Nesta terça-feira (28), moradores do assentamento Eli Vive, localizado no distrito de Lerroville, a 50 quilômetros de Londrina, protestaram em frente a Prefeitura contra a situação das estradas rurais que dão acesso à área. No total, são 109 quilômetros de vias de terra.
Após a mobilização, aproximadamente 250 famílias participaram de reunião com autoridades locais como o prefeito, Marcelo Belinati (PP), os secretários de Agricultura e do Meio Ambiente. O encontro também contou com representantes do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária).
Segundo Sandra Ferres, mais conhecida como “Flor”, assentada e coordenadora política do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) no Paraná, o problema se arrasta há mais de uma década. “Nós não temos mais estrada, já não tínhamos, eram carreadores que as famílias tinham feito para poder transitar e desde a construção do assentamento que a gente vem lutando para que o Incra e a Prefeitura nos dê condições de ir e vir, façam as estradas”, relata.
Conforme a liderança, com as chuvas dos últimos dias, a condição piorou, colocando a região em “estado de calamidade”, já que os moradores ficaram ilhados. “Chegou ao limite devido ao período chuvoso, acabaram as estradas. Faz mais de 15 dias que as nossas crianças não conseguem estudar, não tem como escoar a produção, sair para tratar a saúde, enfim, está um caos e por decidimos fazer uma prosa com o prefeito porque não tem mais o que fazer”, adverte.
Segundo Flor, os principais objetivos do grupo foram reivindicar caráter emergencial no projeto já apresentado bem como garantir ações imediatas que possam garantir a mobilidade e escoamento da produção. “Na verdade, estamos pedindo caráter emergencial no projeto, a construção de 46 KM dos 109 KM que temos. Já há recurso na conta da Prefeitura, o Incra já encaminhou, mas isso demora, e nós precisamos de um atendimento emergencial, precisamos que a Prefeitura faça alguma coisa em conjunto com o Incra para amanhã, é sério, urgente e necessário”, observa.
O assentamento Eli Vive foi homologado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em 2009. Atualmente, é a maior área de reforma agrária em região metropolitana do Brasil. No total, são cerca de 501 famílias assentadas, em torno de 3 mil moradores, vivendo em 7,5 mil hectares.
“Isso afeta demais dentro do assentamento porque tudo que vamos fazer gira em torno das estradas, então, não sai transporte escolar, não circula nossa produção de comida, estamos em plena safra de feijão e não tem como escoar, a chuva deixa valas que cabem uma caminhonete dentro, está muito crítico. Famílias que dependem da hemodiálise na cidade, não conseguem sair, usam oxigênio e não tem como abastecer os aparelhos, tem que ir na cidade”, continua Flor.
Desde 2015, o assentamento também conta com a Copacon (Cooperativa Agroindustrial de Produção e Comercialização Conquista). Através dela, os trabalhadores garantem o cultivo e venda de hortifruti, que engloba hortaliças, frutas e tubérculos, também de feijões preto e carioca, produzidos dentro do assentamento Eli Vive e em outros locais do Paraná. Há também a agroindústria de derivados do milho livre de transgênicos.
Ainda, de acordo com ela, a Prefeitura se comprometeu a identificar os pontos críticos a partir desta quarta-feira (29) e garantir o envio de máquinas para desobstruir as estradas, assegurando a passagem dos moradores bem como dos alimentos produzidos no assentamento. Trata-se de uma ação temporária até que melhorias mais efetivas sejam realizadas nas estradas.
“A reunião foi bem proveitosa, fomos bem atendidos pela Prefeitura, secretários e o Incra que se deslocou de Curitiba e veio fazer a conversa. Ficou acordado que a partir de amanhã vai haver um mapeamento dos pontos críticos, os piores que a gente tem dentro do assentamento e a Prefeitura irá com as máquinas, passando e modelando para que a gente volte a circular até que o projeto de fato se efetue e venha para dentro do assentamento com a construção das nossas estradas”, avalia.
Franciele Rodrigues
Jornalista e cientista social. Atualmente, é doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Estadual de Londrina (UEL). Tem desenvolvido pesquisas sobre gênero, religião e pensamento decolonial. É uma das criadoras do "O que elas pensam?", um podcast sobre política na perspectiva de mulheres.