Em dez anos como deputado estadual, Amaral não pautou direitos dos servidores
Durante entrevista coletiva, realizada na manhã desta quinta-feira (19), o prefeito eleito de Londrina, Tiago Amaral (PSD), anunciou que enviará à Câmara de Vereadores, um projeto de lei reivindicando reajuste salarial para secretários e o vice-prefeito, Junior Santos Rosa (PL), a partir de 2025.
Segundo ele, a expectativa é aumentar os salários do secretariado, passando de R$ 14.414,14 para R$ 21.900,00, o que significa um salto de 52%.
Já o salário do vice-prefeito passaria de R$ 9.130,33 para o mesmo valor, R$ 21.900,00, o que representa um acréscimo de mais de 12 mil reais. Se aprovado, o aumento será de 140%.
Esta é a primeira medida apresentada por Tiago Amaral e chega antes mesmo do futuro prefeito divulgar quem irá compor a equipe.
Laurito Porto Lira, secretário de Formação do Sindicato dos Bancários e coordenador do Coletivo de Sindicatos de Londrina e Região, chama atenção para o fato de que, durante sua trajetória na ALEP (Assembleia Legislativa do Paraná), Amaral não pautou recomposições salariais ou outros direitos trabalhistas para o funcionalismo estadual.
“Acho estranha a proposta partir de um político que nos espaços que esteve nunca defendeu aumento salarial dos servidores públicos, e agora sua primeira atitude é propor aumento justamente para cargos políticos dentro da Prefeitura”, diz.
Durante os dez anos em que ocupou uma das 51 cadeiras da Casa, Amaral tem integrado a bancada governista.
Para justificar a iniciativa, o prefeito que assume a direção do poder Executivo a partir de 1º de janeiro, disse que os valores estão defasados em comparação a outros municípios paranaenses, a exemplo de Maringá, o que, segundo ele, afasta profissionais qualificados.
“Todo mundo sabe que bons profissionais custam. Bons profissionais que entregam resultados, resolvam problemas. Então, não adianta imaginar que vamos levar Londrina para um novo tempo, que vamos modernizar a cidade e resolver as questões de forma célere da melhor forma possível se não tivermos um secretariado de nível alto de exigência, que é um nível que um salário bem aplicado pode entregar”, sugere.
Laurito evidencia que a medida destoa de promessas de campanha, já que durante a corrida para a Prefeitura, o deputado afirmou que não aumentaria as despesas. A liderança também questiona a competência da equipe a fim de trazer profissionais com experiência e expertise para o quadro da administração municipal.
“Significa que as pessoas do núcleo político que o ajudou a ser eleito está tendo dificuldades de trazer pessoas para a gestão diante da remuneração atual dos secretários e os nomes que eles pensam só viram com aumento das remunerações. E isso é muito ruim diante das promessas que foram feitas quanto ao que ele [Tiago Amaral] propôs para a gestão da cidade dentro de patamares que não traria mais ônus aos cofres da Prefeitura”, avalia.
Por enquanto, Amaral disse que não irá incluir o salário do prefeito no pacote de reajustes. Atualmente, o cargo de prefeito de Londrina recebe R$ 24.347,13.
Conforme cálculos apresentados, os gastos com os novos rendimentos dos secretários e do vice-prefeito representam um aumento de R$ 177 mil mensais.
Apesar do tempo curto – esta quinta terá uma sessão ordinária e a sexta, uma extraordinária -, a avaliação é que é possível pautar a matéria ainda este ano, aprovando sua tramitação em regime de urgência. Amaral conta com o apoio de pelo menos nove vereadores, considerando seis parlamentares, que hoje estão no Legislativo e são filiados a partidos que fizeram parte da sua coligação no último pleito. Outros três do Republicanos deram o aceno após o resultado do primeiro turno.
“Fazer esse debate neste momento de mudança de gestão e num período onde poucos estão acompanhando a Câmara levanta uma suspeita de que eles sabem que isso não é correto e querem esconder isso da população de Londrina, pois sabem que é ruim diante de um discurso histórico desse grupo por austeridade fiscal na gestão pública e de arrocho salarial e retirada de direitos de servidores públicos”, acrescenta Laurito.
Franciele Rodrigues
Jornalista e cientista social. Atualmente, é doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Estadual de Londrina (UEL). Tem desenvolvido pesquisas sobre gênero, religião e pensamento decolonial. É uma das criadoras do "O que elas pensam?", um podcast sobre política na perspectiva de mulheres.