Pesquisadora explica que não é um fenômeno novo. Desindustrialização e enfraquecimento da agricultura familiar estão entre as hipóteses para retratação
Conforme informado pelo Portal Verdade, em 2022, das 99,6 milhões de pessoas ocupadas, apenas 9,2% (9,1 milhões de pessoas) eram associadas a algum sindicato. Esse é o menor contingente da série iniciada em 2012, quando havia 14,4 milhões de trabalhadores sindicalizados no país (16,1%). Em 2019, a taxa era de 11% (10,5 milhões), demonstrando uma tendência na diminuição do número de filiados nos anos anteriores (saiba mais aqui).
Os dados foram levantados pelo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). De acordo com o órgão, todas as grandes regiões tiveram redução de sindicalizados no último ano. O Sul registrou a maior retração (11%), seguido por Nordeste (10,8%), Sudeste (8,3%), Norte (7,7%) e Centro-Oeste (7,6%).
Fernanda Forte de Carvalho, docente do departamento de Ciências Sociais da UEL (Universidade Estadual de Londrina) e associada ao Sindiprol/Aduel, tem se dedicado ao desenvolvimento de pesquisas sobre o mundo do trabalho e sindicalismo. Também exerceu a função de assessora política e sindical da CUT (Central Única dos Trabalhadores) entre 2003 e 2018.
A professora indica que a diminuição no número de trabalhadores sindicalizados na região Sul não é um fenômeno novo. De acordo com ela, embora seja uma localidade reconhecida nacionalmente pela atuação expressiva das entidades sindicais, este movimento vem arrefecendo pelo menos nos últimos 30 anos.
“Cito um estudo que não é tão recente, mas perfaz um período longo de 1992 a 2013, dos professores Iran Rodrigues e Mario Ladosky, e demonstra esta tendência de queda no patamar de sindicalização. Os dados indicam um declínio, em 1992, você tem cerca de 26% de sindicalização na região Sul, já em 2013 tem 19%”, compartilha.
Carvalho pontua que regiões onde a tradição de sindicalização é mais forte, o declínio tem ocorrido de forma mais acelerada. Ainda, a pesquisadora levanta duas hipóteses que, embora precisem ser investigadas de maneira cautelosa, podem corroborar para o entendimento do decréscimo de trabalhadores filiados na região Sul, são elas: aprofundamento da desindustrialização e enfraquecimento da agricultura familiar, atividade que concentra grande parte dos sindicalizados no território.
“É importante dizer que estamos enfrentando a desindustrialização precoce no Brasil e atinge também a região Sul que faz parte desse Brasil que ainda tem algum tipo de indústria. Também temos que considerar os efeitos na agricultura familiar, uma base importante que retém a sindicalização no Sul do Brasil vem da agricultura familiar. No último período, além do fechamento do Ministério do Desenvolvimento Agrário, foi um período bastante duro do ponto de vista da política pública vocacionada para este segmento como a habitação rural. O agricultor familiar pelo menos nos últimos governos do PT [Partido dos Trabalhadores] vem se beneficiando e ocupando estes espaços, inclusive, institucionais como o Consea [Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional] para negociar políticas públicas e avançar na qualidade do seu trabalho no campo”, analisa.
Franciele Rodrigues
Jornalista e cientista social. Atualmente, é doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Estadual de Londrina (UEL). Tem desenvolvido pesquisas sobre gênero, religião e pensamento decolonial. É uma das criadoras do "O que elas pensam?", um podcast sobre política na perspectiva de mulheres.