Entre as propostas das candidaturas entrevistadas; combater a discriminação e tornar a cidade mais segura e acolhedora
Um levantamento feito pelo programa Voto Com Orgulho (iniciativa da Aliança Nacional LGBTI+) apontou que 48 membros da comunidade foram eleitos em 2020 para os cargos de prefeito e vereador, além de 93 suplentes.
Em 2024, 3.357 candidatos se declararam ser LGBTQIAPN+ nas eleições municipais de 2024, número seis vezes maior do que em 2020, quando foram registradas 556 candidaturas deste grupo.
E entre as candidaturas LGBTI que já estão em campanha no Paraná, disputando uma vaga nas Câmaras Municipais, o mote unânime é ocupar espaços de poder para se verem representados politicamente.
O Brasil de Fato Paraná entrevistou algumas destas candidaturas para saber principalmente o que desejam concretizar se eleitos e o motivos que os levaram se decidirem disputar as eleições municipais.
Ao me assumir, vi a importância da política
Para a candidata pelo PT de Curitiba, Léo Ribas, seu olhar para importância da política foi justamente quando se assumiu lésbica. “Há 28 anos, começou a minha luta por direitos, me assumi lésbica muito jovem, o que trouxe alguns problemas familiares e sociais. Com isso se intensificou a luta por direitos humanos de todas as pessoas LGBTQIAPN+”, diz.
Por isso, seu desejo de se candidatar veio ao querer ver uma cidade mais acolhedora em suas políticas públicas para todos.
“Quero trabalhar incansavelmente por uma Curitiba de todas as gentes e seus afetos e, para isso, meu objetivo é fiscalizar a oferta de serviços públicos, pensando na interseccionalidade, na qualidade e na ética e propor ações e políticas públicas que garantam os direitos humanos de todas as pessoas, em especial as mulheres, pessoas com deficiência e suas famílias, pessoas LGBTQIAPN+ e suas famílias,” diz Léo.
Foi também para Adalberto Sanchez, quando, segundo ele, “saiu do armário”, que a política começou a ser percebida como necessária. O candidato pelo PSOL de Curitiba conta que ao ter se assumido deixou de ser uma pessoa mais fechada para um ativista político.
“Eu era uma pessoa fechada, depressiva e em 2016, após entrar na UTFPR e conhecer mais sobre a comunidade LGBTQIAPN+, eu acabei saindo do armário e entrando mais a fundo no movimento, fui percebendo a necessidade de uma política pública voltada para nossa comunidade, pois ainda somos o país que mais mata LGBTQIAPN no mundo e não podemos ser livre para sermos nós mesmo. Com isso, acabei atuando internamente em alguns movimentos, mas nunca me expondo, este ano resolvi que para fazer mudança preciso me expor e desafiar o sistema para construir o novo. Sempre acreditei que juntos somos mais fortes”, conta Sanchez.
Se eleito, deseja lutar para que pessoas homofóbicas sejam julgadas e condenadas, entre outras bandeiras de luta.
“Quero fazer com que a lei seja cumprida de forma rigorosa e rápida para este tipo de crime, também quero lutar para que tenhamos uma casa de apoio para comunidade LGBTQIAP+ para acolher pessoas que foram expulsas de casa por suas famílias ou que sofrem com preconceitos, por exemplo, por serem portadoras do HIV. Também busco uma política que melhore o atendimento na área da saúde para nossa comunidade, principalmente para as pessoas TRANS que sofrem dentro do nosso SUS”, diz.
Assim como Léo e Adalberto, também Matheus Basso, candidato a vereador pelo PT de CascaveI, ao se assumir gay, viu a necessidade de atuar politicamente. “Comecei a me envolver com política desde criança, meus avós eram ligados ao PDT e sempre me levavam em comícios e comitês de campanha. Ao me descobrir gay, vi a necessidade de usar a política para defender os meus direitos e das pessoas como eu”, diz.
Matheus diz que sua decisão em se candidatar foi por perceber as Câmaras Municipais pouco diversas e representativas. “Decidi me candidatar a vereador por ver uma casa de leis tão homogênea que não representa os anseios da juventude ou das pessoas LGBTQIAPN+,”relata Basso.
Combater a discriminação e preconceito
Já para Eduarda Jankauskas, mais conhecida como Duda Jankauskas, a luta contra o preconceito é o seu principal objetivo como candidata. Mulher trans/travesti preta, candidata à vereadora pelo PT de Cascavel, disse que sempre sentiu na pele o que é ser discriminada e descredibilizada por sua identidade.
