O número de casos de sífilis vem aumentando nos últimos anos no Brasil, e o mais grave é que grande parte dos infectados desconhece estar doente e que está transmitindo a doença para outras pessoas. Isso ocorre porque três semanas após o contágio surge uma lesão ulcerada e indolor no genital da pessoa infectada – na região do freio do prepúcio, nos homens, e no encontro dos pequenos lábios, nas mulheres – que some espontaneamente depois de alguns dias, dando a falsa impressão de cura.
Após o desaparecimento dessas lesões, podem surgir manchas avermelhadas pelo corpo, inclusive, nas mãos e pés, que por serem assintomáticas podem não ser notadas. Na verdade, a doença só vai ser descoberta no momento da consulta médica e se for solicitado um exame de sangue.
A sífilis ou lues é uma doença infecto-contagiosa, sexualmente transmissível causada pela bactéria Treponema pallidum. Também pode ser transmitida verticalmente, isto, é da mãe para o feto, por transfusão de sangue ou por contato direto com sangue contaminado. Se não for tratada precocemente, pode comprometer vários órgãos como olhos, pele, ossos, coração, cérebro e sistema nervoso.
A doença se manifesta em três estágios diferentes: primária, secundária e terciária. Os dois primeiros são mais sintomáticos e contagiosos e são seguidos por um período de latência. Quando a doença retorna, na sua fase terciária, ela pode ser mais agressiva, acompanhada de complicações como cegueira, doenças mentais e cardiológicas podendo levar à morte. A sífilis congênita, transmitida da mãe para o bebê durante a gestação, pode causar má formação, aborto e morte fetal.
O diagnóstico de sífilis é feito através de exames de sangue e o teste rápido, que é feito com apenas uma gota de sangue, está disponível pelo SUS nas unidades básicas de saúde. O tratamento é feito com antibióticos, especialmente, penicilina e deve ser acompanhado com exames clínicos e laboratoriais para avaliar a evolução da doença. Os exames devem ser também feito nos parceiros sexuais.
O uso de preservativos durante as relações sexuais é a maneira mais segura de prevenir a doença, portanto use camisinha em todas as relações sexuais. Além disso, lembre-se que a doença pode ser transmitida também nas relações anais e orais. Mulheres devem fazer exame para verificar se são portadoras da doença antes de engravidar e durante o pré-natal. A sífilis é uma infecção curável e tratável, mas pegar uma vez não promove imunidade, o que significa que após ser tratado, você pode pegar sífilis novamente.
Um dos motivos que pode estar contribuindo para o aumento no número de casos é que uma grande parcela da população sexualmente ativa não usa camisinhas por acreditar que a AIDS, com os tratamentos atuais, deixou de ser uma doença fatal, tornando-se uma doença crônica e tratável, esquecendo-se que gonorreia e sífilis também podem ser transmitidas em relações sexuais desprotegidas.
A baixa procura por atendimento e a dificuldade dos profissionais de saúde em abordar corretamente os pacientes, quando eles chegam ao serviço de saúde, também podem estar contribuindo para o surgimento dessa epidemia silenciosa de sífilis no Brasil.
Texto: Dra. Lígia Márcia Martin, dermatologista