A OMS (Organização Mundial da Saúde) define o climatério como a fase de transição biológica entre o período reprodutivo e o não reprodutivo da mulher, sendo a menopausa o marco dessa fase, correspondente ao último ciclo menstrual, reconhecida após 12 meses de ausência de menstruação, ocorrendo, em média, aos 51 anos.
Em 2019, a idade mínima de aposentadoria da mulher foi aumentada para 62 anos. Assim, podemos concluir que teremos mais de 20 milhões de mulheres convivendo com a menopausa no ambiente de trabalho.
Quais sintomas podem prejudicar o desempenho?
Antes da reforma da previdência, as mulheres passavam o período do climatério trabalhando, geralmente já na fase final de suas carreiras. Muitas, especialmente aquelas em cargos de liderança, estavam em uma fase de desaceleração, exercendo atividades mais consultivas ou reduzindo a carga horária.
Apesar de existir uma CID (Classificação Internacional de Doenças e Problemas Relacionados com a Saúde) específica para climatério e menopausa, o tema ainda é pouco discutido nas empresas, o que pode afetar significativamente a saúde mental e física dessas mulheres.
A Plenapausa, startup brasileira que promove informação e acolhimento na menopausa, avaliou cerca de 2.600 mulheres em março de 2022. O estudo revelou que 87% delas se sentiam emocionalmente instáveis e 58% afirmaram sentir-se menos produtivas no trabalho.
Em relação à ansiedade e/ou depressão, 81% das mulheres disseram já ter experimentado esses sintomas durante o período. Isso tem impacto crítico na realidade profissional dessas mulheres.
E qual o impacto desses sintomas na carreira?
O documentário “Os Mitos da Menopausa”, produzido no Reino Unido em 2021, mostrou que nove em cada dez mulheres afirmam que o climatério e a menopausa afetam seu trabalho. Metade das mulheres entrevistadas revelou que pararam de trabalhar ou reduziram a carga laboral devido aos sintomas.
No Brasil, uma pesquisa da empresa americana Biote revelou que 40% das mulheres sentem que os sintomas interferem na performance e produtividade, e uma em cada cinco considerou deixar ou realmente deixou seus empregos.
Cada vez mais mulheres estarão em cargos de liderança durante o período da menopausa. É essencial que as organizações consigam criar um ambiente de acolhimento durante essa fase.
Kenyth Freitas, professor do Ibmec Rio, doutor em administração.
Além das alterações fisiológicas, psicológicas e comportamentais, a fadiga e o estresse são sintomas comuns e de importância clínica durante esse período. Problemas de saúde mental são frequentes, com cerca de 20% das mulheres apresentando queixas psiquiátricas como depressão, ansiedade, distúrbio do sono e transtorno bipolar.
Muitas não procuram ajuda devido à falta de atendimento direcionado, rotatividade de profissionais de saúde, falta de entendimento sobre a necessidade de atenção às alterações da menopausa, ou até mesmo por vergonha. Fatores sociais, culturais e socioeconômicos influenciam essa fase de forma única na vida da mulher, porém, muitas vezes, essa realidade não é valorizada.
Empresas precisam repensar
‘Precisamos urgentemente de uma agenda inclusiva nas empresas, que reconheça a menopausa como uma fase natural da vida da mulher e ofereça suporte adequado para que elas continuem a se destacar em suas carreiras’.
Renata Calixto, advogada, especialista em direito do trabalho e previdenciário, mestranda em administração pelo Ibmec-RJ
Estratégias direcionadas para esse período são ausentes, uma vez que os profissionais de saúde nem sempre estão preparados para atender essa população. Consequentemente, o climatério e a menopausa tornam-se difíceis de enfrentar e afetam negativamente a carreira das mulheres, que já enfrentam diversos obstáculos.
É necessária uma maior organização e enfoque dos serviços de saúde para atender a demanda atual. Por meio de uma equipe multidisciplinar, devem ser ofertadas medidas de promoção à saúde, prevenção e recuperação, proporcionando melhor qualidade de vida em todas as fases do ciclo de vida da mulher.Da mesma forma, as empresas precisam estar atentas ao tema e cultivar um ambiente acolhedor para essas mulheres, adotando práticas de gestão de Recursos Humanos aderentes a um ambiente inclusivo, que combata também o etarismo e o sexismo.
*Renata Rocha Rodrigues Junqueira Calixto – Advogada, Especialista em Direito do Trabalho e Previdenciário, Mestranda em Administração pelo Ibmec-RJ
*Kenyth Freitas – Professor do Ibmec Rio, Doutor em Administração
Fonte: UOL UNIVERSA