“Desde que me entendi como uma mulher trans, lá em 2009, e senti na pele a descredibilidade, o preconceito, a discriminação, a inferiorização constante das minhas capacidades, percebi que eu não poderia me calar diante de tanta injustiça, precisei me posicionar e ocupar os espaços políticos para lutar pela minha vida e de mulheres como eu, e hoje visualizo que esse papel que pretendo desempenhar, caso eleita, vai possibilitar abranger outras lutas tão significativas quanto a causa LGBTQIAPN+”, diz Duda.
Duda defende que a cidade tenha políticas públicas pensadas para os grupos minoritários ainda na representação política. “Para alcançar esses objetivos compreendo que é necessário promover políticas públicas alinhadas às demandas das minorias, que protejam os direitos dessas comunidades, além de investir em educação e sensibilização para combater preconceitos enraizados. Isso também inclui garantir que as periferias tenham acesso de qualidade a serviços básicos, como saúde, educação e segurança, de forma digna e igualitária”, cita.
Pois, para a candidata a vereadora pelo PT de Londrina, Poliana Santos, mulher cisgênero lésbica, a política precisa, antes de tudo, saber observar a cidade do ponto de vista representativo.
“Meu interesse pela política e minha consequente intenção de ser eleita à vereança foram permeados por observações cotidianas: é sintomático que a política observe a cidade a partir de um ponto de vista elitista, branco-hetero-conservador. Sempre destaco que um vereador ou vereadora, para além dessas questões, tem o compromisso social de discutir a cidade a partir de pontos de vista representativos. Fazer esse recorte que respeite e inclua as múltiplas identidades é importante para mim, como mulher, negra, lésbica, trabalhadora e da periferia,” diz Poliana.
Seu envolvimento com a política se dá em sua atuação em espaços como a Universidade e a luta sindical. E, foi justamente nesta atuação que percebeu que ainda o debate político se restringe a pequenos grupos. “Eu atuo como ativista no movimento LGBTQIA+ desde 2013, movida não apenas pelo meu interesse, como mulher lésbica, em discutir sobre essas vivências, mas, sobretudo, por perceber que nossa comunidade ainda tem demandas básicas ignoradas pelo Estado. A partir da minha trajetória em espaços como a universidade e a luta sindical observei que a discussão ainda se restringe a pequenos grupos e não alcança a visibilidade e respeito necessários na política institucional do país”, cita.
“Como vereadora, quero trabalhar para todos munícipes com olhar inclusivo e plural. Sabemos que fomentar projetos visando acesso de qualidade à educação, cultura, lazer, segurança, saúde empregabilidade tem que ser compromisso. Importante reforçar que, além das necessidades comuns a todas as pessoas, nossa comunidade contará com um mandato que compreenderá e trabalhará na solução das demandas e especificidades da nosso povo LGBTQIAPN+”, conclui Poliana.
Também pensando na discriminação e o tanto que isso afeta as pessoas LGBTQIAPN+, Márcia Santos, candidata pelo PDT de Curitiba, quer lutar contra o preconceito e possibilitar que tenham mais acesso às políticas públicas e mercado de trabalho.
“Estou candidata, pois tenho a certeza que terei a oportunidade de lutar contra preconceito. Quero trabalhar na causa principalmente a inclusão da comunidade LGBTQIA+ no mercado de trabalho é essencial para promover a igualdade, o respeito e a justiça,” diz Márcia.
Ocupar espaços de poder com coragem
Já para Rafael Pereira, homem gay cisgênero, candidato a vereador pelo PSOL em Curitiba, combater a violência e lutar pela dignidade das pessoas LGBTQIAPN+ é parte da sua caminhada na política e, agora, como candidato.
“Ao longo dos anos de luta, entendi que os mandatos podem potencializar e dar voz às pessoas oprimidas por serem quem são e nascerem onde nasceram. Infelizmente, nossos direitos não são garantidos na prática, vide a violência sofrida recentemente por Oziel dos Santos, que foi assassinado recentemente por ser um aliado da comunidade LGBTQIAPN+, outro exemplo muito simbólico para nós do PSOL é de Marielle Franco, parlamentar negra, periférica e LGBTI+, uma inspiração e mais uma vítima política. Cada gesto de afeto público é um ato de coragem, e o simples ato de andar pelas ruas de mãos dadas com a pessoa amada pode me matar. Somos o país que mais mata pessoas LGBTQIAPN+ no mundo,”diz.
