Em 2020, apenas 37 mulheres foram eleitas prefeitas no Paraná
De acordo com dados do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), nas eleições municipais de 2024, o Paraná registrou quase mil candidatas a menos do que no último pleito.
Em 2020, foram 12.475 candidaturas lideradas por mulheres no estado. Já neste ano, o número baixou para 11.498 candidatas. No total, são 977 mulheres a menos.
De maneira geral, o Paraná contabilizou menos candidatos às prefeituras e câmeras municipais. Em 2020, o estado teve 24.568 candidaturas masculinas. Agora, em 2024, são 22.445 homens que concorrem às eleições.
Pelas duas eleições seguidas, isto é, em 2020 e 2024, mulheres representam 34% das candidaturas no estado, embora, elas sejam a maior parte do eleitorado, com 52%, segundo informações do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Em todo país, das 456.310 candidaturas registradas, 155 mil são de mulheres e 301.310 são de homens. Das candidaturas, 2.381 irão disputar o cargo de prefeita e outras 152.939 para vereadora.
O único cargo que teve crescimento de candidaturas femininas no Paraná foi para o comando das prefeituras: saltando de 149 em 2020 para 235 em 2024. No entanto, nos últimos 20 anos, dos 399 municípios paranaenses, 287 não elegeram mulheres para o cargo de prefeita (72%).
Em nível nacional, 64% das cidades brasileiras não elegeram mulheres para a prefeitura nas últimas duas décadas. Ou seja, o Paraná está acima da média nacional na falta de representatividade.
Censo das Prefeitas Brasileiras, do Instituto Alziras, mostra que, hoje, 673 prefeitas estão em exercício no país, governando apenas 12% dos municípios, a maioria de pequeno porte.
A advogada Caroline Bezerra Soares, especialista em Direito Eleitoral, chama atenção para as barreiras que afastam mulheres da política. De acordo com ela, é preciso desconstruir a ideia de que as mulheres não possuem interesse na política, pois, na maioria das vezes, a ausência é decorrente de desigualdades que iniciam no espaço privado e adentram a esfera pública.
“É frequente a ideia de que a mulher cabe decisões relativas ao ambiente doméstico. No entanto, se olharmos para as decisões macroestruturais, de organização das cidades, estados, país, a história tem nos mostrado, que elas ficaram a cargo, sobretudo, de homens e, mais especificamente, de homens brancos, de classes mais abastadas. Isso ainda sustenta no estereótipo de que mulheres não teriam habilidade para liderança”, assinala.
“Os estigmas de subserviência, fragilidade, resiliência, de apaziguar conflitos ainda são muitos comuns quando se pensa nos papeis que esperam que as mulheres desempenhem no cotidiano. E se a política é espaço para confronto, é como se elas não tivessem essa capacidade. Mas esta é uma visão misógina que esvazia o protagonismo de mulheres ao longo da história”, acrescenta.
Ainda, segundo Soares, fatores como jornadas duplas de trabalho – dentro e fora de casa – também contribuem para a menor presença de mulheres nas tribunas. Além disso, elas também encontram dificuldades para compor os cargos de liderança nos partidos políticos e obter apoio interno.
“Na maioria das vezes, elas costumam ficar na base da hierarquia partidária e têm muita dificuldade em ascender aos espaços de tomada de decisão dentro das legendas”, observa.
Mapeamento do Metrópoles identificou que, reta final da campanha, aproximadamente 61,7% das candidaturas femininas não receberam, até o momento, recursos do Fundo Especial de Financiamento de Campanha ou do Fundo Partidário. As verbas, vale lembrar, são geridas e dirigidas às campanhas pelos próprios partidos. Nas eleições municipais de 2024, o Fundo Eleitoral conta com aproximadamente R$ 5 bilhões.
Desde 1997, a Lei nº 9.504, exige que partidos assegurem o mínimo de 30% e o máximo de 70% de candidaturas de cada sexo. Em maio último, o TSE aprovou a Súmula 73, que trata da caracterização de fraudes à cota de gênero. Casos comprovados de fraude podem resultar, inclusive, na cassação dos diplomas dos eleitos.
Confira os percentuais de mulheres por partido político no Paraná divulgados pelo Tribunal Superior Eleitoral:
- AGIR – de 501 candidaturas, 34,33% são femininas
- AVANTE – de 721 candidaturas, 33,98% são femininas
- CIDADANIA – de 637 candidaturas, 35,01% são femininas
- DC – de 354 candidaturas, 33,33% são femininas
- MDB – de 3.051 candidaturas, 33,20% são femininas
- MOBILIZA – de 158 candidaturas, 29,75% são femininas
- NOVO – de 715 candidaturas, 33,71% são femininas
- PC do B – de 76 candidaturas, 51,32% são femininas
- PCO – não apresentou nenhuma candidata mulher
- PDT – de 1.414 candidaturas, 33,59% são femininas
- PL – de 3.146 candidaturas, 32,52% são femininas
- PMB – de 554 candidaturas, 33,75% são femininas
- PODE – de 1.872 candidaturas, 33,01% são femininas
- PP – de 3.237 candidaturas, 32,90% são femininas
- PRD – de 1.172 candidaturas, 34,04% são femininas
- PRTB – de 466 candidaturas, 33,05% são femininas
- PSB – de 1.813 candidaturas, 34,03% são femininas
- PSD – de 3.885 candidaturas, 33,49% são femininas
- PSDB – de 1.203 candidaturas, 33,92% são femininas
- PSOL – de 138 candidaturas, 36,23% são femininas
- PSTU – não apresentou nenhuma candidata mulher
- PT – de 2.088 candidaturas, 37,31% são femininas
- PV – de 463 candidaturas, 39,96% são femininas
- REDE – de 208 candidaturas, 35,10% são femininas
- REPUBLICANOS – de 2.069 candidaturas, 34,27% são femininas
- SOLIDARIEDADE – de 1.067 candidaturas, 33,46% são femininas
- UNIÃO – de 2.915 candidaturas, 33,83% são femininas
Franciele Rodrigues
Jornalista e cientista social. Atualmente, é doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Estadual de Londrina (UEL). Tem desenvolvido pesquisas sobre gênero, religião e pensamento decolonial. É uma das criadoras do "O que elas pensam?", um podcast sobre política na perspectiva de mulheres.