Representantes das cooperativas de materiais reciclados em Londrina afirmam que estão trabalhando, mais uma vez, sem que tenham um contrato formal com o município, por meio da CMTU (Companhia Municipal de Trânsito e Urbanização). As lideranças dizem que o último vínculo venceu no dia 16 de outubro e que desde então aguardam uma renovação.
A companhia frisou, via assessoria de comunicação, “que as cooperativas não estão sem contrato, que não ficarão sem receber e que a CMTU está finalizando a questão da renovação contratual”. O último contrato disponibilizado, de forma pública, é datado de abril, com duração de seis meses, ou seja, vale até a primeira quinzena de outubro.
“Estamos fazendo o trabalho de coleta porta a porta porque não queremos deixar os moradores na mão. A CMTU garantiu que irá o assinar o contrato desde o dia que venceu e que não haverá perdas, no entanto, temos desconfianças”, frisou a presidente da Cooper Refum, Selma de Assis. A cooperativa atende 22 mil domicílios das regiões norte e leste. “Estamos fazendo nosso máximo, dando nosso melhor, mesmo com mão de obra em falta.”
Esta é a terceira vez em pouco mais de um ano que as sete cooperativas que atuam na cidade prestam o serviço sem um acordo assinado, ou aditivado, com a prefeitura. Em outubro do ano passado – quando venceu um vínculo de cinco anos -, as entidades seguiram coletando por 15 dias até a renovação do contrato, problema que se repetiu em abril.
Na avaliação de Francisco Bitencourt, da Ecorecin, a situação recorrente prejudica o trabalho e gera apreensão entre os trabalhadores. “O grande problema de trabalhar sem contrato é a insegurança de receber ou não. Até renovar o contrato de outubro ficamos trabalhando e tivemos que entrar na Justiça (para receber). Ganhamos na primeira instância”, relatou. “Se não fizermos o trabalho na rua a cidade vira um caos. Então, continuamos mandando o caminhão recolher os materiais todos os dias”, acrescentou.
Remuneração
As cooperativas recebem R$ 2,02 da CMTU por imóvel visitado de uma única vez mensalmente. Se os cooperados passam quatro vezes num local no mês, por exemplo, o montante representa R$ 0,50 por visita. No primeiro quadrimestre do ano, o MP-PR (Ministério Público do Paraná) cobrou, por meio de ofício, que as instituições ganhassem R$ 3,31 por domicílio, sendo R$ 2,66 para o custeio do serviço e R$ 0,65 de subsídio para locação do barracão.
Com o valor dos materiais baixo, as entidades cobram que o município pague os 20% do INSS – hoje o município se responsabiliza por 11% e os 9% restantes são bancados pelas cooperativas, e, principalmente, a insalubridade. “Muitos compradores não estão querendo pegar. Temos pagado metade do salário dos cooperados um dia e vamos vendendo os materiais recolhidos nos outros dias para pagar o restante. É a misericórdia de Deus que está nos mantendo em pé”, destacou Sandra de Assis.
Contrato a longo prazo
Como não são todas as cooperativas que conseguem arcar com a insalubridade e com frequência, ex-trabalhadores têm entrado judicialmente contra as entidades. “Recentemente ficamos quatro meses sem conseguir vender plástico. Nosso salário sai da venda e entramos no vermelho por conta disso. Precisamos de um contrato justo, que pague os encargos e que não seja de seis em seis meses, mas, pelo menos, de dois em dois anos”, argumentou Bitencourt. A Ecorecin tem 27 cooperados e recolhe a reciclagem de 25 mil imóveis nas regiões central, oeste, norte e leste.
Fonte: Folha de Londrina