Rafael conta que a sua história de vida e de muitos outros é marcada por traumas e lhe afeta diariamente. “Esta não é apenas uma história cheia de glitter e purpurina. Inevitavelmente, a causa LGBTQIAPN+ nos atravessa como pessoas desde a infância, onde um lar conservador pode gerar graves traumas e consequências físicas e psicológicas, para a vida de pessoas como eu. Como homem negro, gay e militante socialista, compreendo que minha identidade não me resume, mas afeta sim cada espaço e armário que preciso sair diariamente, nos diversos espaços que acesso e disputo”, cita.
Se eleito, deseja fazer valer a representação política e honrar os que lutaram antes pela causa. “Então, ocupar os espaços com toda a coragem que tenho é honrar a luta das pessoas que vieram antes de mim e trilharam esse caminho de pedras e navalhas para que pudéssemos estar aqui.
Em busca de mais representatividade na política
André Eduardo Rodrigues da Silva, conhecido como Déh Rodrigues, cis gay, candidato pelo PT de Paiçandu-PR diz ter se tornado candidato em busca de mais representatividade na política.
“Decidi ser candidato por entender que a política é representatividade, sendo assim precisamos de mais povo e menos doutores na política, precisamos das travestis, das sapatão, dos viados, precisamos de toda população LGBTQIAPN+ dentro das casas de leis e assim fortalecer nossa representatividade,” cita Deh.
Se eleito, Deh Rodrigues quer trabalhar para que as demandas da comunidade LGBTQIAPN+ e de outros grupos invisibilizados esteja representadas nas políticas públicas. “Se eleito, lutarei sem rabo preso com ricos e poderosos, contra todo ataque à comunidade LGBTQIAPN+, à população negra, indígena, de mulheres e pessoas com útero, ao lado dos “loucos”, periféricos e oprimidos. Nossos corpos são políticos e por isso, a implementação de políticas públicas inclusivas estarão sim na ordem do dia. Nessa linha, no que depender de mim e das pessoas que constroem esse projeto diferente de sociedade comigo, a absorção de nossas lutas, que são transversais e interseccionais, para transformá-las em mercadoria ou lucro (Pink Washing), não vai acontecer. Nossas lutas não serão o seu lucro!,” conclui.
Para que o poder legislativo tenha mais jovens é que Danielle Locks Gregorio, cis, candidata pelo PDT de Foz do Iguaçu PR, resolveu se candidatar. “Vejo a necessidade da mudança e de ter mulheres jovens no poder, mostrar que não importa a orientação sexual merecemos mostrar nossa capacidade e ter o respeito,” disse.
Danielle, se eleita, quer trabalhar por mais inclusão e por vida digna a todos. “Quero implantar projetos que visam na inclusão de portadores do Transtorno do Espectro Autista (TEA), projetos como hortas comunitárias visando a redução da fome e desnutrição que atinge os povos mais carentes e também auxiliar na formação de mulheres que sofrem, já sofreram e se encontram no estado de vulnerabilidade , assim dando mais autonomia pra que não fiquem presas ou dependentes de seus agressores,”cita.
Políticas públicas para todos
Foi na faculdade que a candidata pelo PDT de Curitiba entendeu que para garantir seus direitos era preciso lutar. “Estou candidata porque é necessário devido às nossas causas,” cita.
Meu entendimento surgiu quando entrei na faculdade em 2020 e descobrir que tinha todos os meus direitos tipificados, porém, não tinha representação na política,” conta. Seguindo o legado, segundo ela, de Brizola e Darci Ribeiro, se eleita quer trabalhar ouvindo o povo. para fazer política para todos.
Lufe Sahn, homem cis, bissexual, candidato pelo PDT de Foz do Iguaçu, conta que seu envolvimento com política começou cedo e sempre viu na educação uma possibilidade de salvar vidas. “Meu envolvimento na política começou pequeno, tenho lembranças de criança andar com meus avós apoiando vereador. Já jovem percebi a importância da política quando o diretor da minha escola teve que comprar comida com o próprio salário em 2015, montamos um grêmio estudantil naquele ano. Na política partidária entrei em 2019 quando vi no trabalhismo de Brizola o caminho correto, a educação salva vidas LGBTQIAPN+,”diz.
