No Tocantins, quebradeiras de coco destacam importância do acesso ao crédito rural recriado em junho pelo governo Lula
Depois de quatro anos de interrupção, o Plano Safra volta a oferecer incentivos para a agricultura familiar com um volume 34% superior ao anunciado na safra passada e o maior da série histórica.
Anunciado no final do mês de junho deste ano pelo governo federal, o Plano Safra da Agricultura Familiar proporcionou às mulheres rurais uma linha específica de crédito, por meio da nova faixa do Pronaf Mulher, destinada a pequenas agricultoras, com financiamento de até R$ 25 mil por ano e taxa de juros de 4% ao ano.
Na região do Bico do Papagaio, área de transição entre o Cerrado e a Floresta Amazônica, em Tocantins, conhecemos mulheres que vivem da agricultura familiar na comunidade Olho D’água e destacam a importância do crédito rural para a produção de alimentos.
Logo após uma manhã exaustiva na roça, Ana Maria Nunes, sentada à varanda de sua casa em fase de reformas, é quem apresenta o trabalho da comunidade, constituída basicamente por familiares.
“Eu moro aqui, na comunidade Olho D’água. Nasci aqui, praticamente, e a gente tem um trabalho de regime de economia familiar. A gente trabalha de tudo um pouco: plantamos hortas, plantamos roça, quebramos coco, temos plantio de banana que entregamos para os programas da Conab [Companhia Nacional de Abastecimento], das escolas municipais e fazemos nossas entregas”, explica Ana Maria.
“Eu mesma acessei o Pronaf duas vezes, o Pronaf Mulher, né? É pouquinho dinheiro, mas a gente está fortalecendo o trabalho da gente; no ano passado, eu fiz o fomento”, comenta Ana Maria.
As cerca de 50 famílias da comunidade Olho D’água vivem da agricultura familiar com a ajuda dos créditos rurais para a aquisição de equipamentos e o fortalecimento da produção de frutas, hortaliças, apiários e criação de animais de pequeno porte, como porcos e galinhas que também são destinados à alimentação escolar.
Apresentando a casa conquistada com o fruto do seu trabalho e engajamento junto às associações de quebradeiras de coco babaçu, Ana Maria destaca que a possibilidade de acessar créditos com baixos juros têm permitido dar um conforto não só a ela, mas para toda a família.
“Eu ganhei essa casa das quebradeiras e, com o meu trabalho, já consegui aumentar mais, já consegui aumentar três cômodos nela, consegui fazer uma área e estou fazendo outra área ali atrás”, detalha.
A casa foi garantida por meio de outro programa social, fruto da luta de dona Raimunda, conhecida internacionalmente pela luta em defesa das mulheres extrativistas do Bico do Papagaio durante o último governo do presidente Lula, a quem Ana Maria agradece e aposta que venham mais melhorias para pequenas agricultoras, a exemplo dela.
“A gente espera que, com esse governo Lula, melhore muito os projetos, porque eles estavam muito tempo parado. A gente corria atrás para um lado, para o outro e não encontrava saída”, relembra.
Nas terras de babaçuais, Maria Silvânia é mais uma das mulheres que teve a vida transformada pelo acesso à terra e o trabalho no campo. Separada e mãe de quatro filhos, também vê no acesso aos créditos a oportunidade de garantir autonomia e uma vida melhor para a família.
“O pensamento da mãe de família é dar uma vida digna para os seus filhos, uma condição financeira melhor para sua casa, pagar água, energia, comprar roupa para seus filhos e ter de onde tirar essa renda e eu vi que era capaz, através das associações, do movimento, das quebradeiras e fui acessando os programas”, explica.
Quebradeira de coco, dedicada ao cultivo de horta e plantio de bananas, hoje Maria Silvânia destina parte da sua produção ao Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae) e se orgulha de tudo o que conquistou após a separação, quando se viu sem saídas para manter a casa, a própria subsistência e a criação dos filhos.
“Não sei se posso dizer, mas que eu me sinto capaz… Tem horas que dá até vontade de chorar, porque quando a gente vive uma vida que era cansada, sofrida e a gente não se sentia capaz de sobreviver, de lutar e batalhar (…) com o passar do tempo a gente vê que tudo muda, que a gente tem força de lutar e conseguir com o próprio esforço, a ajuda das companheiras nas reuniões que a gente participa… Estou falando assim, motivada, porque eu imaginava que se um dia eu ficasse sem marido, eu não daria conta de sobreviver”, suspira.
Assim como para Ana Maria e Maria Silvânia, o acesso ao crédito rural para pequenas agricultoras garante, ainda, a possibilidade de sonhar, construir e garantir uma vida digna no campo.
“O meu sonho não acabou. Eu tenho um sonho maior ainda. Eu tenho um lote em São Miguel e vou construir minha casa lá. Minha avó me deu um lote lá e esse ano estou muito motivada. Eu vou conseguir construir minha casa lá com esse esforço aqui, vendendo meu azeite de babaçu, minhas hortaliças, vendendo minhas bananas para o Pnae. E eu espero que o Pnae não acabe nunca, pois é de onde temos uma renda maior, nós agricultoras, é do Pnae, da agricultura familiar, trabalhando no campo, vendendo o que a gente produz”.
*Esta reportagem foi produzida em parceria com o Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar em conformidade com a linha editorial do Brasil de Fato.
Fonte: Brasil de Fato