Com a imagem abalada após a revelação de acordos firmados com o Ministério Público, deputado deverá comandar a comissão mais importante do Legislativo
Mesmo após ter confessado ao Ministério Público que recebeu propina de um prestador de serviços da Assembleia Legislativa do Paraná (Alep), o deputado Ademar Traiano (PSD) deverá ser o escolhido para presidir a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) a partir de 2025. O nome de Traiano teria sido referendado em uma reunião de líderes no fim da manhã desta quarta-feira (27), após a sessão plenária.
Presidente da Alep por cinco mandatos consecutivos, Traiano teve a imagem desgastada após a revelação que ele e o ex-deputado Plauto Miró (União Brasil) receberam R$ 100 mil cada para renovar o contrato com a TV Icaraí, que prestava serviços para a TV Assembleia. Para evitar o desgaste, a Alep antecipou a eleição para a Mesa Executiva, que seria em fevereiro do ano que vem. O eleito foi Alexandre Curi (PSD), que será presidirá o Legislativo no próximo biênio.
No início do mês, o deputado Luiz Cláudio Romanelli (PSD) declarou ter interesse em presidir a CCJ a partir do próximo ano. Romanelli disse que abriu mão do cargo em 2022, o que abriu espaço para a presidência da Comissão ficar com Tiago Amaral (PSD), eleito prefeito de Londrina em outubro deste ano. Fontes ligadas à Alep e ao Palácio Iguaçu, no entanto, afirmam que a candidatura de Romanelli não é vista com bons olhos pelo governador Ratinho Júnior, já que o deputado tem um posicionamento crítico em relação ao modelo do pedágio adotado no estado.
Romanelli e o líder da oposição na Alep, Requião Filho (PT), teriam participado da reunião nesta quarta-feira, mas não comentaram o resultado do encontro.
Na sessão de terça-feira (26), o deputado Fábio Oliveira (Podemos) fez um discurso contrário à possiblidade de Traiano assumir a presidência da CCJ. Segundo ele, a informação está “nos corredores da Assembleia”. “É pela CCJ que todos os projetos de lei passam e é a única comissão que tem poder deliberativo. Isso significa que quem preside a CCJ em capacidade de barrar projetos de lei”, disse Fábio Oliveira.
“Aquele que confessou a prática de corrupção quer ser o presidente da principal comissão da Assembleia. Isso só irá acontecer se os deputados que compõem a CCJ o elegerem. Colocarmos o deputado na presidência da CCJ é arruinarmos o pouco prestígio que essa Casa de leis tem perante o povo paranaense”, diz Fábio Oliveira, deputado estadual.
Ademar Traiano foi eleito para seu quinto mandato como presidente da Alep em 2023, apesar do entendimento do Supremo Tribunal Federal (STF) de que só pode haver uma reeleição para o mesmo cargo nos Legislativos estaduais. Em 2022, o PDT moveu uma ação contra sua nova candidatura, mas o STF entendeu que ele poderia concorrer a mais um mandato.
Em dezembro do ano passado, foi relevado que Traiano e Plauto Miró receberam R$ 200 mil da TV Icaraí em 2015. Em 2022, eles firmaram acordos de não persecução penal e civil com o Ministério Público do Paraná, devolveram o valor, pagaram multa e não ficaram livres de enfrentar um processo na Justiça. No fim do ano passado, Traiano negou que se tratasse de propina e disse que o valor era uma “doação de campanha”.
Em março deste ano, o Conselho de Ética e Decoro Parlamentar da Alep arquivou uma representação que poderia levar à cassação do mandato de Traiano. Na época, o relator do processo contra o presidente da Alep, deputado Matheus Vermelho (PP), entendeu que o caso não poderia gerar a cassação por ter ocorrido em outro mandato.
Fonte: Jornal Plural