Decidiu se candidatar para lutar para que todos tenham acesso à políticas públicas. “Uma vez eleito estarei comprometido com a defesa rebelde de saúde, educação e segurança. Ampliarei o acesso o de saúde mental nas unidades de atendimento, fiscalizarei as leis antihomotransfobia já vigentes aqui, inovarei nas formas de inserção da população trans no mercado de trabalho e buscarei todos os recursos possíveis para mais investimento em cultura local,” conta Lufe.
Giovana Catarina, mulher trans, candidata à vereadora de Fazenda Rio Grande, pela coligação Brasil da Esperança (PT/PV), disse que busca que mulheres como ela parem de ser invisibilizadas tanto nos espaços de poder como na execução das políticas publicas. “Decidi me candidatar pra ser ouvida e fazer pessoas como eu serem ouvidas e respeitadas,”conta ela que disse ter recebido um convite do partido para que se candidatasse.
Se eleita, Giovana quer responder às demandas da comunidade LGBTQIAPN+e das mulheres. “ Quero viabilizar melhorias dentro da saúde e das escolas de Fazenda Rio Grande, fazer um trabalho voltado pras necessidades das mulheres ,em geral,com mais atendimentos nas Unidades Básicas de SAúde (UBS),mais creches e escolas para seus filhos,”propõe.
Já para Nivaldo Noga, candidato a vereador pelo PT de Curitiba, que há quatro anos milita na política partidária, é preciso olhar para as propostas e políticas públicas na área da cultura inserindo o seguimento LGBTQIAPN+.
“Tenho muitas bandeiras de defesa de mais recursos e políticas para o Carnaval, tornar a cidade a “Capital do Carnaval” e em todas as outras ações de cultura respeitar a diversidade”, cita Nivaldo.
No município de Astorga, o candidato a vereador pelo PDT, Antonio Silva, tem como mote uma cidade mais igualitária a todos. “Quero que todos tenham os mesmos direitos e, por isso, precisamos estar lá onde se elaboram as leis,”diz.
Antonio milita há 15 anos quando fundou a Associação em Defesa da Comunidade LGBTQIAPN+. “Se me eleger pretendo continuar todos meus projetos de direitos a comunidade LGBTQI e dando oportunidade a todos. E, montar uma sede de atendimentos a todos,” propõe.
Segundo o candidato a vereador pelo PSOL de Curitiba, Sérgio Rubens Sossella Filho, conhecido como Protetor Sossella, ele sempre gostou de defender aqueles que não eram acolhidos pelo poder público. “Sou gay desde sempre. Meu pai me criou com muita liberdade, além de ter um gosto pela esquerda política. Acho importante não estar neste mundo a passeio. Durante a pandemia, já sentindo-me bastante velho (sou de 1967), resolvi participar do Marmitas da Terra, do MST, eu ajudava na cozinha e na entrega, chorava demais ! Este foi a entrada no mundo político quando percebi que poderia fazer mais. Sempre gostei de defender os ‘descartados’,”diz.
Se eleito, Sossella, além das pautas voltadas à comunidade LGBTQIAPN+, também quer trabalhar em pautas voltadas à defesa dos animais, como ação clínica e castração, tolerância zero para maus tratos, garantir mais áreas públicas para tutores e animais, valorização do protetor independente, etc.
Fiscalizar as ações do Executivo
Entre os principais objetivos do candidato pelo PDT de Maringá, João Horácio, é fazer valer a função do vereador fiscalizando o Executivo. “Conseguindo me eleger quero garantir o acompanhamento das ações do executivo e fiscalizar a execução do orçamento para que seja em benefício de todos,”diz.
João é casado, gay e disse que a decisão por se candidatar veio da vontade de ver concretizada uma sociedade que respeite todas as pessoas. “Desde minha juventude tenho interesse pela política e só agora criei a coragem de poder trabalhar por todos e a causa LGBTQIAPN+ é uma luta que já nasce com a gente. Decidi me candidatar para lutar por uma sociedade mais justa, mais humana e que respeite a diversidade em geral seja de gênero, raça, religião, etc…,” finaliza.
O Brasil de Fato Paraná entrou em contato com as assessorias de comunicação dos partidos e coordenações de campanha solicitando os contatos das candidaturas do segmento LGBTI+.
Fonte: Brasil de Fato