Pesquisa desenvolvida pelo Centro de Estudos e Dados sobre Desigualdades Raciais (Cedra) demonstra que as chances de prevenção ao câncer de mama não são as mesmas para todas as mulheres. Em 2019, de 45.790 mulheres entrevistadas com 18 anos ou mais, 13.565 nunca tinham realizado exame clínico de mamas. Entre estas últimas, 9.199 eram negras e 4.366 brancas.
Isto quer dizer que, o total de mulheres negras com mais de 18 anos que nunca fizeram mamografia – exame radiológico de alta resolução, responsável por fornecer imagens detalhadas capazes de identificar precocemente o câncer de mama, antes mesmo que a mulher tenha sintomas – é 70% maior que o de mulheres brancas.
Ainda, o estudo evidencia que, em 2019, entre as mulheres negras na faixa etária de 50 a 69 anos, 27,7% não fizeram mamografia. Entre mulheres brancas, o índice recua para 20,5%. Este mês, internacionalmente conhecido como “Outubro Rosa” visa conscientizar a população sobre a importância e prevenção e diagnóstico precoce do câncer de mama, o tipo mais comum entre mulheres.
A campanha incentiva mulheres a realizarem a mamografia e o autoexame das mamas. Essas atitudes ajudam no rastreamento dos casos ainda em estágios iniciais, o que reduz as taxas de mortalidade. A cada ano surgem cerca de 25% novos casos em todo o mundo e 29% no Brasil.
De acordo com levantamento do Instituto Nacional do Câncer (Inca), em 2019, o Brasil ocupava a segunda posição entre os países com a mais alta incidência da neoplasia. Apesar disso, os dados também demonstram que a mortalidade é baixa quando comparada a países como Estados Unidos e França.
A assistente social Nayara Pires chama atenção para necessidade de garantir atendimento universal aos serviços de saúde. Para a pesquisadora, a falta de assistência médica é uma das formas de violência perpetradas através do racismo.
“É dever e direito constitucional que todas as pessoas indistintamente tenham acesso à saúde. Contudo, sabemos que segmentos mais marginalizados da sociedade, como a população negra, enfrentam maiores dificuldades de receber atendimento. O racismo estrutural afeta esta camada da sociedade brasileira, que apesar de majoritária ainda apresenta índices mais baixos de escolarização, renda ao mesmo tempo que são mais atingidos por violência, entre outros processos de exclusão”, adverte.
“Os dados permitem uma radiografia da situação de saúde da população negra brasileira, embora haja indícios que a pandemia da Covid-19 tenha agravado essa situação e acentuado as desigualdades raciais em saúde. Estes dados evidenciam que o racismo sistêmico está também na saúde, assim como nos outros campos da vida brasileira”, evidencia o relatório.
Franciele Rodrigues
Jornalista e cientista social. Atualmente, é doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Estadual de Londrina (UEL). Tem desenvolvido pesquisas sobre gênero, religião e pensamento decolonial. É uma das criadoras do "O que elas pensam?", um podcast sobre política na perspectiva de mulheres.