nos seis primeiros meses deste ano, Paraná registrou 62 assassinatos de mulheres
Neste sábado (22), em aproximadamente 70 municípios do Paraná, ocorre a 1ª Caminhada do Meio-Dia. A atividade integra a campanha “Paraná Unido no Combate ao Feminicídio”, proposta pela Secretaria da Mulher, Igualdade Racial e Pessoa Idosa. A data foi escolhida porque 22 de julho marca o Dia Estadual de Combate ao Feminicídio.
Instituído pela Lei 19.873, o dia almeja dar mais visibilidade e conscientizar sobre as violências motivadas pelo machismo e misoginia (aversão às mulheres), através de debates promovidos por movimentos sociais, coletivos, também por meio de ações organizadas pelos poderes públicos em seus diferentes níveis (local, estadual, nacional) e esferas (Legislativo, Judiciário).
A data foi estabelecida em memória a Tatiane Spitzner, morta, aos 29 anos, pelo marido Luís Felipe Manvailer, em 2018. O crime ocorreu no município de Guarapuava, região central do estado.
Em Londrina, a concentração começa a partir das 11h30 em frente a Catedral Metropolitana de Londrina (localizada na Travessa Padre Eugênio Herter, nº 33, centro). Márcia Cristina Mileski Martins, presidenta da Comissão das Mulheres Advogadas da OAB (Ordem de Advogados do Brasil) – subseção de Londrina e coordenadora da Comissão de Direitos das Mulheres da BPW (Associação de Mulheres de Negócios e Profissionais) explica que os principais objetivos da caminhada são a valorização da vida da mulher e conscientização da não violência.
“Este evento, como todos que evidenciam a violência contra a mulher, são extremamente importantes, para ressaltar a questão e informar a população que ainda há um índice muito alto de violência, de feminicídio e tantos outros crimes. Este trabalho é fundamental, com tantos municípios aderindo a caminhada. Quem sabe, assim, a gente consiga conscientizar o agressor para que ele pare”, pontua.
Ainda, de acordo com ela, durante a caminhada estão previstas diferentes atividades. Autoridades locais irão discursar, balões e faixas serão utilizados a fim de chamar a atenção para o cortejo que irá seguir pelo Calçadão às 12h.
“A principal expectativa que nós da organização temos, além da participante de um grande número de pessoas, é que haja realmente a conscientização do agressor para que não cometa mais crimes porque ele acaba destruindo a vida dele, da mulher, da família, filhos, de todo mundo envolvido. Então, é realmente um trabalho grande de formação para diminuir as taxas de agressões, estupros e tantas violências que são praticadas contra a mulher”, observa.
Paraná ocupa terceiro lugar em ranking de feminicídios
Neste ano, entre janeiro e junho, 62 mulheres foram assassinadas no Paraná. A informação foi levantada pelo Lesfem (Laboratório de Estudos de Feminicídio), iniciativa desenvolvida pela UEL (Universidade Estadual de Londrina), UFU (Universidade Federal de Uberlândia), UFBA (Universidade Federal da Bahia), Coletivo Feminino Plural e Secretaria Municipal de Políticas para Mulheres de Londrina.
O número coloca o estado em terceiro lugar com maior incidência de casos, considerando feminicídios tentados e consumados nos seis primeiros meses de 2023, ficando atrás somente de São Paulo, que contabilizou 122 feminicídios, e Minas Gerais, com 90 ocorrências.
No mesmo período, o Brasil registrou 862 feminicídios. Destes, 599 foram consumados e 263 tentados. A média nacional foi de três assassinatos de mulheres por dia. A maioria das vítimas tinham entre 25 e 36 anos. Também com base no estudo, o agressor mais recorrente são companheiros ou ex-companheiros.
A organização sugere que os participantes usem roupas brancas em referência à paz. “Todas as formas de violência são abomináveis, temos a necessidade de evidenciar a vida”, conclui.
Franciele Rodrigues
Jornalista e cientista social. Atualmente, é doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Estadual de Londrina (UEL). Tem desenvolvido pesquisas sobre gênero, religião e pensamento decolonial. É uma das criadoras do "O que elas pensam?", um podcast sobre política na perspectiva de mulheres.