Um bebê de 6 meses de idade morreu recentemente em Londrina por coqueluche (tosse comprida). Absurdo dos absurdos perder uma preciosa vida assim, em pleno século 21!
E porque será que esta morte por coqueluche aconteceu? Entre as possíveis causas, a principal, sem dúvidas, está no fato de que cresceu em muito o número de crianças e pessoas não vacinadas, fato que possibilita maior circulação do vírus e de contaminação das pessoas não imunizadas. Esta criança não estava imunizada.
E porque caiu o número de pessoas vacinadas (cobertura vacinal)? Porque as pessoas parecem estar perdendo a confiança nas vacinas e se mobilizando cada vez menos para para buscá-las. Fato que decorre fundamentalmente do crescimento entre nós de campanhas anti-vacinas, feitas por muitas pessoas em geral bem esclarecidas, entre os quais muitos médicos e profissionais de saúde. Eles até estão se assumindo como um movimento anti-vacina, chamados de “Anti-vax” ou “Antivaxxiners”.
E de onde vem isso? Mais “modernamente” tem expoente num médico britânico, Andrew Wakfield, que publicou na Revista The Lancet, em 1998, um estudo feito por ele que associava a vacina Tríplice Viral (sarampo, caxumba e rubéola) à incidência de autismo.
Este artigo teve uma grande repercussão na época e foi resgatado no período da pandemia de covid pelos “antivaxxiners” e espalhado pelas redes sociais à exaustão, juntamente com vários outros argumentos (alguns até bem idiotas como “virar jacaré”, “implantar chip chinês na cabeça”, “causar AIDS”, etc), acabando por impactar na opinião pública.
Mas em 2001 um novo e mais aprofundado estudo comprovou que os dados do Dr. Wakfield não se sustentavam e que não havia associação entre vacina tríplice e autismo. Para piorar, em 2004 descobriu-se que este médico tinha interesses econômicos contra a vacina que ele atacava, pois além de trabalhar para um advogado que acionava os laboratórios, ele tinha uma empresa que lucraria até mais de US$ 43 milhões/ano se a credibilidade da Tríplice Viral fosse prejudicada (https://www.bbc.com/portuguese/geral-59867755).
Em 2010 o Conselho Médico Geral do Reino Unido cassou o seu registro médico por desonestidade e irresponsabilidade, proibindo-o de exercer medicina naquele país.
Assim vai que esta história de combater as vacinas não é tão moderna assim. Remonta ao século XVIII (ou até um pouco antes) quando foi descoberta a possibilidade de imunizar pessoas de doenças por contaminação e ainda nem se sabia da existência dos micro organismos como vírus e bactérias.
Aconteceu ao médico britânico Edward Jenner (1749-1823) perceber que trabalhadores que contraíram varíola bovina, que não é perigosa para os humanos, pareciam estar imunes à varíola e usou pus de lesões de varíola bovina de uma ordenhadora, chamada Sarah Nelms, e as esfregou em um corte no braço de um menino de oito anos, James Phipps, que não adoeceu e semanas depois foi inoculado com varíola humana e não contraiu a doença, provando haver imunidade.
Bem, se no século XXI nós temos “mentes abertas” que repudiam vacinas, imaginem isso no século XVIII…
Aí já é história para o próximo artigo, no mês que vem. Aguardem.
Texto: Gilberto Martin, médico sanitarista.