Leio em mídias digitais que a investigação policial persecutória do assassinato de Marielle Franco e de Anderson Gomes, subiu ao Supremo quando esbarrou em elementos de convicção que apontam para alguém de foro privilegiado. A distribuição fez Alexandre de Moraes o novo relator do inquérito.
A notícia me chega ao tempo em que assisto a um vídeo onde um deputado do PL/PA (eder mauro) protagoniza injustificada e imbecilizante agressão (em plena sessão da Comissão de Direitos Humanos da Câmara) na última quarta-feira, ao gritar (gratuita e covardemente) ‘Marielle acabou’.
Pode ser que o deputado tenha tido uma epifania e, com a identificação de alguém com prerrogativa de foro, estejamos nos aproximando do fim, em ordem a estabelecer quem ordenou a morte da combativa parlamentar fluminense.
Marielle e Anderson foram assassinados a mando de alguém. Isso já está estabelecido há muito tempo e sequer comporta discussão. Resta saber o mandante e seu motivo, na medida em que os supostos assassinos já estão identificados e presos.
Ao subir (por identidade de foro) o inquérito esclarece que o mandante (ou seu entorno) estaria/m identificado/s – senão de forma direta (prova ou evidencia do mando homicida em si), ao menos indiretamente (atuação política que atrapalhou a investigação).
Fato é: o assassinato de Marielle Franco e de Anderson Gomes encerra capítulo emblemático de nossa história recente, em especial no Rio de Janeiro, onde a atuação miliciana escreve página deplorável de uma época infeliz e diabólica de estado ausente, onde se mata por vários e diversos motivos. Marielle teria sido morta por questões ideológicas que esbarraram em interesses políticos contrariados.
Sei que sua morte verberou e verbera (até hoje) arroubos fascistas, feito o protagonizado pelo deputado paraense (eder mauro) em plena sessão da Comissão de Direitos Humanos da Câmara Federal.
Nessa medida o assassinato de Marielle e de Anderson já é um case de descompromisso de muita gente com a vida e a liberdade, demarcando o entorno fascista e sua herança na formação cultural de um país.
Na américa latina já não falamos esquerda ou direita, naquilo que a crise do capitalismo convocou, por aqui, sua horda fascista que leva (no sangue dos que tombam) uma mensagem intimidatória, impositiva de sua ditadura de unidade de pensamento, ao tempo em que o medo faz a colheita de indecisos e acovardados.
A chamada direita clássica (ou neoliberal de tese) assiste confortável a disputa civilizatória, parecendo não se importar com os contornos de sua covardia existencial, naquilo que parece acreditar não ter qualquer relação com o sangue de que se vale.
Foi, imagino, o que pensou o tal deputado paraense do PL ao, aparentemente do nada, gritar ‘Marielle acabou’.
Sabe deputado, vou lhe dar uma dica: Marielle jamais acabará, naquilo que o sangue que ela verteu e que vem sendo explorado há seis anos por cada sociopata de nossos dias, é o sangue que a eterniza em mártir do desvalor que o neoliberalismo dá à vida. Nessa medida sua morte é maior do que pensaram seus algozes.
Marielle já é o símbolo máximo de nossa divisão cultural. A seu lado estão os que dão valor a vida. A qualquer vida. A vida dos povos originários, dos homossexuais, dos negros, das mulheres, dos ciganos, dos despossuídos, dos miseráveis, dos aleijões, dos presidiários. Contrário senso, seus detratores assinam o livro neoliberal de simpatizantes do fascismo.
Então, você que se diz ‘bom moço’ e ‘pessoa de bem’, pense nisso. Pense se qualquer morte – para além do assassinato de Marielle – vale as demandas que o capital sustenta, encomendando preconceitos em favor de um projeto de desvalor do ser humano em alusão a sua necessidade de alimentar a cadeia produtiva no sangue/suor alheio.
Você, boy da Moca, que xinga o Padre Júlio e aplaude os ofendículos arquitetônicos que impedem o descanso dos fracassados do capital, procure saber o que o Padre leva nas mãos (adianto que não é sangue). Questione o valor de um homem que, na contramão neoliberal dá de comer a quem tem fome, justamente por não ter um lugar ao sol, sequer para fazer uma sombra para você, oh boy da Moca.
Mas não. Por aqui a empatia está aprisionada e seus algozes seguem atirando restos ao rebanho que, zebuinamente, marcha pela paulista com a bandeira de Israel, em nome de Jesus.
Para você, que não conhece história, por preguiça, ignorância estrutural, maldade, procure saber pelo que protesta e, principalmente, quem comanda o espetáculo – olhe para o palanque seu estúpido…
Sei que o medo aprisiona – mas não seja tão frouxo. Sua covardia pode ser vencida na leitura, na busca de conhecimento sustentável e não em conta gotas de imbecilização que o dízimo malafaico consagra, no teatro das aberrações, onde um Jesus judaico justifica, em nome da fé evangélica, o genocídio dos Palestinos.
Acorde jovem. O conhecimento é a resposta e, lembrando Paulo Freire, não seja ingênuo a ponto de acreditar que a classe dominante investirá na escola pública em tempo de instruir, com a benção do conhecimento, aquele que alimenta a mais valia nossa de cada dia.
Veja as muitas mães cujos filhos, pequenos e indefessos, foram assassinados e estão esparramados pelo chão arenoso de Gaza. Observe a dor que verte naquelas mortes e veja se, realmente, será possível Marielle acabar.
Marielle jamais será esquecida. Disso se encarregaram os seus algozes.
Mas não desapegue do amor. É da empatia que temos sobrevivido (desde sempre), afinal foi considerando o outro que a história se construiu. Não foram as guerras, os processos santificados (anjos caídos?), os ditadores. Foram os que tem capacidade de amar que nos trouxeram até aqui e nós lhes devemos.
Iremos dever, para sempre, à Marielle e Anderson. E lá nave vá.
João Locco
João dos Santos Gomes Filho, mais conhecido pelo apelido João Locco. Advogado, corintiano, com interesse extraordinário em conhecer mais a alma e menos a calma.