Um ano após tentativa de golpe, cidade adere ato unificado
Neste 8 de janeiro, segunda-feira, a tentativa golpista da extrema-direita contra a sede dos Três Poderes, em Brasília, completa um ano. Na ocasião, desrespeitando o resultado das eleições presidenciais de 2022, apoiadores do ex- mandatário, Jair Bolsonaro (PL) invadiram e depredaram os prédios do Congresso Nacional, STF (Supremo Tribunal Federal) e Palácio do Planalto.
Em defesa da democracia e contra a anistia dos invasores (conforme Projeto de Lei n° 5064 criado pelo senador Hamilton Mourão/Republicanos) manifestantes sairão às ruas em pelo menos 15 cidades do país para o ato “Brasil se une em defesa da democracia”.
Em Londrina, a manifestação começa a partir das 17h30 em frente ao Cine Teatro Ouro Verde, no centro da cidade. A organização reúne desde partidos progressistas: Federação Brasil da Esperança, PSOL (Partido Socialismo e Liberdade), PDT (Partido Democrático Trabalhista), PcdoB (Partido Comunista do Brasil), PV (Partido Verde), PT (Partido dos Trabalhadores) a diversos movimentos sociais como MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) e Coletivo de Sindicatos.
De acordo com Nelson Antônio da Silva, psicanalista e professor da rede pública estadual há mais de três décadas, na programação estão previstas falas de representantes das legendas e grupos. Também estão planejadas apresentações culturais. Não haverá cortejo, a mobilização ficará concentrada no local.
“Surge para demarcar um ano da tentativa de golpe contra as instituições e a democracia. Judiciário, Executivo e Legislativo. Que todos os envolvidos, quem participou, quem organizou e quem financiou sejam identificados presos, julgados e condenados. Não pode haver nenhum tipo de anistia a quem ataca à democracia e suas intenções”, adverte Silva.
Luís Carlos de Camargo, membro da Frente Popular da Saúde da Região Sul, coordenador da Central de Movimentos Populares reforça que as finalidades do ato são defender a democracia, direitos sociais e políticos da população, principalmente, da camada que vive às margens da cidade, nas periferias.
A liderança também pontua a importância da memória para que períodos autoritários não se repitam. “Esse é um momento também de fazer memória do grande atentado à democracia e aos poderes constituídos naquele 8 de janeiro de 2023, por meio da organização de grupos da extrema-direita incentivada pelo ex-presidente Bolsonaro que em todo tempo do seu mandato causou instabilidade, desarmonia na sociedade brasileira. Precisamos despertar a consciência da população de que a melhor maneira de se governar um país é de forma igualitária democracia participativa onde as pessoas não sejam submetidas ao autoritarismo daqueles ou daquelas que foram eleitos para ser nossos representantes”, destaca.
Até o momento, o Grupo Estratégico de Combate aos Atos Antidemocráticos do Ministério Público Federal (MPF) denunciou 1.413 pessoas. Entre eles, 1.156 incitadores, 248 executores, oito agentes públicos e um financiador dos atos criminosos. O STF já condenou 30 pessoas a partir de denúncias apresentadas pela Procuradoria-Geral da República (PGR).
Segundo os organizadores, a expectativa é que toda a população e diferentes entidades participem do ato. “Que possamos deixar a mensagem para a população londrinense seja os que se consideram conservadores ou progressistas, de que a cidade o Brasil não avançará sem a democracia, sem diálogo, o respeito a pluralidades de ideias, reafirmando que a democracia é o pilar da sociedade para possibilitar o bem comum na elaboração de políticas públicas essências para o bem de todos e todas”, evidencia Camargo.
“Democracia inabalada”
Também relembrando a data, em Brasília, a partir das 15h, ocorre o ato institucional “Democracia Inabalada” com as participações dos presidentes da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD), e do STF, Luís Roberto Barroso.
O presidente da Câmara dos Deputados e do Senado, Arthur Lira (PP) também havia confirmado presença, mas cancelou a participação na manhã desta segunda-feira. Segundo a assessoria de Lira, o político seguia em Alagoas na manhã desta segunda e não retornaria à capital federal em razão de “problemas de saúde na família”.
São esperados aproximadamente 500 convidados, além de governadores. Em paralelo ao evento, o STF vai promover em seu edifício-sede, a mostra “Após 8 de janeiro: Reconstrução, memória e democracia”, voltada à preservação da memória institucional da Corte. O edifício foi o mais depredado pelos invasores.
Franciele Rodrigues
Jornalista e cientista social. Atualmente, é doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Estadual de Londrina (UEL). Tem desenvolvido pesquisas sobre gênero, religião e pensamento decolonial. É uma das criadoras do "O que elas pensam?", um podcast sobre política na perspectiva de mulheres.