Em 2021, o Paraná chegou à menor taxa de homicídio de mulheres por 100 mil habitantes da série histórica recente
Em uma década, o número de homicídios de mulheres negras no Paraná saltou 32,7%, passando de 55 casos em 2011 para 73 em 2021. No período, o ano com menor ocorrências foi 2017, com 33 crimes. Os dados são do Atlas da Violência 2023, publicado no início deste mês, pelo IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) em parceria com o FBSP (Fórum Brasileiro de Segurança Pública).
No mesmo período, em todo país, os homicídios de mulheres negras reduziram 4,2%. Em 2011, foram 2.714 registros. Já em 2021, foram contabilizados 2.601 casos.
O Atlas da Violência traz informações e análises que ajudam a compreender e visibilizar opressões com diferentes recortes como contra negros, mulheres, idosos, indígenas, pessoas com deficiência e comunidade LGBTQIA+.
Ainda, de acordo com a pesquisa, entre 2011 e 2021, a taxa de homicídios de mulheres não negras caíram quase pela metade no Paraná (-44,5%). Enquanto em 2011, foram identificados 220 crimes, as ocorrências regrediram para 122 em 2021.
Em território nacional, também houve retração na quantidade de homicídios de mulheres não negras. Em 2011, foram notificados 1.557 casos. Já em 2021, foram identificados 1.191 casos – o que equivale a uma queda de 23,5%.
A assistente social Nágila Torres considera que a pesquisa demonstra ratifica a compreensão de que mulheres negras constituem o segmento da população mais vulnerável, atingido por múltiplas violências. “Mulheres negras estão na base da pirâmide social, ou seja, são as que desempenham funções mais precarizadas no mercado de trabalho e recebem os menores salários. Também são as vítimas mais recorrentes de feminicídios, concentram os maiores índices de mortalidade materna, piores taxas de acesso à escolarização, moradia”, alerta.
Citando a intelectual negra Lélia Gonzalez, a pesquisadora salienta que mulheres não brancas tornam-se ainda mais subalternizadas por estarem expostas ao “duplo nó”, ou seja, ao sexismo e racismo. “Diversas pensadoras já apontaram que mulheres negras estão subjugadas pelas opressões de gênero e raça. Não se trata de hierarquizar as violências sofridas, mas perceber a necessidade de um olhar interseccional no desenvolvimento de políticas públicas em todas as áreas, inclusive, na segurança pública”, observa.
A abordagem interseccional entende que diferentes marcadores como gênero, pertencimento étnico-racial, classe, orientação sexual, localização, entre outros, se intercruzam e influenciam na trajetória dos indivíduos, devendo ser considerados na proposição de ações governamentais.
“Não podemos esquecer que além de serem as maiores vítimas, mulheres negras também são as que mais sofrem com a violência policial que vitima seus companheiros e, principalmente, seus filhos, visto o genocídio contra a juventude negra em curso em todo o país. O estado opera com um dos principais agressores e precisamos combater esta realidade com práticas antirracistas, de defesa incessante dos direitos humanos”, acrescenta.
Franciele Rodrigues
Jornalista e cientista social. Atualmente, é doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Estadual de Londrina (UEL). Tem desenvolvido pesquisas sobre gênero, religião e pensamento decolonial. É uma das criadoras do "O que elas pensam?", um podcast sobre política na perspectiva de mulheres.