Mais da metade dos trabalhadores com deficiência sobrevive na informalidade
Levantamento da Mapa ESG Brasil demonstra que, no país, pessoas com deficiência ganham, em média, 31% menos em comparação a outros trabalhadores.
Também segundo o mapeamento, quase metade das pessoas com deficiência inseridas no mercado de trabalho é composta por negros, um índice considerado baixo, já que a maior incidência de deficiência está nesse perfil da população (42%).
Ainda, de acordo com o estudo, o Brasil possui 545.940 mil pessoas com deficiência reabilitadas pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) e inseridas no mercado formal de trabalho. Desse total, 93% estão em empresas com mais de 100 empregados, conforme estabelece a Lei n° 8.213.
Mais conhecida como “Lei de Cotas”, o regulamento foi estabelecido em 1991 com o objetivo principal de promover a inclusão social. O marco estipula que as empresas, com base em seu porte, devem reservar de 2% a 5% do total das vagas de emprego para trabalhadores com deficiência.
Segundo a pesquisa, mais da metade dos trabalhadores com deficiência sobrevive na informalidade.
“A palavra deficiência por si só já invoca diversos preconceitos. Deficiência não é sinônimo de ineficiência, atribuir este significado a pessoas com deficiência é sinônimo de capacitismo que nada mais é do que a prática discriminatória que atribui estigmas a pessoa com deficiência com base no seu desempenho e capacidades física e intelectual”, explica Vivian Matsumoto, cientista social e bacharel em Direito.
Preconceitos ainda atrapalham ascensão
Estudo da Catho, iniciativa voltada à divulgação de vagas, com 775 profissionais com deficiência cadastrados na plataforma, identificou que quase metade confirmou já ter sido vítima de discriminação no ambiente de trabalho (49%). Ainda, a maioria dos trabalhadores relatou nunca ter sido promovidos (62%) e parte significativa informou que já pensou em mudar de emprego por não ter perspectiva de desenvolvimento de carreira (20%).
De acordo com a pesquisadora, as discussões sobre a luta anticapacitista precisam avançar em todas as esferas da sociedade. “Falar em inclusão é viabilizar a permanência, a qualidade de vida e de experiência. É assegurar a vivência plena da própria deficiência. Em qualquer ambiente, a inclusão é importante”, diz.
“Garantir que a pessoa com deficiência possa trabalhar, exercer suas funções da melhor forma possível. Isto significa assegurar que a acessibilidade seja para além da questão física como rampas, elevadores. O grande desafio é o olhar emancipatório que permita realmente que essas pessoas possam viver as suas deficiências em todos os espaços, que elas possam existir e ser ver representadas e não apenas ter o interesse de preencher as vagas sem promover, de fato, a inclusão”, ela complementa.
Franciele Rodrigues
Jornalista e cientista social. Atualmente, é doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Estadual de Londrina (UEL). Tem desenvolvido pesquisas sobre gênero, religião e pensamento decolonial. É uma das criadoras do "O que elas pensam?", um podcast sobre política na perspectiva de mulheres.