Saudoso de incomodar os meus dois leitores neste Portal. Passou que passei um período de dificuldade tópica (já superada) e espero estar bem o bastante para tornar ao convívio e conforto deste Canto.
Peço licença para, observando o clima, falar da vida e do lixo produzido em américa latina…
A mudança climática que vem nos abraçando há algumas décadas, fruto de nossa insistência (ignorante e cumulativa) com e no esgotamento dos recursos naturais de Gaya, aumentando seus reflexos faz diminuir o espaçamento entre suas manifestações, viabilizando uma nova ordem temporal.
A vida, por aqui, sempre foi e seguirá sendo ditada pelas manifestações climáticas do planeta. A reiteração do mau uso dos recursos terrenos não fala, todavia, a mesma língua da sobrevivência das espécies – que o digam os gaúchos do Rio Grande do Sul…
Noves fora os rumos de nossa imbecilidade infinita, que patrocina o extrativismo desenfreado, há que se reparar na ação do vento. Por aqui o vento veio feito tempestade, varrendo nossa sujeira para longe. Foi um vento sul, na medida em que ‘os ventos do norte não movem moinhos’.
Essa nova ordem climática que mistura frio crescente à calor extremo, em sua ponta de lança encontra cada vez mais e maiores espaços para seguir desconhecendo as minorias afetadas pelo empoderamento de nossas desavenças com a vida, repetindo a maledicência de negar empatia ao tempo em que tutela medo e violência.
Falo do espantoso número de apoiadores do fantoche portenho, o extremista de direita javier milei, que se anuncia favorito à disputa de pleito eleitoral presidencial em Argentina. milei é uma forma menor (bem menor) de entender as mudanças climáticas que assolam o planeta, naquilo que sua ignorância monumental (prometeu encerrar toda relação comercial com a China, o maior parceiro comercial dos hermanos) faz mal à humanidade.
O fantoche (sim, fantoche, suposto que o fascismo não é senão um espaço de manobra do capitalismo) portenho está repetindo, na terra de Borges e de Diego, as maledicências que o capitão messiânico espraiou por aqui (terra de Machado e Rivellino).
Estes projetos de ditadores só se viabilizam na conta do espaço de manobra (fascismo) que o neoliberalismo ofertou ao capitalismo. Invariavelmente essa margem se manifesta quando há uma crise em meio ao grande capital.
Aqui fomos salvos por uma tempestade tropical inigualável (Lula) que varreu nossa sujeira para a lata de lixo da história. O mal cheiro, todavia, atravessou a fronteira tríplice e chegou à Argentina, onde os Hermanos assistem o pequeno extremista de direita (milei) propor sua desventura totalitária.
O minúsculo milei não fala: defeca frases feitas, agressivas e absurdas, que vão de autoajuda à fake news, sempre destilando o ódio instaurado contra o inimigo invisível e inexistente do grande capital – a quem se curva com loas e pires na mão.
Tragédia portenha à parte e em que pese nossa tempestade de salvação, seguimos lidando com alguns demônios que o desandar da proliferação da política de ódio, notadamente a mentira, mãe da imbecilização que escraviza e estabelece inimigos imaginários (característica do fascismo), jogou em nosso convívio.
Da descrença científica (antivacina e terraplanismo) à negação de fatos históricos (revolução em 64? Pode isso Arnaldo?), por aqui restou aquele mesmo velho jogo antigo de estabelecer um inimigo imaginário (xô comunismo) e nele cunhar uma tábua de salvação onde os discursos de ódio fariam algum verão.
Teimamos ser o que já não tem lugar de continuar a sê-lo. Por isso há quem acredite nesse modelo racista, fundamentalista, misógino, machista, homofóbico, que não produz conhecimento, não partilha riqueza, não socorre necessitados, não desassocia da vida o ideário da violência, seguindo a trilha de submissão das minorias.
Entrementes frio e calor, já não há falar-se no dia que se foi. A cada manhã mal acordada despertamos para a derrubada de mais e mais árvores, na recomposição de nossa última equação, onde mais é menos.
Caminhamos para o precipício sem enfrentarmos a desconstrução da equação de mal querer que projetou gente do tamanho do messias e de milei, enquanto seguimos o projeto de atropelo dos despossuídos, na negação do bem querer.
Neste espaço se imiscui a miséria latina, amedrontada e oprimida na sina do ribeirinho que contempla o rio espumar e o peixe rarear, ao tempo em que serra fileiras no esgotamento das riquezas do planeta, em tese de uso e gozo comum.
O fantoche Argentino (milei), de sua parte, mandou um recado manejando a motosserra que metaforiza seu pequeno e flácido pau: vou seguir matando, derrubando, machucando perseguindo. Eu sou a mão do grande capital que seguirá explorado, tirando, negando, oprimindo…
É assustador o quanto a vida descompassa o desuso empático do homem no tear do destino. Sob o jugo da equação do grande capital, onde pessoas são números e números são objeto de enriquecimento, o valor econômico segue acima das filigranas de consideração ao próximo. A ventura de existir, aqui e agora, não é senão o saldo que soma ao grande capital o fruto do suor minórico.
Viver segue sendo a promessa, em que pese esse modelo de enriquecer à custa dos bens produzidos pelo planeta e colhidos pelos mais pobres, dar seguidos sinais de seu esgotamento.
Vivemos, pois, espelhando uma realidade que se sobrepõe à vida, na equação da espera – e quem espera nunca alcança…
Enquanto o mal andar sobre a terra o homem seguirá desconstruindo o próprio sentido da vida para colher o fruto amargo do acumulo, desconhecendo as dificuldades do mistério.
É dever nosso enfrentar, ao último esforço, essa gente e seu modelo de convívio caracterizado na exploração do mais fraco. Se não por nós, pelos que a tempestade ainda não varreu – afinal há um milei em cada esquina, espreitando a morte pelo bem da própria fortuna.
Fato é: a América Latina segue enfrentando seus demônios e, quando o capiroto propõe dançar um tango, devemos estar mais que atentos, pois é em Argentina que alguns militares (Cérberos de farda), de tempos em tempos, ousam questionar a democracia.
Deveras, a crise dos Hermanos criou o campo fértil para a escalada fascista e o anão moral milei se vale da dor de sua gente (?) para vender os terrenos na lua que a ferocidade de sua rosnada sugere – ainda que não entregue uma pequena água furtada no Tigre…
A história ensina combater o ódio e a ferocidade fascista com a luz do conhecimento. Mas o enfrentamento mais caloroso e pontual não é de ser descartado. Afinal, fascistas não passarão!
Tristes trópicos onde o ódio é feito herança dos ignaros abastados que apertam na botina da existência o calo da própria valentia de aluguel. Que a tempestade alcance além daqui e se esparrame, levando a maledicência dos extremistas de direita de volta ao buraco de onde não deveriam ter saído.
Entrementes, amar segue sendo verbo intransitivo.
João dos Santos Gomes Filho
Para o Canto do Locco
João Locco
João dos Santos Gomes Filho, mais conhecido pelo apelido João Locco. Advogado, corintiano, com interesse extraordinário em conhecer mais a alma e menos a calma.